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O pior da política é a falta de credibilidade.
PS e PSD têm dado uma imagem muito má na defesa de posições contraditórias, conforme estão no governo ou na oposição.
É penoso assistir, nos últimos tempos, aos desafios lançados pelo PS ao actual governo de coligação, onde pedem tudo, quando no governo defendiam o seu contrário.
Da mesma maneira que é surpreendente ver o PSD a rejeitar propostas que defendiam quando estavam na oposição.
O último exemplo tem a ver com o preço dos combustíveis e a defesa da redução do Imposto sobre os Produtos Petrolíferos (ISP).
O PS até tem razão quando apresenta números factuais, nomeadamente ao sublinhar que o preço da gasolina subiu 29% desde o início de 2021, o gasóleo rodoviário aumentou 42%, o gasóleo agrícola 77% e o gasóleo pescas 113%.
E tem razão quando avança que o actual governo, desde que tomou posse, tem vindo a arrecadar crescentes milhões com o ISP.
O problema é que o PS não tem credibilidade para falar destas e de outras reivindicações, roçando mesmo o exagero populista a proposta para que o ISP seja reduzido ao mínimo, coisa que nem os seus camaradas de Lisboa querem mexer, preferindo baixar o IVA.
Em plena pandemia, quando empresas e cidadãos enfrentavam a crise económica em cima da sanitária, o governo de Vasco Cordeiro não quis baixar o ISP para os valores mais baixos que agora defende e nunca se coibiu de arrecadar os crescentes milhões do imposto, não cumprindo, muitas vezes, o prometido diferencial de 10% dos preços cobrados no Continente.
Chegou ao cúmulo de, em 2018, ter cobrado ilegalmente, no ISP do gasóleo, acima dos 40 cêntimos por litro, nos meses de Janeiro até Outubro, o mesmo acontecendo com a gasolina no primeiro trimestre daquele ano.
Desde que tomou posse, em 2012, os governos de Vasco Cordeiro aumentaram as receitas do ISP de 40 para 60 milhões de euros anuais, sensivelmente o mesmo valor que é hoje arrecadado pelo actual governo.
Tem razão, também, o PSD, ao acusar o PS de, entre 2016 e 2020, o governo do PS ter cobrado, durante 30 meses, o ISP do gasóleo acima do valor previsto na lei, recusando sempre baixar o valor do ISP.
Mas também não tem credibilidade para, agora, defender o contrário, quando na oposição fazia propostas para baixar o referido valor.
O PSD chegou mesmo, em Fevereiro de 2019, a requerer um debate de urgência no parlamento para obrigar o governo do PS a baixar o ISP, coisa que, agora, tem relutância em fazer.
O mais certo é que vai acabar por o fazer, porque a crise assim obriga.
O ISP é uma mina para qualquer governo, sobretudo quando as receitas são escassas e as contas públicas têm uma trajectória de desequilíbrio.
Quando foi preciso baixar impostos, a oposição votou, incompreensivelmente, contra.
Pedir, agora, o melhor dos mundos, quando, lá fora, não se assiste a este exagero, é cavar mais o fosso da credibilidade.
É preciso manter o diferencial dos preços em relação ao Continente, para que o nosso sector produtivo seja competitivo, como também é preciso evitar os exageros eleitoralistas que são tentadores em momentos de crise.
Este governo já devia ter criado uma espécie de gabinete de crise, envolvendo os parceiros sociais, para que não haja tentações de especulação e açambarcamento, ao mesmo tempo que deve ser dada uma atenção muito especial às famílias mais necessitadas neste momento de crise.
Quem é pobre, corre o risco de ficar ainda mais pobre com os cenários sombrios que se avizinham na economia.
Como na vida, a política precisa de bom senso.
Coisa rara por estas paragens.
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SATA NO PIOR – Ao que parece a SATA prepara-se para fechar os seus escritórios junto da enorme comunidade açoriana na costa leste dos EUA, nas cidades de Fall River e New Bedford, sem ainda se conhecer o famigerado e secreto plano de reestruturação.
É outro exagero incompreensível, como se fossem os emigrantes açorianos os culpados pela crise da empresa.
Reduzir os recursos ou fazer um esforço para se melhorarem os objectivos da operação naquelas paragens, que até dá lucro, seria o mais sensato.
O escritório da SATA junto da nossa comunidade da diáspora não é, apenas, um instrumento da empresa.
É, acima de tudo, um símbolo da presença física da Região Autónoma nos EUA, uma espécie de embaixada com muitos anos e História, em que os viajantes açorianos recorrem sempre que surja alguma dificuldade ou dúvida.
Com o encerramento deste escritório, é a Região Autónoma que perde notoriedade e, mais do que isso, perde a confiança e proximidade junto de milhares de açorianos, que ficam sem interlocutor.
Mais um erro crasso que este governo faz que não vê.
(Osvaldo José Vieira Cabral – Diário dos Açores de 23/03/2022)

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