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O misterioso Porto Pim.
Foi com muita surpresa que ontem fiquei a saber que existia nas imediações de Peniche um porto de nome Pim, que desapareceu na sequência dos assoreamentos que ocorreram nos últimos 500 anos.
Sabia da existência da praia de porto pim, no Faial e da importância que esta praia/porto/fabrica teve na industria da caça à baleia açoriana.
Tendo em conta a linha temporal dos acontecimentos, a semelhança de capital cultural entre as populações, assim como a toponímia e geografia, tudo indica que, foi do oeste que partiram os recursos humanos que deram nome à praia de Porto Pim no Faial e contribuíram para a fundação de, pelo menos, a industria da caça à baleia; e que, o misterioso porto pim se situava na ILHA do BALEAL.
“Durante a Baixa Idade Média o sector marítimo que separava Peniche do continente foi certamente sujeito a assoreamento pronunciado, nomeadamente o estuário do Rio de S. Domingos onde se situava o porto de Atouguia da Baleia. Esta povoação e seus termos tinham sido doados por D. Afonso Henriques, em 1158, a Guilherme Descornes, um dos capitães dos cruzados que o haviam auxiliado na tomada de Lisboa em 1147 (e.g., BARROS, 1885, p. 146), tendo obtido foral em 1167, renovado em 1218 (e.g., REIS, 2007). Porém, a Coroa, perante a importância do porto, não prescindia dos seus direitos portuários e, principalmente, dos referentes à pesca das baleias. Mas, para esta actividade, que carece de aturada vigilância do mar, Atouguia não estava situada no melhor local (pois que se situava afastada de mar aberto), sendo mais adequadas as ilhas de Peniche e do Baleal. Há indícios de que foi esta última a escolhida (e daí a seu nome), tendo mesmo aí sido construídas algumas casas para abrigo dos que se dedicavam a tal oficio (e.g., MARQUES et al., 1944/45, Doc.17, p.12). O valor de tais casas não seria despiciendo, pois já no final do século XIII constam no rol da arrecadação do almoxarife do rei D. Afonso III, em que a última verba é: Item a Renda das casas da morada que el Rey mandou fazer en o baleal en que moram os baleeyros que dizem que ualem L libras (BARROS, 1885, p. 233). Assim, o porto de Atouguia, no estuário do São Domingos, era complementado por dois postos avançados, as ilhas do Baleal, pequena e vocacionada para a pesca da baleia, e de Peniche, muito maior e que, portanto, permitia maior diversificação de actividades. Para aferir a importância que a pesca da baleia tinha na altura, refere-se que, em 1370, D. Fernando I fez mercê a Aires Gomes da Silva dos direitos reais da vila de Atouguia, mas, no entanto, preservou para si os referentes às baleias (BARROS, 1922 p.148). Depreende-se, portanto, que a importância do porto de Atouguia era enaltecido pelo comércio de derivados das baleias.
O assoreamento costeiro e estuarino, principalmente o da barra, punha, contudo, em causa o funcionamento do porto. Tal está bem expresso numa carta do rei D. Duarte, de 11 de Junho de 1438, em que se diz que, antes desta situação, vinham ao porto de Atouguia muitos navios carregar vinhos, sal e muitos outros produtos e depois deixaram de vir, dada a impossibilidade de entrarem; por isso, D. João I mandou iniciar o desassoreamento da barra, operação continuada por D. Duarte, o que permitiu que o porto (e o comércio consequente) voltassem a ter grande actividade (Chancelaria de D. Duarte, liv. 1, fl. 157). Tinham-se iniciado, assim, as actividades antrópicas tendentes a contrariar a evolução natural nesta zona de Atouguia – Peniche, as quais se prolongarão até à actualidade. No entanto, se as operações efectuadas permitiram a continuidade do funcionamento do porto, o assoreamento tornava a passagem da barra e o trajecto até Atouguia difíceis, tendo-se afundado vários navios por não terem bom conhecimento dos fundos. Tal levou D. Duarte a determinar, no documento aludido, que aí houvesse, permanentemente, uma barca de pesca e o respectivo arrais e outro homem por ele nomeado, sob condição de, pelo menos um deles, viver na Atouguia, em Peniche ou Porto Pim (um pequeno porto vizinho actualmente desaparecido) que pudesse servir de piloto aos navios nacionais e estrangeiros que demandassem o porto (Chanc. de D. Duarte, liv. 1, fl. 157v).”
PDF | CAPÍTULO IV DE ÍNSULA A PENÍNSULA: O CASO DE PENICHE (PORTUGAL). Available from: https://www.researchgate.net/…/320086266_CAPITULO_IV_DE… [accessed Jul 07 2018].
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