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(Artigo meu publicado, nesta data, no “Tribuna das Ilhas”, da Horta).
OS “VELHOS”, OS “CEGOS”, OS “SURDOS”, O FUTURO E O PORTO DA HORTA!
Há muitas pessoas que sabem que eu tenho enormes reservas ao projecto de construir, dentro da bacia da doca principal do Porto da Horta, um extenso molhe, com quebra mar virado para a doca. Sabem-no porque fui um dos proponentes de uma Petição sobre este tema, dirigida à Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores; sabem-no porque, no âmbito da actividade autárquica da CDU/Faial, levei, em vários momentos, à Assembleia Municipal o debate de Votos e Moções muito críticas sobre esse projecto, que foram todas aprovadas; sabem-no porque apoiei uma Reunião Extraordinária da Assembleia Municipal sobre esse assunto.
A raiz deste problema está no facto da orientação dada à nova doca norte, quase perpendicular à ponta da doca principal, ter criado um sério problema de projecção de forças reflectidas para a bacia da doca principal, especialmente quando temos dias seguidos de mar com vagas de grande período, que geram no cais comercial (doca antiga) uma fortíssima instabilidade e que levam essa instabilidade às marinas norte e sul e a toda a parte sul da bacia da doca. Todos já vimos vídeos de navios porta contentores atracados, mas a mexer tanto, que não podem descarregar ou carregar contentores. Muitos de nós já vimos, ou tivemos notícia, de navios a rebentar espias na doca, por acção dessas forças. Já tivemos notícia de iates de recreio grandes terem saído apressadamente da doca com receio de terem prejuízos se continuassem atracados.
O reordenamento da doca principal precisa de ser feito, mas não pode ser feito à custa da diminuição da operacionalidade de todo o espaço. O actual projecto de meter dentro da doca, outra doca, para acabar com a agitação nas marinas e na zona de pesca, ignora o efeito que mais esse obstáculo terá em grande parte da doca comercial e ignora, porque nem foi estudado, o efeito ambiental na água de uma extensa zona que passaria a dispor apenas de uma entrada de 50 metros. Os dois projectos anteriores foram recusados e este, do mesmo projectista, estará a ser estudado, mas não se sabe com que dados, uma vez que as bóias do projecto CLIMAT da UA, que iriam ser postas para obterem dados actuais, nunca foram vistas.
Anda agora por aí um “falador institucional” que chamou, aos muitos que têm esta posição e estas preocupações, “velhos do Restelo”! É evidente que estes “velhos” podem apelidar como “cegos” esses que dizem que não há problema nenhum, quando vários deles são confrontados todos os dias com esses mesmos problemas; podíamos apelidar como “surdos” esses outros que defendem que, bom ou mau, este projecto tem que ser executado, “porque é preciso entrar dinheiro nesta economia”. Eu, a generalidade dos subscritores da Petição e muitos outros cidadãos, preferimos não esquecer, nem um minuto, que outras e ainda mais gravosas asneiras feitas no interior do nosso porto artificial, pode levar à sua liquidação como porto de fundamental importância para a Região em várias áreas e especialmente na área da náutica internacional de recreio, que o escolhe massivamente como porto de escala na travessia. Esta obra não pode comprometer o futuro!
As obras em terra devem avançar, as obras nos equipamentos flutuantes das marinas devem avançar, as obras no espelho de água não podem avançar, sem que se perceba como é que se pode neutralizar ou diminuir a nova instabilidade na doca sul que surgiu só depois de ter sido construída a doca norte, com esta absurda orientação, tão absurda que até parece que foi de propósito!
O espaço que me está atribuído não permite que desenvolva aqui muitos argumentos, mas recomendo aos interessados que leiam o texto da Petição e as Moções e Votos aprovados pela Assembleia Municipal.
Horta, 8 de Março de 2021
José Decq Mota
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