o diretor da cultura, triste episódio

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É tradição política nos Açores o governo acolher membros das diversas ilhas na sua composição, seja em cargos estritamente governativos seja nas direções regionais, entidades públicas e afins. A ideia subjacente passa por contentar as diversas estruturas partidárias de ilha e recompensar pela conquista eleitoral determinados quadrantes do partido chamado a formar governo. Uma distribuição que muitas vezes colide com as reais necessidades da região que ao invés de ser servida pelos melhores acaba por ter que acomodar figuras escolhidas por necessidades estratégicas e eleitoralistas. É a melhor forma de formar um governo? Provavelmente não, mas governar nove ilhas, cada uma com as suas idiossincrasias, não é tarefa simples e articular egos, caprichos, vontades legítimas, figuras incontornáveis do partido, não é pera doce. Se a este tradicional cenário de contemplar as “capelinhas” adicionarmos um governo tripartido então a complexidade da coisa aumenta na proporção inversa da potencial qualidade dos convidados a desempenhar funções governativas e conexas. Já não basta garantir a quota por ilha é necessário acordar quotas representativas dos parceiros da coligação – naturalmente, diga-se. O problema é quando alguns dos parceiros não conseguem apresentar mais valias capazes de potenciar a governação ou, pior, impõe figuras que são verdadeiras pedras na engrenagem.
O fresco episódio da exoneração do diretor regional da Cultura é uma dessas complexidades que não se entendem e que poderia ter sido evitada na origem, isto é, convidando para as direções regionais figuras capazes de alto desempenho em articulação com o resto da máquina governativa. Não foi manifestamente o caso. Podem alguns considerar tratar-se de um episódio menor e já encerrado, mas não será assim tão simples. Este triste episódio deixa marcas no governo e coloca a nu algumas questões. Desde logo deixa profundamente fragilizada e desgastada a Secretária Regional da Cultura, Ciência e Transição Digital, mas também deixa desgastado o presidente do governo e revela ainda a qualidade dos quadros indicados para o governo e afins pelo PPM.
Os Açores não são – não podem ser – palco para jogatinas políticas, seja de quem for; os açorianos merecem respeito e a Cultura açoriana não pode ser tratada como filha de um Deus menor.
(Paulo Simões – Açoriano Oriental de 20/03/2022)
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