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Fonte: O tesouro que escondemos dos espanhóis
O tesouro que escondemos dos espanhóis
Caiu-me no colo uma história que está mesmo a pedir para ser transformada numa daquelas séries exageradas e tremendas, com tesouros, espadachins e gente escondida numa esquina. É uma autêntica tentação e calhou-me na rifa logo a mim, que sempre quis escrever um folhetim — não um romance, uma novela ou um conto, mas precisamente um folhetim, com mortos, pancada, segredos e amores delirantes. Nunca tive tempo ou desculpa — ou assunto, para dizer a verdade. Até hoje.
Pois é: não consigo resistir em transformar num folhetim aquilo que a Sara me contou este fim-de-semana. Um telefonema fora de horas mudou-lhe a vida toda e acabou à procura duma arca numa ilha perdida na fronteira entre Portugal e Espanha.
Setenta e cinco anos depois, um telefonema
Conto-vos então o que aconteceu: a Sara foi com o Rodrigo a um jantar de fim de ano num hotel de Lisboa. Não era o sítio onde ela queria estar, digo-vos. Preferia a rua ou uma festa mais privada — a dois de preferência. Mas o Rodrigo ouvira falar desta festa lá no escritório e adiantou-se aos colegas, afirmando que era mesmo ali que passaria o ano. A Sara torceu o nariz, mas lá disse que sim.
Naquele jantar, houve ali uns atrasos nos primeiros pratos (eram cinco!) e agora os empregados estavam, sob as ordens militares do chefe de sala, a despachar bifes e bebidas e a retirar a loiça enquanto os convivas ainda levavam o garfo à boca ou, em desespero, a boca ao garfo. A meia-noite estava a menos de uma hora de distância! Toca a despachar, que o fim de ano tinha de ser lá fora, ao pé do rio, acasacados e abraçados, não ali sentados à mesa a encher garfos.
Pois foi enquanto via a sua comida a fugir que a Sara viu o telemóvel a piscar e reparou no número: começava por +34 e ela não estava a perceber o que queria um estrangeiro com ela a poucos minutos do fim do ano.
— Rodrigo, os números +34 são donde?
Ele olhou para o telemóvel dela e encolheu os ombros.
— Não me lembro.
A Sara acabou por atender um pouco desconfiada e ouviu uma voz com carregado sotaque galego:
— Senhora Contreiras?
— Sim, sou eu.
— Não imagina como foi difícil encontrar o seu número…
O Rodrigo olha para a namorada, a tentar perceber a conversa através dos movimentos dos músculos da cara dela.
O que Sara estava a ouvir era isto:
— O meu nome é Manuel Garcia e sou um amigo de infância do seu bisavô João Antunes.
— Sim?
Com voz solene, o homem continuou:
— Senhora Contreiras, há 75 anos que estou à espera deste momento. O seu bisavô fez-me guardar um envelope para entregar ao seu bisneto mais velho, mas só em 2017, quando passassem 75 anos. Disse-me ele que aquilo que tenho para lhe dar é uma herança, uma confissão e um tesouro.
A Sara ficou de boca aberta. Aquilo seria a gozar? Tentou adivinhar a idade pela voz. O engraçadinho teria quantos anos? Cem?
O homem continuou, com voz cansada.
— Há meses que ando a investigar, para tentar perceber quem é o bisneto mais velho dele. Percebi que era a senhora. E, agora que já estamos em 2017, pude finalmente telefonar-lhe.
Ela ficou um pouco calada, apensar. Até que acabou por dizer:
— Bem, ainda não estamos em 2017. Falta pouco, mas ainda estamos em 2016…
Do outro lado da linha, o homem hesitou:
— Não estamos em 2017?…
— Ainda não, faltam uns 40 minutos.
A Sara ouviu um «ah!» e depois silêncio durante uns largos segundos. Até que, um pouco envergonhado, o ohomem explicou:
— Sim, tem toda a razão! Esqueci-me que em Portugal a hora é diferente. Bem, 75 anos a aguentar e mesmo assim ia revelando o segredo antes do tempo… — E riu-se sincero.
— Bem, mas diga-me lá, que segredo é esse?
