Views: 0
REAÇÕES EMOTIVAS NÃO AJUDAM
À (RE)DESCOBERTA DA HISTÓRIA
Referi-me há pouco temo neste espaço a manifestações de interesse e louvor de uma bloger brasileira a propósito do meu romance histórico “O Cavaleiro da Ilha do Corvo” cujo enredo é suportado em alguma centenas de fontes documentais de irrefutável certidão científica.
Hoje mesmo fui surpreendido por uma sequela de comentários a pretexto de uma coletânea de imagens de propostas gravuras líticas da paisagem açoriana elencadas pela professora Antonieta Costa, uma das investigadoras que mais persistentemente tem explorado os mais incógnitos locais, esconsos e ignorados, que as ilhas da Macaronésia abrigam.
Vi com surpresa que colegas brasileiros surpreendidos por “destemperadas” reações visando as investigações da professora Antonieta Costa, viera, agora a terreiro suportar o manifestar o evidente interesse das mesmas. É o caso do professor João Lupi, do Núcleo de Estudos Açorianos, da Universidade Federal de Santa Catarina, que foi convidado pela colega referida a conhecer esses monumentos na ilha Terceira. Sublinha ele: ” mesmo não tendo visto evidências de valor arqueológico incontestável, o que a Doutora Antonieta nos mostrou constitui o que o antropólogo Barry Cunliffe classificou, quando as viu, como traços de possível presença humana, que certamente merecem investigação. Barry Cunliffe professor da Universidade de Oxford, não é, como o Dr. João Pedro, especialista em Biodiversidade e em Etologia: é um dos antropólogos e arqueólogos atualmente mais respeitados e considerados em toda a Europa, e autor de livros como “On the Ocean” (2017), onde o arquipélago dos Açores é estudado sob o ponto de vista das correntes marítimas e dos ventos favoráveis à navegação, como passagem de rotas comerciais ao alcance dos navegadores cartagineses; Cunliffe discute a descoberta do pote de moedas de 1749 e as peças de cerâmica de 1983, e mesmo reconhecendo que há dúvidas a respeito dessas descobertas afirma que “there is no inherent reason why they should not be genuine” (p.309). Algo de semelhante diz a respeito dos mapas anteriores ao século XV (p.513) : são mal desenhados e duvidosos, mas deixam ficar a suspeita de que algo se sabia sobre o arquipélago antes das viagens dos portugueses. Essa atitude de expectativa é própria de um cientista, e certamente quem conhece os trabalhos da Professora Antonieta sabe quais são as razões “oficiais” pelas quais os políticos não autorizam a realização de pesquisas arqueológicas – questão que o romance “O Cavaleiro da Ilha do Corvo” expõe com clareza, uma vez que resta à literatura denunciar quando a política impede a ciência.
Respeitosamente
João Lupi
Universidade Federal de Santa Catarina
Brasil
A minha gratidão ao colega professor João Lupi pela pertinência do seu comentário e pela referência ao meu romance/tese sobre a possível precocidade das viagens no Grande Oceano (Atlântico) antes da saga lusa naquelas paragens e cuja hipótese consitui ainda hoje algo como um crime de lesa-pátria por parte dos novos “velhos do Restelo” e dos seus irredutíveis “mares nunca dantes nevegados”…. Como tive ocasião de dizer à denodada colega Antoniets Costa, “os cemitérios estão cheios de certezas”…. hoje desmentidos.
Imagem : conjunto de nove moedas cartaginesas dedicadas à deusa Tanit e com referências à fundação de Cartago achadas na ilha do Corvo no século XVIII e estudadas pelo reconhecido numismata espanhol padre Flores e datadas de entre os anos 350 e 320 a.C. (Referência Mark McMenamim, The Numismatist. 1996)
All reactions:
1
13 shares
Like
Comment
Share