o caos e a onu parada

Para além do imediatismo, da informação/desinformação, da moral anterior ou recém-descoberta há problemas a resolver.
Não basta proclamar, não basta apontar os bons e os maus, não basta resoluções em que se mistura tudo e se esquece a história e a memória. É preciso pensar no dia de amanhã. O que adianta ter discursos inflamados sem pensar em soluções?
Já temos um Afeganistão devastado, entregue cobardemente ao pior fundamentalismo desde a 2ª guerra mundial, temos uma Síria, uma Líbia, o Iraque (que ainda paga indemnizações), onde não há um estado de direito, mas milícias e máfias (do ópio também) que se digladiam, onde não são respeitados direitos humanos mínimos.
Está também na mão da sociedade civil e da opinião pública fazer tudo para que a Ucrânia não se torne num estado pária.
Creio que haveria soluções, se todos os interessados quisessem colaborar, respeitando a Carta das Nações Unidas e o direito dos povos à autodeterminação, incluindo as minorias, respeitando os direitos dos cidadãos. Poderia constituir-se um estado federal. Há vários por aí, desde os Estados Unidos à Alemanha Federal, mesmo outros que não se chamam assim. Por exemplo, a Confederação Helvética, vulgo Suíça, com cantões autónomos, onde uns falam alemão, outros francês, outros italiano ou romanche, com católicos (que até formam a guarda do Papa), calvinistas e luteranos. Ou a Bélgica, onde apesar de haver diferenças nítidas e acirradas entre flamengos e valões, conseguem conviver sem tiros, desde o final da segunda guerra mundial.
A ONU tem que ter um papel mais interveniente. António Guterres não foi posto lá só para pregar princípios, mas para resolver problemas. Há que continuar os canais diplomáticos que já existem (e nós não sabemos quais e o que se passa). E espero que as televisões não continuem com o mesmo discurso unidimensional, em que se diz que não vale a pena dialogar ( o que é uma posição a favor da continuação da guerra).
A solução não passa por aumentar o número e a qualidade das armas, fornecidas por aqueles que estão à espera que outros sejam carne de canhão. E há que ter em conta que é perigoso rearmar alguns países para o futuro (agora não se mexem), como a Alemanha ou o Japão. Já tivemos experiências demasiado tristes.
Triste também é haver quem incentive civis a pegar em cocktails Molotov contra blindados ou armar gente sem experiência nem enquadramento. Espero que não sejam os vizinhos a pagar por isso, como aconteceu na ex-Jugoslávia, onde houve massacres só por outros não falarem a mesma língua ou terem uma religião diferente.
Vemos constantemente imagens de bombardeamentos, que existem. Mas não tem havido cuidado com a seleção da informação e sobretudo da verificação dos factos. Tanto faz estar lá um jornalista que conhece o terreno, como um repórter que desconhece onde está, como imagens de telemóveis de um qualquer. E faz-se censura proibindo informação de outros lados, como se os espetadores devessem ser infantilizados pelo Grande Irmão.
Avançam-se números. Há dias eram 12000 soldados russos mortos, desmentidos por outros. Hospitais e creches. Na guerra há tudo isso, não há desculpa para quem faz a guerra! Lembremo-nos que na segunda invasão do Iraque (sem mandato das Nações Unidas), diziam-nos que eram ataques cirúrgicos, só víamos uma espécie de relâmpagos em direto e depois mandavam-nos dormir. Na invasão da Líbia víamos uns grupos com umas pick-up, a disparar e a voltar atrás ou em reviravoltas. Hoje sabe-se que no Iraque morreram mais de 500000 pessoas e que na Líbia a maior parte dos combates foram ganhos pela aviação estrangeira.
Toda a gente sabe qual é a estratégia do Kremlin, que há soldados russo mortos, que há civis que perderam vidas e casas. Mas o que é que sabe da estratégia do exército ucraniano, do célebre regimento Azov que há anos massacra populações e forma novos paramilitares sem controlo, dos voluntários que para lá têm ido, de outros que estão armados sem experiência militar? Acertam só nos soldados do exército russo? Não há nenhum avião a embater num prédio, não há nenhum míssil a rebentar noutro lado, não há nenhuma bala perdida? Já agora, só entrevistam pessoas que falam inglês, de preferência, ou ucraniano; ninguém fala russo?
Veremos, e espero que o problema se resolva, o que vai acontecer com os refugiados nos próximos tempos. Não me parece que a Polónia, Hungria, a Moldávia, a Roménia, aguentem muitos meses. Alguns têm experiência de muros eletrificados, cães e polícias para afugentar refugiados, como a Polónia e a Hungria. Estes também sabem o que é não ser desejado noutros países, como no Reino Unido, em que o Brexit ganhou em parte por causa do canalizador polaco, que não queriam, como em França já parece normal ser anti-imigrante. Há outros, como a Itália, que deixa refugiados a afogar-se no Mediterrâneo, perto de Lampedusa e outras ilhas, como em Lesbos na Grécia, ou Melilla em Espanha, ou seja, no Norte de África (há outros que hipocritamente fecham as fonteiras, deixando a Itália, a Espanha, a Sérvia, a Grécia … a resolver a questão). E a situação miserável de Calais, onde houve e ainda há a chamada selva, terra de ninguém, onde as máfias mandam na desgraça e as polícias só servem para reprimir.
E quando a guerra acabar, num país destruído, virão mais, como vinham antes de um país que antes da guerra já tinha uma recessão continuada, virão também os homens que não deixaram sair.
Será que vai haver programas como fez a Fundação Calouste Gulbenkian para que os cursos sejam reconhecidos, mesmo contra espíritos corporativos ou como o do Presidente Jorge Sampaio, com estudantes sírios? Espero que haja mais porque o problema vai durar. Já agora, sendo os Estados Unidos parte interessada porque é que não fazem uma ponte aérea para receber refugiados, com um programa de acolhimento?
Vamos ver no que é dão as sanções. Já temos um aumento dos combustíveis “à pala” das sanções. Não é porque haja menor produção de gás e petróleo, porque ele continua a chegar de todos os lados e também da Rússia e já os EUA andam em conversações com a Venezuela, ainda há pouco boicotada. Há países um pouco calados porque não prescindem do gás da Rússia, principalmente no atual Inverno, mas são muito diligentes a proibir músicos e atletas.
Talvez valesse a pena ver as votações na ONU, para concluir que a situação não é assim tão clara. Trinta e cinco países abstiveram-se, representando mais de metade da população do mundo, alguns com uma importância mundial ou regional, como a União Indiana, a China, a África do Sul… e mesmo de língua oficial portuguesa, como Angola e Moçambique. O que não significa que são a favor de Putin, mas também não estão a favor de outras determinações.
E, a propósito de Putin. Haverá alguns (poucos porque não vão ler textos mais compridos) que me vão dizer: E Putin? A esses até lhes dou umas laranjas do meu quintal ou uns cêntimos para irem de viagem até à Rússia fazer manifestações no mesmo lugar em que o protetor de Putin, o herói Yeltsin, que tantos disseram que era revolucionário e depois bêbado, em cima de um tanque a proclamar a “democracia” ou que em vez de tantas solidariedades de sofá, façam qualquer coisa para integrar os refugiados ou manifestações pela paz ou qualquer coisa para acabar com isto.
Há que resolver os problemas. Cada dia que passa é mais um passo para o caos.
1 share
Like

Comment
Share
0 comments