o sucesso do 34º colóquio da lusofonia

Nem as mais severas restrições anunciadas na véspera do evento impediram o sucesso do 34º colóquio da lusofonia, e mesmo com o corte do terceiro dia conseguimos realizar um evento presencial. O colóquio começou no dia de Camões e das Comunidades, Ponta Delgada apresta a candidatura a capital europeia da cultura 2027 e esperamos que este 34º colóquio já sirva de aperitivo. É esta a nossa lusofonia que desde 2006 se conjuga com a partilha e divulgação da rica e universal açorianidade literária.

Os colóquios da lusofonia celebram 20 anos em 2021, tendo começado no Porto, empenharam-se em descentralizar e realizaram eventos em cidades, vilas e freguesias: 8 anos em Bragança, 5 na Ribeira Grande, 4 em Belmonte, 3 na Lagoa, 2 em Vila do Porto, em Santa Cruz da Graciosa e em Seia, 1 na Madalena do Pico, Montalegre, Fundão, Brasil, Macau e Galiza e finalmente em Ponta Delgada, pois, o Presidente Bolieiro em 2019 teve a visão, quando liderava o município, de nos convidar a realizar aqui um evento.

Prevíramos 50 oradores e cito uma trintena que a pandemia não permitiu tivessem vindo na data prevista de outubro 2020 e não estão agora connosco neste dia 10 de junho 2021: Álamo Oliveira, Alexandre Banhos, Alexandre Quintanilha, António Callixto, António Dias Figueiredo, Conceição Andrade, Diana Zimbron, Diniz Borges, Eduardo Bettencourt Pinto, Esmeralda Cabral, Francisco Madruga, Helena e Tiago Anacleto-Matias, José António Salcedo, José Carlos Teixeira, Katharine Baker, Luciano Pereira, Luís Filipe Sarmento, Luís Gaivão, Maria de Lourdes Crispim, Maria Helena Ançã, Mendo Henriques, Moisés Lemos Martins, Norberto Ávila, Raul Gaião, Richard Zimler, Santana Castilho, Sérgio Ávila, Susana Antunes, Terry Costa, Victor Rui Dores, Vilca Merízio, Dom Ximenes Belo. Nestes últimos dias, devido a um acidente o amigo e Presidente da Câmara de Belmonte, Dr António Dias da Rocha fraturou um pé e também não pôde estar aqui connosco. Tínhamos concebido um colóquio memorável, como este também será, apesar de termos sido obrigados a reduzi-lo em dimensão e participação, em especial com o anúncio no primeiro dia de que seria reduzido a dois dias. Temos esperança de no próximo ano podermos trazer a maioria destes ausentes a um novo colóquio em Ponta Delgada para se concretizar o originalmente delineado.

Nem nos sonhos mais delirantes imaginei em 2001 ao preparar o 1º colóquio que chegaríamos ao 34º com tantas parcerias e intercâmbios como aqueles que já foram ou vão ser firmados entre Belmonte e os Açores, com as autarquias de Ponta Delgada, Madalena do Pico e Santa Cruz da Graciosa, nomeadamente a inclusão de Ponta Delgada na Rota das Judiarias e daí a presença cá de uma delegação do município de Belmonte que teve vários encontros institucionais e entregou pó do sarcófago dos Cabrais (Gonçalo Velho e Pedro Álvares) em Belmonte à Escola do Mar do Colégio do Castanheiro, numa cerimónia solene cheia de significado.

Havíamos escolhido o prolífico autor ONÉSIMO TEOTÓNIO ALMEIDA para homenagear em 2020 e assim o fizemos agora. No ambicioso projeto da atual Presidente da Câmara, ele preside à Comissão de Honra da candidatura Ponta Delgada | Açores a Capital Europeia da Cultura 2027, na qual humildemente me encontro incluído em representação dos Colóquios. Onésimo não pôde estar presencialmente mas sim por vídeo conferência na homenagem que – anualmente – desde 2008 os colóquios fazem a autores açorianos, como já fizemos a Álamo Oliveira, Caetano Valadão Serpa, Cristóvão De Aguiar, Daniel De Sá, Dias de Melo, Eduardo Bettencourt Pinto, Emanuel Félix, Fernando Aires, Eduíno de Jesus, Judite Jorge, Norberto Ávila, Susana Margarido, Urbano Bettencourt, Victor Rui Dores, Vasco Pereira Da Costa entre outros.

Além do homenageado Onésimo, estiveram neste 34º colóquio o cientista Félix Rodrigues, o escritor e humorista Luís Filipe Borges (esse corisco mal-amanhado), o escritor Aníbal Pires, o incansável José Andrade (atual Diretor Regional das Comunidades), o historiador Sérgio Rezendes, o crítico literário Vamberto Freitas, o decano dos escritores Eduíno de Jesus (que apresentou o seu último livro), Urbano Bettencourt, Maria João Ruivo, Pedro Almeida Maia, Pedro Paulo Câmara, Carolina Cordeiro, Helena Chrystello, Conceição Medeiros, José de Almeida Mello, Rolf Kemmler, dentre uma vintena de oradores a que se juntou ainda a Secretária Regional da Educação, Dra. Sofia Ribeiro, por videoconferência.

