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PÁGINA GLOBAL |
- O banditismo como instrumento da ordem internacional
- Portugal | “Negar racismo é racismo”. 200 manifestantes nos Aliados por Candé
- Portugal | Negociações entre Chega e PSD? “Uma rutura com cultura social-democrata”
- Portugal | Desgraças e cheques em banco
- Portugal | PSD, CDS E CHEGA ALIADOS? CHEGA, É DEMAIS!
- A naturalização do discurso fascista nas relações sociopolíticas das democracias
- O novo velho continente e suas contradições: As monarquias – glamour e decadência
O banditismo como instrumento da ordem internacional Posted: 01 Aug 2020 12:40 PM PDT Acumplicidade entre banditismo puro e a defesa e propagação do «nosso civilizado modo de vida» revela-se através de uma cadeia contínua e interminável de factos e exemplos. José Goulão | AbrilAbril | opinião Elon Musk, dono da Tesla, um dos homens mais ricos do mundo, twittou tranquilamente, como quem anuncia que vai jogar ténis, que «daremos o golpe em quem quisermos». E aconselhou: «lidem com isso». As palavras foram escritas num contexto relacionado com o golpe fascista na Bolívia, que permitiu a Musk desbloquear o livre acesso às maiores reservas de lítio do mundo, essenciais para a parte gorda dos seus negócios, os acumuladores de energia. Musk é idolatrado pela comunicação social corporativa, um «rapaz traquinas», talvez um pouco desbocado mas com dotes de génio para a sua actividade empresarial, tal como magnatas na moda, como Mark Zuckerberg do Facebook, Richard Branson da Virgin, Jeff Bezos da Amazon, Bill Gates e alguns outros – a nata do regime neoliberal globalista, da riqueza blasée cultivada com muita «filantropia» e que, apesar das divergências de «estilo», se revê perfeitamente em Donald Trumpembora prefira apostar os financiamentos em Joe Biden. Repare-se no plural majestático usado pelo dono da Tesla: «daremos o golpe». Ou seja, as mudanças violentas de regimes políticos, a transformação de sistemas democráticos em ditaduras, são obras colectivas, dele próprio e de muitos outros, de um aparelho subversivo às ordens de um sistema institucional representando os grandes interesses que mandam no mundo. O recado fica dado: Musk & Cia dão e darão o golpe onde for preciso se isso for indispensável para os seus negócios, interpretados de maneira abrangente como o «nosso civilizado modo de vida».1 Instauram-se assim ditaduras que passam a ser reconhecidas como fruto da «reposição da democracia», estabelece-se o banditismo golpista como garante da única «democracia» autorizada. O «nosso» carniceiro dos Balcãs Não é novidade que o banditismo é um instrumento que contribui para modelar a ordem internacional permitida, a unipolar; e que alguns seguidores, designadamente ao nível da União Europeia, querem fazer-nos crer multipolar. Não surpreende, portanto, que os exemplos de tal comportamento sejam múltiplos e multifacetados, não se ficando, como é óbvio, pelos golpes de Estado clássicos. Há poucos dias chegaram finalmente à justiça internacional de Haia os ecos de um segredo religiosamente guardado pelo mainstream mas que há mais de uma década é uma verdade banal para quem não consome apenas a comunicação fast food: o «presidente» do Kosovo e ex-«primeiro-ministro» da mesma entidade, Hashim Thaci, é acusado de crimes de guerra entre os quais avultam o assassínio de presos políticos seguido de extracção e comercialização dos seus órgãos internos no mercado negro internacional.2 Há muito que Carla del Ponte, ex-procuradora do Tribunal Internacional para a ex-Jugoslávia, revelara esta realidade macabra. Tal como o investigador britânico Dick Marty, autor em 2011 de um pormenorizado e revelador relatório sobre o mesmo assunto para o Conselho da Europa. Hoje existem elementos mais do que suficientes para estarmos certos de que Hashim Thaci e o seu Exército de Libertação do Kosovo (ELK), de tipo «islâmico», constituem uma associação de malfeitores, uma entidade mafiosa ao serviço dos Estados Unidos e da NATO no processo de terrorismo militar e político que culminou com os bombardeamentos da Sérvia pela Aliança Atlântica em 1999 e a posterior «independência» do Kosovo – ainda não reconhecida no âmbito do direito internacional. Um processo que envolveu a encenação de «massacres» como o de Racak – que serviu de pretexto para os bombardeamentos efectuados pela NATO – e também limpezas étnicas no próprio Kosovo, de que a principal vítima foi e continua a ser a minoria sérvia. A narrativa oficial da NATO, a única veiculada pela comunicação corporativa, explica-nos ainda hoje que tudo foi necessário para extirpar da região o «novo Hitler» e «carniceiro