— Não, não, já agora esperamos. Se não se importa, falamos daqui a pouco. Quero cumprir a promessa. E, para dizer a verdade, quem espera 75 anos também espera mais uns minutos.
E desligou. A Sara ficou a olhar para o telefone. O Rodrigo pedia ansioso que lhe contasse o que tinha sido aquilo, enquanto o empregado deixava uns últimos bifes armados em finos em cima dos pratos.
Ela ficou a olhar para o namorado. Seriam 40 longos minutos, à espera do momento em que podia, por fim, saber que tesouro era aquele que lhe cabia em herança.
O primeiro telefonema do ano
10, 9, 8, 7, 6, 5, 4, 3, 2, 1 — Feliz Ano Novo!
Enquanto uns olhavam para o céu com as caras iluminadas pelo fogo de artifício e outros beijavam a boca cheia de passas de quem estava ao seu lado, a Sara pegou no telefone e marcou o número do velho galego, que atendeu de imediato.
A Sara não lhe deu tempo para dizer nada:
— Agora já estou em 2017!
— Muito bom ano, Senhora Contreiras.
— Bom ano, mas conte-me lá que tesouro é esse.
O homem riu-se.
— Já viu o que eu tive de passar durante 75 anos? É que eu também não sei… O que eu tenho é uma chave e, presumo, um mapa… Pelo menos, parece-me uma chave quando passo os dedos pelo envelope.
— Isto é alguma brincadeira?
— Não é brincadeira nenhuma.
— Quer mesmo convencer-me que me vai dar um mapa do tesouro?
— Juro pelos meus pais que Deus tem que isto é assunto muito sério.
— E quando posso ir ter consigo?
— Se quiser, agora mesmo.
Sara levantou-se e chamou o Rodrigo, tapando o telemóvel: «Anda, vá, temos de ir para o Minho!» «Para o Minho??» «Sim!» Voltando ao telefone, disse, decidida:
— Já estou a caminho.
— Mas também pode ser amanhã de manhã, se quiser.
— Não, não, vou agora. Também não tinha nada de muito interessante para fazer.
Uma auto-estrada vazia na primeira noite do ano
Pois nesta história aparece-me agora este intervalo que não sei como contar. Aventuras não é difícil — mas descrever uma viagem de auto-estrada de Lisboa até Tui? Durante a noite? O que posso eu fazer? Fazer um relatório do conta-quilómetros? Dizer apenas que fizeram a viagem e pronto?
A certa altura, ali por alturas da Estação de Serviço de Aveiras, a Sara virou-se para o Rodrigo:
— Desculpa lá não ficarmos para a festa.
Ele sorriu, encolhendo os ombros:
— Não faz mal, estava desejoso de sair dali para fora.
— Mas nós fomos à festa porque tu querias!
— O que eu queria é que tu me desses uma desculpa para não ir…
Ela riu-se, torcendo o nariz em jeito de brincadeira.
Talvez fosse a adrenalina da viagem imprevista ou do tesouro que os esperava, mas o resto da viagem continuou assim, em boa-disposição. Foram falando do futuro, numa dessas conversas de namorados em que as normais tensões desaparecem durante umas horas e a vida até parece fácil.
Pararam na Estação de Antuã, que só estava aberta dum dos lados. Para tomar um café anti-sono, tiveram de subir até ao passadiço, onde viam a auto-estrada. Normalmente, o efeito é estonteante, pois vêem-se os carros a passar por baixo para um lado e para o outro. Naquela noite, o efeito era outro: parecia que estavam suspensos sobre um país vazio, em que ninguém andava na estrada.
Quando voltaram ao carro, ligaram o rádio e seguiram um pouco em silêncio, à espera que o ar condicionado aquecesse o ar. Na rádio, passavam músicas a galope, certamente programadas no dia anterior por quem estava agora a dançar numa discoteca qualquer.
Foi então que começou uma música que falava de desenhos animados e não sei que mais (Os Azeitonas). Ouviram então um verso que lhes bateu como um estalo: «os tesouros que escondemos dos espanhóis».
— E lá vamos nós a Espanha para ir buscar um tesouro que o teu bisavô escondeu…
Ela sorriu. Sentia uma certa ansiedade no estômago, a subir pelo esófago. Nunca pensou ver-se numa alhada destas: uma aventura mesmo a sério. Isto não é coisa para acontecer na vida real. Só nos folhetins.