Houve duas sessões de poesia de Aníbal Pires e de Chrys Chrystello e sessões de música por Ana Paula Andrade (nossa pianista residente desde 2008) com alunos do Conservatório Regional de Ponta Delgada e com um jovem aluno flautista da Escola de Música de Belmonte (António Costa de 12 anos) além da Viola da Terra com o Trio Origens (Rafael e César Carvalho, Carolina Constância) que nos acompanha desde 2009, tudo transmitido em três plataformas digitais com a projeção de vários vídeos da ilha nos intervalos.

Agradeço a visão do Presidente Bolieiro que em 2019 fruto de diligências iniciadas no seio destes colóquios em 2018, se deslocou à terra de Pedro Álvares Cabral, para a geminação do Museu Judaico de Belmonte e da Sinagoga de Ponta Delgada e tomou contacto com o peculiar ambiente destes colóquios, nos quais apostou para Ponta Delgada 2020 e que a pandemia atrasou um ano.

Agradeço, igualmente, à Presidente Maria José Lemos Duarte e à sua equipa de incansáveis e laboriosos membros (José de Almeida Mello, Luísa Margarida Pimentel, André Borges, Nuno Engrácio e outros com o apoio da equipa de som e imagem composta por Tiago Rosas, Pedro Cimbron e Bruno Duarte), que, apesar de todas as contrariedades pandémicas conseguiram criar condições para a realização deste colóquio presencial (transmitido em linha para todo o mundo) pondo termo a mais de um ano de encontros virtuais nas Tertúlias “Saudades dos Colóquios” ao sábado.

Maria José Duarte assinou um Memorando com a AICL para aqui termos novo evento (o 36º colóquio) em 2022.

O Presidente do Governo Regional dos Açores considerou, em Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, que a Lusofonia é “identidade de ser” e elo de aproximação entre povos e culturas. “Este modo de ser e estar que a Lusofonia representa identifica-nos e aproxima-nos”, considerou o governante.

José Manuel Bolieiro falou na sessão de abertura do 34.º Colóquio da Lusofonia, promovido pela Associação Internacional de Colóquios da Lusofonia (AICL), em Ponta Delgada. O “mundo sem geografia” que é a Lusofonia foi enaltecido pelo Presidente do Governo, que deixou uma saudação a todos os lusófonos, “seja qual for o vocábulo que de forma específica possam utilizar na sua língua”.

O Governo dos Açores, prosseguiu, “estará ao lado” da AICL para “todas as realizações de futuro”, asseverou ainda o Presidente do Governo. Iniciativas como esta “valem pela qualidade que representam” na literatura e também na “identidade lusófona”, até porque “transportam para o presente todo o legado poético” e “inspiram novas gerações a darem valor e a conhecerem aqueles que deram raiz à Açorianidade, Portugalidade e Lusofonia”. José Manuel Bolieiro elogiou ainda a “resiliência” da AICL, presidida por Chrys Chrystello, elogiando ainda a “simbólica data” de arranque do colóquio deste ano e o “inspirador lugar” do mesmo: o Centro de Estudos Natália Correia, na Fajã de Baixo.

Cremos que juntos, podemos fazer a diferença, congregados em torno de uma ideia abstrata e utópica, a união pela mesma Língua. Lembro que os “COLÓQUIOS DA LUSOFONIA”, são um movimento cultural e cívico com o objetivo de promover a Investigação Científica para reforço dos laços entre os lusofalantes – no plano linguístico, cultural, social, económico e político – na defesa, preservação, ensino e divulgação da língua portuguesa e todas as suas variantes, em qualquer país, região ou comunidade. Os valores essenciais da cultura. e literatura açoriana ocupam sempre lugar de destaque em todos os nossos colóquios desde 2006, pois temos sempre uma enorme comitiva de autores açorianos presentes em todos os eventos levando mais longe a riqueza peculiar da sua escrita, de que traduzimos excertos em 15 línguas e deles editamos já 5 volumes em antologias didáticas, estando mais uma prestes a ser lançada ainda em 2021.

A nossa noção de LUSOFONIA abarca os que falam, escrevem e trabalham a língua, independentemente da cor, credo, religião ou nacionalidade. A Lusofonia é uma capela sistina inacabada; é comer vatapá e goiabada, um pastel de bacalhau ou cachupa, regados com a timorense tuaka ao ritmo do samba ou marrabenta; voltar a Goa com Paulo Varela Gomes, andar descalço no Bilene com as Vozes anoitecidas de Mia Couto, ler No país de Tchiloli da Olinda Beja, rever os musseques da Luuanda com Luandino Vieira, curtir a morabeza cabo-verdiana ao som De boca a barlavento de Corsino Fontes, ouvir patuá no Teatro D. Pedro IV na obra de Henrique de Senna-Fernandes e na poesia de Camilo Pessanha; saborear a bebinca timorense em plena Areia Branca ao som das palavras de Francisco Borja da Costa e Fernando Sylvan, atravessar a açoriana Atlântida com mil e um autores telúricos, reencontrar em Salvador da Bahia a ginga africana, os sabores do mufete de especiarias da Amazónia, aprender candomblé e venerar Iemanjá, visitar as igrejas e casas coloridas de Ouro Preto, Olinda, Mariana, Paraty, Diamantina, e sentir algo que não se explica em Malaca, nos burghers do Sri Lanka, em Korlai ou no bairro dos Tugus em Jacarta.