O LÓBIISTA QUE NOS QUER FAZER DE SONSOS

Pela leitura da resposta do Doutor Filipe Froes (não directamente dirigida a mim; quem sou eu?!) ao meu post de ontem, conclui-se que, para ele, não existe qualquer problema em ter amealhado, desde 2018 até Agosto de 2021, cerca de 212.930 euros em palestras e outras prestações de serviços financiadas pela indústria farmacêutica. Deste pecúlio, um pouco mais de 66 mil foram da Pfizer. Por palestra, os honorários do Doutor Froes andam próximo ou ultrapassam mesmo os 1.000 euros.

O Doutor Filipe Froes considera que a existência da Plataforma da Transparência e Publicidade do Infarmed é, por si só, um sinal da transparência da classe médica, e portanto tudo está bem, e continue-se a dar palestras e a falar da pandemia como se se fosse completamente isento e imparcial, e sem qualquer conflito de interesses.

O Doutor Filipe Froes deve desenganar-se. A Plataforma da Transparência e Publicidade serve exactamente para pessoas como eu, qualquer pessoa, questionar a independência e a credibilidade na argumentação dos médicos do SNS com profusas, constantes e satisfatórias relações comerciais com a indústria farmacêutica.

No caso particular do Doutor Filipe Froes, convenhamos, não detém funções/cargos irrelevantes, pelos seguintes seis motivos:

a) é coordenador da Unidade de Cuidados Intensivos Médico-Cirúrgicos do Hospital Pulido Valente;

b) é consultor da Direção Geral da Saúde;

c) é membro da Task Force para a pandemia causada pelo SARS-CoV-2;

d) é coordenador do Gabinete de Crise da Ordem dos Médicos para a Covid-19;

e) é investigador do Centro de Investigação em Saúde Pública da ENSP-Universidade Nova de Lisboa;

f) and last but not the least, por força dessas funções e conhecimentos, tem tomado muitíssimas posições públicas sobre a pandemia, sobre os seus impactes, sobre as vacinas, sobre tudo (e nem sempre com rigor, sobretudo ao nível do número de internamentos e de UCI); e essas posições não desgostam, pelo contrário, à indústria farmacêutica que o vem solicitando, e prevejo o venha ainda a solicitar mais.

Deter estes cargos e estas posições (grande parte deles remunerados com dinheiros públicos), tem como consequência (e não estranhe) o poder ser escrutinado e questionado. Para quê serviria então a tal Plataforma do Infarmed? Um simples pro forma para arquivo?

Enfim, não está aqui em causa uma questão de legalidade; mas sim uma questão ética: e a ética em Medicina é tudo; é a pedra basilar da Medicina. Mas, pelo que se vê, pela sua reacção, o Dr. Filipe Froes, considera tudo isto normal, e portanto prognostico-lhe anos prósperos em lobby e palestras, eventualmente mesmo com um aumento de honorários.

P.S. Esta situação – e muitas mais que analisarei em breve – deviam servir sobretudo para os jornalistas reflectirem. Mas, enfim, é um desejo que, nas actuais circunstâncias, não deve concretizar-se…