Views: 0
Todos aqueles que sonham com uma universidade sem professores, que o mesmo é dizer, uma universidade sem pensamento, têm na pandemia do Coronavírus a possibilidade de radicalizar esta tese. Porque o Coronavírus pode funcionar como um laboratório, onde sejam testadas estratégias atrevidas de dispensa dos professores, precarizando-os, com contratos a termo, e mesmo uberizando-os.
A plataforma informática tornou-se, hoje, o habitat natural do professor. As aulas, tal qual como as reuniões, quaisquer reuniões de um qualquer Conselho, Pedagógico, Científico, de Gestão, da Escola, do centro de investigação ou do departamento, assim como a participação em júris de provas e concursos académicos, passam a ser integralmente virtuais.
Mas aquilo que ocorre, hoje, por razões de emergência, pode converter-se amanhã no quotidiano normalizado dos professores.
É verdade que há muito as lógicas empresariais e gestionárias, que negam a universidade como casa do pensamento, a tomaram de assalto, impondo-lhe o modelo empresarial do sistema da qualidade (um pedagogismo, sem o rosto dos alunos), assim como a quantofrenia científica, dos artigos em revistas de fator de impacto e das citações como suporte para a reputação académica.
As lógicas empresariais e gestionárias contradizem uma universidade com professores. O seu objetivo é o de uma universidade reorientada para o mercado, o mercado financeiro e o mercado de trabalho, um objetivo para a tornar competitiva em produtos e serviços.
Esta religião que presta culto à empresa e à gestão empresarial traduz um modo de ver o mundo, que passa pelo controle do tempo, e tem no virtual, de produção informática, a possibilidade de uma realização absoluta, um pouco à semelhança da liturgia das horas, de tradição medieval e monástica, que é um modo de rezar, tendo em conta as 24 horas do dia.
É este o sentido da crónica que publico, hoje, no Correio do Minho.