O PERIGO DA PSEUDOCIÊNCIA

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A CAUSA DAS COISAS
Um grupo de quase 3 mil médicos, cientistas e outros especialistas de 44 países lançou nesta segunda-feira, 19 de outubro , o primeiro manifesto mundial contra a pseudociência na saúde. A iniciativa, coordenada por mais de dez instituições de defesa da medicina baseada em evidências e do pensamento crítico e céptico sediadas na Europa, traz um alerta para os perigos da oferta e promoção de tratamentos ditos “alternativos” à medicina convencional – como homeopatia, reiki, iridiologia, biomagnetismo e terapia ortomolecular, entre outros – para os pacientes e pede a revogação de leis e regulamentações que permitem e estimulam a disseminação destas prácticas nos países do continente.
“Sejamos claros: as pseudoterapias matam. E não apenas isso: também são praticadas com impunidade graças às leis europeias que as protegem”, diz o texto, disponível em uma dúzia de línguas, entre elas o português, para depois listar casos de pessoas que morreram na Europa ao serem instadas a tratar infecções com homeopatia no lugar de antibióticos, câncer com vitaminas, ou a largar as terapias convencionais que usavam para doenças como asma ou problemas cardíacos em troca de soluções “alternativas”. “A Diretiva Europeia 2001/83/CE permitiu — e ainda permite — que centenas de milhares de cidadãos e cidadãs europeias sejam enganados diariamente”, denuncia o manifesto. “Importantes lobbies tiveram, assim, a oportunidade de redefinir o que é um medicamento e agora vendem açúcar a pessoas doentes, fazendo-as crer que se podem curar ou melhorar o estado de saúde. Isto resultou em mortes, que continuarão a ocorrer até que a Europa admita uma realidade indiscutível: o conhecimento científico não se pode vergar aos interesses econômicos de uns poucos, muito menos se isso implicar enganar pacientes e violar os seus direitos”.
O documento lembra que a Europa – assim como muitos outros lugares ao redor do mundo, inclusive o Brasil – já enfrenta problemas graves de saúde pública o bastante, do financiamento insuficiente ao excesso de medicalização e o surgimento de bactérias super-resistentes, para também ter que se preocupar com a atuação de “gurus, falsos médicos ou até médicos formados” que afirmam poder curar câncer ou outras doenças por meio de coisas como “manipulação de chakras, da ingestão de açúcar ou da aplicação de ‘frequências quânticas’”.
“A Europa deve não só travar a promoção da homeopatia, como também deve lutar de forma ativa para a erradicação de fraudes de saúde pública envolvidas em mais de 150 pseudoterapias presentes no nosso território. A vida de milhares de cidadãos e cidadãs disso depende”, acrescenta o texto, que cita estudos recentes que apontam que 25,9% dos europeus, ou cerca de uma em cada quatro pessoas no continente, recorreram a pseudoterapias no último ano, “ou seja, 192 milhões de pacientes enganados”.
Ainda de acordo com o manifesto – que tem entre seus signatários Natalia Pasternak, presidente do Instituto Questão de Ciência (IQC), que publica esta Revista Questão de Ciência -, é falsa a noção de que a luta pela eliminação das pseudoterapias atenta contra a liberdade de escolha de tratamento médico pelos pacientes.
“Mentir aos doentes para lhes vender produtos inúteis, que os podem matar, viola seu direito de receber informação verídica sobre a sua saúde”, argumentam os especialistas. “Por isso, embora um cidadão ou cidadã tenha o direito a renunciar um tratamento médico estando corretamente informado, também é certo que ninguém tem o direito de lhe mentir para obter um ganho econômico à custa da sua vida. Só num mundo onde considerássemos que mentir a um doente para lhe extrair dinheiro é ético, é que poderíamos permitir que se continue a vender homeopatia — ou qualquer outra pseudoterapia”.
Mas mais do que a simples substituição de um tratamento eficaz por outro falso ou enganoso, destacam os signatários, esta oferta de soluções “alternativas” também pode atrasar a prescrição e adesão a terapias de fato potencialmente capazes de salvar os pacientes caso fossem adotadas de imediato.
“Para além disso, verifica-se um óbvio atraso na atenção terapêutica dada aos pacientes que, perante os primeiros sintomas de doença, recebem produtos falsos em vez de medicamentos. Muitas vezes, quando chegam à medicina, já é demasiado tarde”, ressaltam no texto.
O manifesto encerra reafirmando que os postulados das pseudoterapias, como a homeopatia, não são compatíveis com o conhecimento científico, de forma que as leis europeias que protegem e amparam esta e outras práticas “são inadmissíveis numa sociedade científico-tecnológica que respeita os direitos dos pacientes a não serem enganados”. E, diante disso, os especialistas cobram uma ação contrária, na forma de “medidas para travar as pseudoterapias porque não são inócuas e dão origem a milhares de afetados”, com a Europa trabalhando “ no sentido de criar leis que ajudem a parar este problema”.
MANIFESTO AGAINST PSEUDOSCIENCES IN HEALTH
EDZARDERNST.COM
MANIFESTO AGAINST PSEUDOSCIENCES IN HEALTH
THE FIRST WORLDWIDE MANIFESTO AGAINST PSEUDOSCIENCE 2750 signatories from 44 countries have signed it [I was number 11] and today is its official launch. I am delighted to present to you the full text