O mapa do tesouro
Atravessaram a fronteira calados. A Sara olhou para as placas: España e depois Galicia. Logo a seguir, uma placa anunciava a saída para Tui.
— Tui não se escreve com y? — perguntou o namorado, com uma atenção a estas coisas das línguas que era pouco habitual nele.
— O nome oficial é em galego, assim, com «i»… Olha, e já reparaste na morada do senhor? «Rúa das Monxas.»
— O que tem?
— Não é «Calle»! É «Rúa»!
Mas o interesse dele por essas coisas já se esgotara:
— Onde é que estaciono?
Depois de deixar o carro ainda um pouco longe da tal Rua das Monjas, embrenharam-se no centro histórico da cidade galega. Das bocas saíam vapores do frio que estava. Havia copos de cerveja no chão e grupos dispersos de jovens a conversar em calmarias pós-alcoólicas.
Encontraram, lá pelo meio das ruas de pedra, a porta do escritório do advogado. Tocaram à campainha, que ecoou em toda a rua. Um casal abraçado ali ao lado olhou para eles com cara de assombro: será que aqueles portugueses pensavam que o advogado iria atendê-los às quatro e meia da manhã? E mais assombrados ficaram quando a porta se abriu e o Dr. Garcia apareceu a dizer, lento e feliz no seu corpo de 100 anos:
— Entrem, entrem…
O escritório era uma divisão da casa do advogado. Quando entraram, sentiram um cheiro acolhedor que, por mais anos que viva, não conseguirei descrever. O raio dos cheiros é coisa para deixar qualquer escritor com talento a coçar a cabeça, quanto mais um aprendiz de folhetinista. Vá, ajudem-me: imaginem o melhor cheiro da vossa infância, misturado com um travo a livros, e terão talvez uma ideia do que estou a falar. Ah, e têm de juntar o cheiro do chá que o homem tinha preparado minutos antes, num impressionante cálculo certeiro da duração da viagem dum casal de namorados de Lisboa até Tui.
O galego pegou no livro que tinha deixado aberto no sofá e convidou-os a sentarem-se à frente da secretária. Foi buscar o chá à cozinha, que lhes ofereceu com simpatia genuína.
— Se tivéssemos tempo e não estivéssemos os três cansados, tinha muitas histórias para contar sobre o seu bisavô, Senhora Contreiras! — A Sara sorriu e bebeu um pouco do chá, enquanto o Rodrigo olhava para as paredes forradas de livros.
O homem tossiu um pouco e continuou a falar:
— Há anos que espero por este momento. Sempre me interroguei sobre o que estaria neste sobrescrito — e dá à Sara um envelope antigo, já acastanhado, com um nome escrito num estilo que já não se usa. — Isto foi o seu bisavô que me deu na primeira manhã de 1942. Éramos muito amigos e ele sabia que eu seria o melhor guardião deste segredo. Não sei o que seja. Sei que é uma honra cumprir a promessa que fiz ao meu melhor amigo.
Ficaram os três em silêncio. O velho galego estava emocionado, a limpar umas lágrimas com um lenço de pano.
A Sara passou a mão pelo envelope, tentando sentir os 75 anos que a separavam do momento em que o seu bisavô o fechara. Nunca o tinha conhecido: ele morrera muito antes de ela ter nascido. Olhou em redor, para os livros pesados e solenes que a rodeavam. Olhou para a cara ansiosa do galego e para o namorado, a incentivá-la, com o olhar, a abrir o envelope.
Num gesto menos cuidadoso do que a idade do papel aconselharia, abriu por fim o sobrescrito. Encontrou uma chave e um papel dobrado. Desdobrou-o cuidadosamente e leu:
Ao meu bisneto do futuro: nesta ilha encontrarás uma casa abandonada e, por baixo da lareira, um baú. O baú tem lá dentro a minha maior culpa e o meu maior orgulho. Quero que tu saibas o que é, porque não quero que este segredo morra comigo. Mas — por favor — tens de ir sozinho. No fim, quando conseguires descobrir tudo o que tenho para ter dar, peço-te que contes a minha história.
Por baixo, estava um mapa rabiscado.
