Óbito | Manuel Cardoso, o fotógrafo de Macau

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Óbito | Manuel Cardoso, o fotógrafo de Macau

Óbito | Manuel Cardoso, o fotógrafo de Macau
Por: Leonor Sá Machado
em Destaque,Sociedade
3 Dez 2014
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Um conhecedor apaixonado pela arte
O fotógrafo macaense Manuel Cardoso faleceu no território, esta terça-feira. Devotado à fotografia, foi um profissional com um percurso marcante em Macau, congelando momentos que remetem para o tempo da Administração portuguesa

Manuel Cardoso foi, antes de mais e acima de tudo, um dos fotógrafos mais prolíficos e conhecidos do território. Quem conheceu Manuel Cardoso, sabe que a fotografia era, a par de Macau, da família e dos amigos, uma das suas maiores paixões. Desde 1964 que carregava consigo a máquina fotográfica.
Entre películas, químicas e salas escuras, Manuel Cardoso foi tecendo o seu caminho em direcção a uma carreira sólida na fotografia, tendo entrado para a função pública durante o governo do General Nobre de Carvalho, trabalhado no Centro de Informação e Turismo de Macau e no Gabinete de Comunicação Social (GCS). O fotógrafo era presença assídua no Grande Prémio de Macau. E há mesmo quem diga que vários profissionais internacionais usaram os trabalhos de Cardoso para brilhar.
Hélder Fernando trabalhou durante dois anos de perto com o fotógrafo, assegurando ao HM que este era um “bom amigo”. A sua morte é “uma perda” para a comunidade local. “Manuel Cardoso foi das primeiras pessoas que conheci quando cheguei a Macau, em 1983 e já era conhecido como uma esplêndida pessoa e fotógrafo”, disse o radialista ao HM.
A par do trabalho no GCS, Manuel Cardoso ficou igualmente conhecido por ter participado em vários concursos de fotografia locais e regionais, sendo especialmente aclamado pelas suas fotografias do território, de um tempo que muitos não mais recordam. Entre momentos que fixou do tempo da Administração portuguesa, como dos antigos governadores Almeida e Costa ou Nobre de Carvalho, Cardoso gostava também de retratar o dia-a-dia do território.
manuel cardoso_GLPHoje Macau | Hoje Macau

Isso mesmo recorda a também macaense Rita Santos, que se mostrou igualmente triste pelo falecimento de Manuel Cardoso. “Foi uma perda gigante para a comunidade e para Macau”, disse ao HM.
A secretária-geral do Fórum Macau disse não querer acreditar ao saber da informação, durante a madrugada de ontem. “Foi uma pessoa que registou todos os momentos de Macau e não só as imagens mais alegres, mas também os momentos mais tristes e mesmo da própria especificidade de Macau”, explicou.

Por amor à arte
Numa entrevista dada ao HM em Fevereiro de 2011, Manuel Cardoso referiu que “só é fotógrafo quem tem paixão pela fotografia” e é assim mesmo que colegas e amigos o vêem: um apaixonado por esta arte. O interesse pela fotografia começou em 1964, na Foto Maxim’s, localizada na Rua do Campo. Ali, aprendeu as técnicas principais e a mistura de líquidos, hoje em dia já muito pouco utilizados. Foi dez anos depois que começou a trabalhar com o GCS para, em 1985, lhe ser atribuída pelas mãos do Governo a medalha de Mérito Profissional. Tinha menos de 30 anos quando a condecoração teve lugar.
“Era uma pessoa profundamente conhecedora da técnica da fotografia e estava sempre disponível para os amigos e camaradas de trabalho. Era, como se sabe, um português do Oriente e que conhecia perfeitamente o Ocidente e o Oriente”, acrescenta Hélder Fernando.
Na entrevista dada ao HM em 2011, Manuel Cardoso confessou sentir que, antes da transição, estava a “fazer história”, mas que o mesmo não se passava presentemente. Contrária é a opinião de Rita Santos, que considera que é um dos fotógrafos que melhor captava a especificidade do território. Já Hélder Fernando destaca a dádiva do fotógrafo à cultura macaense. “[Manuel Cardoso] vivia no meio de duas culturas e assumia-as completa e absolutamente e era um macaense que, ao invés de rejeitar, acrescentava à sua raiz as outras culturas.”
Entre visitas oficiais, exposições e infinitos rolos e slides, Manuel Cardoso foi captando corridas automóveis, festivais e eventos turísticos. Mas há quem se lembre do fotógrafo ainda em criança.

Únicos
Francisco Manhão, presidente da Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau (APOMAC), foi vizinho de Manuel Cardoso em criança. Contudo, o percurso dos dois macaenses não acaba por aqui: fizeram “a tropa” juntos e o fotógrafo era sócio da Associação, frequentemente partilhando almoços e convívio com os restantes demais.
“Vivíamos no mesmo bairro, na Coronel Mesquita e já gostava muito de tirar fotografias quando era jovem”, conta Francisco Manhão ao HM. O presidente da APOMAC aproveitou ainda para destacar o profissionalismo e bom trabalho de Manuel Cardoso, lembrando mesmo que há momentos gravados do autor espalhados pelas paredes da Associação. Para Manhão, a notícia da morte do profissional foi “chocante”, até porque ainda há menos de uma semana os dois estiveram à conversa na APOMAC.
“O olhar dele consegue captar Macau num todo”, remata Rita Santos, lembrando o sorriso e a alegria transmitida pelo fotógrafo macaense.
Nascido em Macau, Manuel Cardoso aprendeu a sua arte cedo para não mais largar as lentes, luzes, botões e objectivas que fizeram grande parte da sua vida e do território. Manuel Cardoso deixa agora a comunidade local, sendo certamente recordado pelo trabalho e forma apaixonada como captava a “especificidade” de Macau, que todos dizem tão única.

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