O Declínio do Império Açoriano

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O Declínio do Império Açoriano

Alguns brutos como as portas. É Irrelevante nestes dias em que o turismo já não educa ninguém. E hoje somos todos turistas de alguma coisa. Para outros os Açores como substitutos psicológicos das antigas colónias.
Com voos baratos para as massas a salvação passará por evitar o bife à regional, licor com corantes ou um cozido das Furnas com sabor a “low cost” ? Talvez sushi. Quinoa é que é. E yoga, se faz favor. E tu ainda bebes leite de vaca? A Kima está falida?
Mas não é o turismo que nos mata. Nem o patético túnel da lagoa do Fogo. Nem as modas. É quem apregoa Autonomia regional e espera pela saliva alheia.
Pouco importa que Vitorino Nemésio não é lido, Antero é quase uma alcatifa e o Mesquita das Flores ainda espera por um barco com farinha.
Fartos então dos turistas, aviões e hotéis ? Sempre com queixas. Se não é uma coisa será outra. Ou as linhas do campo de futebol. Não é cal viva, são touradas na Terceira. Ou o lixo dos navios para a classe média, no Porto de Ponta Delgada.
Comunicados ilegíveis sobre vírus para o povo? E ninguém a falar da miséria. Do atraso.
Até aos anos setenta, por exemplo, a maioria das pessoas dos Açores, para entrar num avião, comprava “roupas novas”. Seria para o exílio e a solenidade da dignidade estava ali. Mas sabiam do atraso.
Em 1975, de calções, criança, no aeroporto de Lisboa, regressava de férias na Grécia(esperávamos o avião para Santa Maria) quando um senhor veio falar com o meu pai. Mas o que me lembro bem é do outro homem que interrompeu a conversa, acidental, entre Liberal e Jaime Gama. Era Mário Soares. ”São emigrantes?” Para Soares, açoriano era sinónimo de emigrante. “Sabia-a toda”.
Anos depois, em casa de Conceição Bettencourt, em São Lourenço, vestido com uns calções que seriam de uma mulher, Mário Soares pediu para ir nadar. E mais nada. Hoje os calções seriam vendidos a colecionadores do regime.
Os eleitores das ilhas não gostam que lhes digam que vivem mal e são governados por gente incompetente. Desleixada.
Uma senhora, em Rabo de Peixe, ao lado de um especialista em pobreza, disse-me que vota em quem lhe pagar as contas. É irresistível. O caminho da felicidade.

Foto: Antero por Columbano busca Google.

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Comments
  • Carmen Mendes Eu nunca consigo concordar com a totalidade daquilo que escreve, mas nunca consigo discordar de si.
  • Nuno Correia Pimentel Difícil discordar desta visão pouco poética, e a pender para um realismo literário, do nosso quotidiano que tem muito pouco de imperial e autonómico.