o ministro chinês em timor e os jornalistas

Proibição de perguntas de jornalistas a MNE chinês gera críticas em Timor-Leste
Díli, 01 jun 2022 (Lusa) – O presidente do Conselho de Imprensa de Timor-Leste, Virgílio Guterres, considerou hoje “inaceitável” as limitações à atuação jornalística na cobertura da visita do ministro dos Negócios Estrangeiros chinês ao país, no fim de semana.
“Num Estado democrático como Timor-Leste não poder haver perguntas é inaceitável. Pode haver limites para situações extraordinárias onde não pode haver cobertura, mas dizer explicitamente que não pode haver perguntas está contra os princípios da liberdade de imprensa”, afirmou.
“Em particular porque o MNE chinês vem assinar acordos sobre assuntos de interesse nacional, do interesse da população e, inclusive, apoio aos media timorenses. Não pode haver segredos sobre estes assuntos”, sublinhou.
O Governo chinês exigiu ao Governo timorense que não houvesse qualquer pergunta de jornalistas ao ministro Wang Yi.
“Esta é a informação geral para os media: não estão admitidas declarações aos media, não haverá qualquer declaração ou entrevista. Foi a delegação chinesa que exigiu isso”, confirmou à Lusa Crisogno de Araújo, diretor nacional de Comunicação Social e Promoção do Ministério dos Negócios Estrangeiros e Cooperação timorense.
Detalhes dessa decisão, que vai ser cumprida à risca pelas autoridades timorenses, estão também referidas num dos documentos da agenda detalhada da visita.
Marcos da Costa, diretor para Assuntos da Ásia Sul, Central e Extremo-Oriente, explicou à Lusa que a delegação chinesa justificou a decisão de proibir perguntas dos jornalistas ou de excluir da agenda qualquer momento de declarações com “falta de tempo” e com a “pandemia da covid-19”.
“Não é a visita que manda, mas temos que considerar todas as condições”, disse à Lusa, explicando que “não há qualquer problema em entrevistas com as autoridades timorenses” e que haverá um comunicado conjunto dos dois países.
Os bloqueios chineses ao trabalho dos media têm marcado até agora toda a viagem de Wang Yi pelas nações insulares do Pacífico Sul, com jornalistas a denunciarem casos em que foram fisicamente impedidos até de filmar encontros ou eventos.
Até agora e desde o início da visita de 10 dias a 10 países, refere o jornal The Guardian, “não foi permitido fazer nem uma única pergunta de um jornalista do Pacífico a Wang Yi”.
Lice Movono, jornalista do Fiji, disse que durante a passagem de Wang Yi por aquele país testemunhou “múltiplas tentativas de oficiais chineses limitarem o trabalho e a cobertura dos jornalistas”.
A agenda da visita, a que a Lusa teve acesso, prevê que Wang Yi – que viaja com uma delegação de 24 pessoas, incluindo nove jornalistas e fotógrafos – passe pouco mais de 24 horas em Díli, onde é esperado cerca das 15:30 de sexta-feira, reunindo-se depois bilateralmente com a sua homóloga timorense, Adaljiza Magno.
Ainda na sexta-feira está prevista a cerimónia de assinatura de vários acordos entre os dois países a que se segue uma “reunião de cortesia” com o primeiro-ministro Taur Matan Ruak.
No sábado estão previstos três “encontros de cortesia”, com o Presidente da República, José Ramos-Horta e com os líderes dos dois maiores partidos, Mari Alkatiri (Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin) e Xanana Gusmão (Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT).
Em antecipação da visita o Conselho de Ministros timorense analisou hoje um conjunto de acordos que vão ser assinados por vários ministros e pelo chefe da diplomacia chinesa durante os dois dias de estada em Timor-Leste.
Em concreto, o Conselho de Ministros autorizou o ministro dos Transportes e Comunicações, José Agustinho da Silva, a negociar um Acordo de Serviços Aéreos com o Governo da China e o ministro coordenador dos Assuntos Económicos a assinar um “acordo de cooperação económica”.
“Trata-se de um acordo de compromisso do Governo chinês que dará um apoio a Timor-Leste de 100 milhões de rembimbi [14 milhões de euros] para que possam ser usados em projetos nas áreas de agricultura e saúde”, referiu Marcos da Costa.
“Se os fundos forem utilizados haverá depois acordos específicos em cada caso”, notou.
O Governo deu ainda poder à ministra da Saúde, Odete Maria Freitas Belo, para assinar um acordo na área da Saúde e ao ministro dos Assuntos Parlamentares e Comunicação Social, Francisco Jerónimo poderes para assinar dois acordos, um “com a Administração da Rádio e Televisão Nacional da República Popular da China” e outro referente à “continuação do processo de digitalização” da Rádio e Televisão de Timor-Leste (RTTL) e do processo de instalação da televisão digital terrestre (TDT).
O acordo com a televisão chinesa abrange autorização para a transmissão de programas da China na grelha de programação da RTTL.
Wang não conseguiu obter consenso sobre um acordo multilateral de cooperação económica e no âmbito da segurança durante uma reunião nas Fiji com os homólogos das Ilhas Salomão, Kiribati, Samoa, Fiji, Tonga, Vanuatu, Papua Nova Guiné, Ilhas Cook, Niuê e os Estados Federados de Micronésia.
O acordo multilateral, designado de Visão de Desenvolvimento Conjunto China – Países Insulares do Pacífico, seria um importante pacto geopolítico, e suscitou preocupação na Austrália, Nova Zelândia e Estados Unidos.
No entanto, o governante chinês celebrou diversos acordos bilaterais com os países que visitou.
As aproximações da China ao Pacifico e a Timor-Leste têm causado crescente preocupação entre o corpo diplomático acreditado em Díli, sendo a relação com Pequim uma das perguntas mais colocadas ao novo Presidente da República, José Ramos-Horta.
ASP // PJA
Lusa/Fim
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  • Eduardo Da Costa

    Está visita vai dar dor da cabeça, os chineses estão procurar fazer os ninos nos país onde que ele poderiam ser construir políticos mais fácil.