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Bom dia, amigos.
Por vezes tenho por hábito contar aqui pequenas estórias que testemunho.
Esta passou-se ontem de manhã, num comboio Cascais-Lisboa
(já agora o pior material circulante em todo o País, para os que não sabem…).
Na carruagem em que seguia iam quando muito umas 12 pessoas, entre as quais, à minha ilharga, meia dúzia de turistas escandinavos.
O revisor foi-se aproximando, mal-encarado como é da praxe.
Aqui chegados, devo dizer que não nutro particular simpatia pelo pessoal da CP.
Os bilheteiros, por norma, são uns trombudos e uns atrasados mentais que dá dó, e os revisores, mistura de gado barrosão e vaca bravia ribatejana, uns brutos dotados de uma má-educação que só se compreende porque decerto erraram na profissão.
Deviam ter ido para carroceiros.
Ao fundo da carruagem vi o revisor, homem espadaúdo dos seus trinta anos, a empurrar um maltrapilho esquálido na casa dos sessenta.
“Vais sair na próxima! E ai de ti se te apanho outra vez sem bilhete!”, vociferou o animal para quem o quis ouvir.
Confesso que achei curioso o tratamento por tu.
Uma besta a (des)tratar por tu um desgraçado que tinha mais do que idade para ser pai dele.
O comboio parara em Carcavelos.
O maltrapilho, certamente sem eira nem beira (e dito isto ninguém faça juízos de valor, porque aqueles que se julgam num pedestal estão profundamente equivocados…), aproximou-se da porta e fez um compasso de espera, lançando um olhar de súplica ao revisor.
“Posso sair em Oeiras?…”, atreveu-se a perguntar, voz trémula.
O touro deu dois passos em frente, agarrou-o pelos ombros e projectou-o porta fora.
“Não me faltes ao respeito, meu cabrão!”, grunhiu, olhando com indisfarçável satisfação para o desgraçado, que se estatelara ao comprido na estação.
O comboio lá seguiu viagem. Os turistas entreolharam-se, a medo.
Que país era aquele onde tinham aterrado?…
Eu poderia responder-lhes – um país forte contra os fracos e fraco contra os fortes.
Incomodado, pensei em apresentar queixa.
Perguntei-me se serviria para alguma coisa.
A única especialidade que reconheço à CP é a esquisita apetência do seu pessoal para fazer greves sazonais.
Uma boa sexta-feira para todos.
(da página do Facebook de Jorge Alves).
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- Lai DomingosAbout thirty years ago, when I lived in Santo Amaro, I took the train to the center of Lisbon every day.
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- ActiveLuis Almeida PintoLai Domingos, I also lived in Estoril for fourteen years and took these trains every day, first to the Secondary School in São João do Estoril, and then to Cais do Sodré, when I attended the Faculty of Law of the University of Lisbon.
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