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O Salazarismo foi uma desgraça para Portugal
Com o passar dos anos, a consciência mais diluída das novas gerações sobre os tempos difíceis que se viveram em Portugal durante décadas no século passado, de braços dados com o interesse dos grupos económicos e financeiros que buscam hoje maior liberdade de movimentos no cenário político português, proporcionam em conjunto o aparecimento de mandaretes que tendem a infiltrar-se no seio da democracia, a questioná-la até se necessário, para restaurar como positivos os valores antigos da ditadura salazarista, em comparação demagógica com os atuais.
E a demagogia começa logo quando dizem que antigamente não havia corrupção nem promiscuidade na política, mas por exemplo em 1958 mais de 42 ministros e ex-ministros e 8 altos funcionários salazaristas ocupavam 116 lugares na administração das principais empresas em Portugal e nas colónias, e a ditadura assegurava o domínio económico do país por 6 grupos (Mello, Champalimaud, Espírito Santo, Borges e Irmão, Banco Português do Atlântico e Banco Nacional Ultramarino).
Dizem que Salazar era honesto, mas ele era profundamente corrupto e corruptor, ele alimentava elites restritas enriquecendo-as à custa do que tirava aos pobres, e eram essas elites, com a ajuda da alta taxa de analfabetismo, da censura do regime e da ignorância popular, que o mantinham à frente do país. Enquanto o povo sofria a fome e a miséria dos tempos da grande guerra, uma corte de gente “fina” e corrupta, à sombra do ditador, dava largas à luxúria, à ostentação e à promiscuidade, e os seus filhos, depois, não tiveram de ir para a guerra colonial onde, só do lado português, perderam a vida 10.000 jovens e 30.000 ficaram feridos, para não falar dos milhares de traumatizados e famílias destroçadas. Enquanto uns ostentavam as suas riquezas e poder, outros, com a quarta classe ou menos do que isso, convidados pelo regime à resignação à pobreza e ao conformismo, eram atirados para as praças de jorna, para o mundo do trabalho desregrado e da exploração até serem chamados para combater nas colónias.
A família tradicional modelada por Salazar e pela hierarquia religiosa não passava de uma farsa onde muitos filhos não sobreviviam, muitos outros sofriam de desnutrição, raquitismo e poliomielite. Mais de metade das casas não tinham água canalizada, luz ou saneamento básico. As mulheres não tinham quaisquer direitos e a violência doméstica era quase uma constante no lar. A violação, a prostituição e a pedofilia eram comuns, envolvendo parentes próximos e até favores prestados a patrões.
A falta de trabalho, a agricultura de subsistência e a guerra colonial fizeram sair do país, desde 1961, um milhão e meio de portugueses.
Os desvios à política oficial da ditadura salazarista, a luta por melhores condições de trabalho e de vida e a oposição ao regime eram punidos com cargas de cavalaria ou de infantaria a sabre e à coronhada, com a prisão política em curros (Aljube), campos de morte (Tarrafal) ou em Caxias ou Peniche, com a tortura e mesmo com o assassínio. Havia cinemas encerrados e livrarias assaltadas pela polícia política. Escritores, jornalistas e outros homens da cultura eram perseguidos e obrigados ao exílio. As universidades foram guardadas por “gorilas”, os informadores da PIDE pululavam no seu seio e os dirigentes associativos estudantis eram perseguidos e presos.
Os Açores e a Madeira não passavam de arquipélagos condenados ao isolamento e ao esquecimento pelo poder central.
Ignorar ou subvalorizar tudo isto pode ser seriamente comprometedor do nosso futuro. Alguns sobreviventes, filhos, netos ou enteados das elites protegidas por Salazar estão por aí, fiados na falta de memória, tentando branquear a história do fascismo português. E têm ambições políticas…