dos Balcãs», Slobodan Milosevic. Daí que o atlantismo tenha recorrido a Hashim Thaci e seus correligionários, traficantes de órgãos humanos, de heroína, de escravos sexuais, a quem foi entregue formalmente a gestão do Kosovo «independente» como protectorado dos Estados Unidos e da NATO. Parafraseando o inconfundível Henry Kissinger poderemos então deduzir que Hashim Thaci foi, também ele, um «carniceiro dos Balcãs», porém «o nosso carniceiro», impoluto defensor dos interesses do «nosso mundo civilizado». Réplicas no Oriente Poder-se-á dizer que uma vez não são vezes, que a frutuosa parceria da NATO com o banditismo nos Balcãs se justificou pelos superiores interesses da humanidade – por exemplo instalar no Kosovo a maior base militar regional dos Estados Unidos, o campo de Bondsteel – e daí não extravasou. Nem os mais ingénuos acreditarão que assim foi. O Tribunal Penal Internacional de Haia está a tentar, a duras penas, reunir dados sobre comportamentos das tropas norte-americanas e da NATO no Afeganistão passíveis de incorrer em crimes de guerra. Os Estados Unidos já reagiram – perante a passividade cúmplice dos «aliados» – ameaçando os dirigentes do tribunal com sanções, vedando-lhes o acesso ao território norte-americano, o que evidencia a pureza de consciência de quem assim procede. Perante isto torna-se muito improvável que a justiça internacional consiga aprofundar, de maneira equilibrada, os comportamentos de todos os campos envolvidos em guerras sem fim como são as do Iraque, da Síria, da Líbia. O caso líbio seria uma importante pedra de toque porque decorre de outra situação de aliança assumida entre uma organização ao serviço «da democracia», a NATO, e o banditismo político-religioso, igualmente representado por grupos de mercenários ditos «islâmicos». Foram estes que, protegidos pelo fogo atlantista que não cuidou de saber de civis – tal como acontecera na Sérvia – foram instaurar a «democracia» em Tripoli. E que belo exemplar de «regime democrático» ali ficou. Não é novidade – por muito escondida que seja – que no Iraque e, sobretudo, na Síria os interesses ocidentais jazem nas mãos do banditismo «islâmico», sob capa de «moderado» mas sob o comando operacional da al-Qaeda e, agora menos, do Estado Islâmico. Existe, aliás, uma marca indelével no território sírio que testemunhará durante muitos anos essa profícua e sangrenta aliança: a gigantesca multinacional francesa Lafarge construiu a maior rede de túneis e subterrâneos desde a Segunda Guerra Mundial para ser usada, desta feita, pelos bandos de mercenários da al-Qaeda. Razão tem Musk em usar o plural majestático a propósito de estas actividades regeneradoras da «democracia». Pirataria de colarinho branco Não se pense, porém, que o banditismo ao serviço da ordem internacional se esgota em golpes de Estado fascistas e em guerras. Os criminosos vestem roupas caras de marca quando se trata de praticar actos de pirataria apresentados como salvaguardas de legitimidades institucionais e constitucionais. O roubo do ouro venezuelano no valor de mil milhões de euros, depositado no Banco de Inglaterra, para ser entregue a um criminoso encartado como Juan Guaidó, como ficou privado na recente tentativa de assalto mercenário contra a Venezuela, é um refinado caso de banditismo de colarinho branco. O governo legítimo de Caracas tentou mobilizar o ouro com a finalidade de comprar alimentos e medicamentos para a população, sujeita às sevícias das sanções internacionais impostas por Estados Unidos e aliados. Sanções são, como é bom de ver, actos de banditismo contra os povos, decididos arbitrariamente para penalizar governos que não cumprem as normas «democráticas» como aquelas que são instauradas, por exemplo, por via de golpes de Estado ou de grotescas usurpações de cargos políticos. Quanto à barbárie das sanções não existe dúvida, porque é confessada pelos próprios autores. William Brownfield, ex-embaixador dos Estados Unidos na Venezuela, aconselha a encará-las como «uma agonia, uma tragédia continuada até ter um desfecho». Além disso, explica Brownfield, devem ser aceleradas «percebendo que terão impacto negativo em milhões de pessoas que já estão com dificuldades em encontrar alimentos e medicamentos». Porém, acrescenta o ex-embaixador, «os fins desejados justificam o severo castigo». Presume-se portanto, através de quem as impõe, que as sanções têm inegáveis fins civilizacionais e «democráticos», mesmo que provoquem a morte de dezenas de milhares de pessoas inocentes. Como disse o almirante norte-americano Kurt Tidd, ex-chefe do Comando Sul dos Estados Unidos ao apresentar o plano «Venezuela Freedom (Liberdade) 2», é