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« (…) A experiência de estar fechado em casa e não poder ir fazer uma compra ou qualquer outra coisa nem sequer é muito estranha. Sente-se um medo em relação ao resto da sociedade poder apontar o dedo, acusar “não é um dos infetados?” É certo que já lá vão quase todos os dias de quarentena, mas o suspeito é sempre olhado como um perigo que pode pôr em causa a saúde pública. Mesmo que as pessoas continuem a andar de autocarro e metro, vão a centros comerciais e lojas, ou a restaurantes e cinemas. Podem fazê-lo porque não são suspeitos e não têm o estigma do vírus…
O estigma torna-se ainda mais real quando um familiar é expulso do trabalho meia hora depois de comunicar que o pai esteve no Correntes e fica a teletrabalhar, e outra pessoa próxima é corrida do local de trabalho, mesmo que não tenha tido contacto direto com o alegado infetado, e que depois de um minicomício também seja posta fora pelos próximos 14 dias. Dois exemplos apenas da histeria.
Não aconselho a ninguém que esconda qualquer sintoma, mas aviso que vai sentir na pele situações que não imaginava serem possíveis em 2020. Que só tínhamos visto, por exemplo, no filme Philadelphia em que Tom Hanks é marginalizado por ter sida e o filme é de 1993.
Vamos a ver como será o regresso…»
[João Céu e Silva, “Diário de Notícias”, 7/03]