O Rodrigo e o advogado já se tinham levantado e espreitavam por cima do ombro dela. A Sara olhou para eles e perguntou ao galego, apontando para o mapa rabiscado no papel que tinha na mão:
— Mas onde será isto?
— Isso? Isso é uma ilha aqui muito perto. A Ilha ——.
— Uma ilha? E como chego lá?
— Há sempre uns barcos de madeira encostados à margem. Não posso ir convosco, mas ajudo-vos a encontrar o sítio no Google Maps — e sorriu, enquanto procurava o telefone para abrir a aplicação.
Pouco depois, os dois namorados estavam a atravessar de novo a fronteira e a seguir pela estrada que serpenteava ao lado do Rio Minho, a seguir as instruções da voz robótica do telemóvel. Procuravam o pequeno ancoradouro onde estariam os barcos de madeira de que o Dr. Garcia lhes falara. Lá os encontraram, à espera dum qualquer aventureiro de ocasião…
Um grito que se ouviu em dois países
A Sara — contou-me ela ainda ontem — nunca pensou passar parte da noite da Passagem de Ano a remar nas águas frias dum rio, ali mesmo na fronteira, em busca dum tesouro.
Remavam ao ritmo descompassado do desejo de chegar à ilha, mas também músculos pouco habituados àquelas façanhas.
— Sabes uma coisa, Rodrigo? — perguntou ela, em esforço. — Nunca tinha remado na vida!
Ele não disse nada. Estava com a língua entre os lábios, concentrado no esforço e na margem, cada vez mais próxima, mas ainda tão longe. E estava um frio… Era bom que o tesouro fosse alguma coisa de jeito.
Pouco depois, salpicados e a tremer de frio, o barco embateu da ilha com um estrondo que os assustou. A própria ilha parecia frágil: tinha de aguentar o peso de toda a vegetação. Saltaram do barco, ficando com os pés e as calças molhadas.
Como não podia deixar de ser, a Sara ia tropeçando e teve de se agarrar ao Rodrigo. Ele olhou para ela e sentiram os dois o coração aos saltos. Ficava bem aqui um beijo, não ficava? Mas eles não estavam com paciência para isso: queriam era saber o que guardava o tal baú.
Olharam em volta. Olhando para os lados da ilha, viam luzes da Galiza. Se olhassem para trás, viam Portugal. O silêncio era impressionante — tal como a luz das estrelas, se eles tivessem com tempo para reparar nessas coisas.
— Aqui não há casa nenhuma.
— Esta ilha pertence a que país?
— Não sei bem. Se calhar a nenhum.
Um pouco a medo, avançaram pela vegetação, enterrando os pés na terra molhada e prendendo a roupa nos ramos.
— Cuidado, não tropeces.
Não viam nada. A Sara lembrou-se então das lanternas que tinham nos bolsos: os telemóveis.
Alguns metros mais à frente, ouviram um ruído que parecia duma cobra e agarraram-se um ao outro.
— O que foi isto?
— Não sei — disse ele — mas encontrámos a tal casa.
Fosse isto uma história de encantar, estariam agora perante uma casa com luzes e lá dentro estaria uma senhora a cozinhar que, depois de algumas peripécias, revelar-se-ia uma grande bruxa. Mas, não, aquilo era apenas uma ruína duma pequena construção, talvez um posto da guarda, um refúgio de contrabandistas — fosse o que fosse, já não dava para perceber.
— O velho falou-nos duma lareira, não foi? Achas mesmo que isto tem lareira?
Entraram pela porta que há décadas não estava ali e, na parede do outro lado, viram um buraco que podia passar bem por lareira.
Baixaram-se. Com dificuldade e com as mãos sujas, tiraram a terra lá de dentro. A respiração estava já descontrolada. Nos cabelos tinham folhas dos arbustos por onde tinham passado.
— O que eu não dava por uma pá…
Quando já quase não havia terra dentro da tal lareira, repararam numa tábua um pouco apodrecida. Levantaram-na e viram, espantados, que havia mesmo um baú. Só que ainda tinham de tirar mais umas quatro tábuas antes de o conseguir tirar dali.
E ainda teriam de içar o mono cá para cima.
— Porra, estas coisas nos livros parecem mais fáceis. E sujam menos.
Era um baú pesado, diga-se. Foi preciso muita força para tirá-lo do buraco.
Por fim, tinham o baú à frente. Riram-se do esforço e da emoção enquanto enxugavam o suor, sujando as caras, que pareciam camufladas de tanta terra e tanta folha.
A Sara pôs-se muito séria:
— Rodrigo, sai durante uns minutos. O meu avô escreveu na mensagem que tinha de ser eu a abrir isto. Sozinha.
— Não sejas tonta. Abrimos os dois.
— Vá, faz lá o que te digo…
Ele ficou de boca aberta. Não acreditava que ela não o quisesse ali. O que interessava o que o avô tinha dito há 75 anos?
— Porra, sai lá! Então se o Dr. Garcia esperou 75 anos e cumpriu à risca a vontade do meu bisavô, não posso respeitá-la também? Logo a seguir podes vir cá ver o que é isto.
— Mas pode ser perigoso!
— Vai-me saltar um animal feroz aqui de dentro?
Rodrigo estava impaciente, mas acabou por sair a resmungar — percebeu que ninguém abriria o baú enquanto não fizesse a vontade à rapariga. Ou ao bisavô da rapariga.
Cá fora, sentiu-se a tremer do esforço, do frio e da expectativa. Felizmente não chovia. Ouviu a namorada a pôr a chave na fechadura. Ouvia, como um tambor, o pulsar do seu próprio coração.
Olhou em redor. À esquerda, via uma abertura nas árvores por onde conseguia ver umas luzes. Lá ao fundo, não sabia bem de que lado da fronteira, passaram os dois faróis dum carro. O céu começava a clarear.
A Sara deu um grito tremendo.
A herança macabra
Se calhar devia deixar isto para o segundo episódio, não é? O suspense faz sempre falta e, assim, com um grito nos ouvidos, o leitor quer voltar e saber o que encontrou Sara dentro do baú escondido entre Portugal e a Galiza, naquela primeira madrugada de 2017…
Mas na verdade desconfio que os leitores não têm paciência para esperar — nem eu conseguia guardar o segredo tanto tempo. Vou contar já.
O Rodrigo ouviu o grito, entrou e viu à luz dum sol ainda muito fraco a Sara de cara lívida a apontar para o baú. O que lá estava dentro era isto: um esqueleto.
Ficaram os dois a olhar, agarrados, a dizer asneiras que não posso reproduzir aqui. Vou fingir que o Rodrigo disse apenas:
— Esta agora…
Será que o bisavô dela quis pregar uma partida que demorou quase oito décadas a preparar? Ou será que alguém encontrou o tesouro e deixou ali aquele esqueleto, vá-se lá saber porquê?
O Rodrigo aproximou-se enquanto a Sara apontava a lanterna do telefone para ver melhor o tesouro mais macabro de todos os tempos. Pois a lanterna apontou o feixe de luz à caveira, ali perfeita num riso estranho, e desligou-se logo de seguida, pregando-lhes mais um susto.
Mas não era feitiço: era só a bateria que tinha acabado. Foi com as mãos a tremer que o Rodrigo procurou o botão para ligar a lanterna do seu telefone.
Aproximaram-se do morto:
— Olha, tem uns fiapos de roupa…
O Rodrigo atreveu-se e tocar nos restos de tecido e percebeu que aquilo era um velho uniforme alemão da II Guerra Mundial.
— Mas que raio? O que faz um nazi dentro do baú do meu bisavô?
O Rodrigo estava de boca aberta. Aquela não era a manhã de Ano Novo que eles esperavam.
— Olha, o esqueleto tem qualquer coisa na mão…
E pronto, agora sim tenho de deixar o leitor um pouco pendurado.
Digo só que na mão o homem tinha de facto qualquer coisa. E não consigo resistir a revelar que essa coisa era uma fotografia — e essa fotografia incluía o bisavô da Sara, o morto e ainda um terceiro homem. E, por trás da foto, o bisavô tinha escrito mais um recado para a Sara.
Bolas, acho que não dou para escritor de folhetins. Conto logo tudo no primeiro episódio…
Pois vou ser forte e não vou contar o que estava escrito por trás da fotografia. Digo apenas que falava do tal tesouro que alguém escondera dos espanhóis.
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