preciso «recorrer à matriz através da qual a Venezuela entre numa etapa de crise humanitária por falta de alimentos, água e medicamentos». Arrasar hospitais é «democrático» Tendo em consideração estes exemplos de recurso à criminalidade em nome dos mais puros ideais «democráticos» não surpreende que as tropas israelitas, na sequência de muitos outros actos contra famílias civis, tenham arrasado, em 21 de Julho, o hospital de campanha e o centro de testes de Hebron erguidos por palestinianos para combater o maior foco de COVID-19 nos territórios ocupados. O mesmo acontecera em Março com o hospital de Khirbet Ibziq, igualmente na Cisjordânia. Israel, como atestará qualquer meio de comunicação corporativo e respectivos fact-checkers, é «a única democracia do Médio Oriente». Como se percebe, a cumplicidade entre banditismo puro e a defesa e propagação do «nosso civilizado modo de vida» revela-se através de uma cadeia contínua e interminável de factos e exemplos. Claro que os outros, os incivilizados modos de vida, recorrem naturalmente ao banditismo, por inerência. Por isso, assim como existe o «nosso» carniceiro dos Balcãs também devemos considerar a prática do banditismo com fins considerados legítimos, mesmo que sacrifiquem milhares e milhares de vidas humanas inocentes. Digamos que se trata de seguir uma ética escrita algures nas estrelas e que legitima as práticas e as fortunas dos Musks, as atitudes dos governos de Trumps ou Bidens, as arbitrariedades contra os cidadãos cometidas pelos eurocratas, fardados ou não conforme estejam de serviço na NATO ou na União Europeia – em qualquer dos casos sob tutela de Washington. Pelo que seria assisado e verdadeiramente democrático que as instituições representativas da República Portuguesa se dissociassem de cumplicidades com a «independência do Kosovo» e respectivo «presidente» Thaci, com indivíduos do submundo do crime como Juan Guaidó, com as missões coloniais da Aliança Atlântica, com a imposição de sanções que têm populações inocentes como vítimas principais, com as práticas fascistas e racistas de Israel, com a manutenção de guerras sem fim. Já agora convinha conhecer, finalmente, um parecer de Lisboa sobre o golpe fascista da Bolívia: viria a propósito, porque o regime usurpador acaba de adiar pela terceira vez as prometidas eleições gerais. Ou será pedir muito que se cultive o respeito pela Constituição da República Portuguesa? Exclusivo O Lado Oculto/AbrilAbril Notas: 1.Note-se que a rapina de Musk se aplica aos seus concidadãos: o defensor da «livre iniciativa privada» assenta o seu negócio em maciços apoios do Estado norte-americano, ou seja, dos contribuintes. Ver aqui. 2.Não é o primeiro acusado de crimes de guerra, na cúpula «governamental» kosovar. Em 2017 «o governo francês deteve e colocou em residência vigiada o ex-primeiro ministro dessa invenção da NATO chamada Kosovo, Ramush Haridinaj». Ver «Num pântano fedorento da NATO», em AbrilAbril, a 19 de Janeiro de 2017. Imagem: Elon Musk e Donald Trump: gigantes empresariais são a mola real das acções predadoras da política imperial dos EUA // Evan Vucci / AP |
Portugal | “Negar racismo é racismo”. 200 manifestantes nos Aliados por Candé Posted: 01 Aug 2020 12:22 PM PDT Mais de 200 pessoas concentraram-se hoje na Avenida dos Aliados, no Porto, fazendo um minuto de silêncio em homenagem ao ator Bruno Candé que foi assassinado há uma semana em pleno dia numa avenida de Moscavide, distrito de Lisboa. “Este vai ser um espaço em que nós vamos unir forças porque estamos desgastados, estamos cansados e isto [o assassinato de Bruno Candé] surpreendeu todas as pessoas. Nós vamos tentar unir forças, partilhar aquilo que é a nossa história, as nossas vivências e o nosso ponto de vista relativamente a tudo isto. Vai ser um espaço de cura, porque é isso que nós precisamos”, declarou esta tarde à agência Lusa a organizadora da manifestação em homenagem a Bruno Candé e ativista Navvab Aly Danso, 23 anos, estudante de mestrado de Estudos Africanos na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Bruno Candé, de 39 anos, foi baleado no passado dia 25 de julho por outro homem, de 76 anos, em Moscavide, no concelho de Loures, distrito de Lisboa. Perto das 16h00, iam-se perfilando na Avenida dos Aliados, perto da Câmara Municipal do Porto, várias pessoas, de vários géneros, de várias faixas etárias e de vários tons de pele, especialmente jovens, mas também famílias com os seus filhos ainda de colo ou com carrinhos de bebé. Todos os manifestantes usavam máscaras e colocavam-se em circulo com os cuidados para efetivar o mínimo de distanciamento social recomendado pelas autoridades. “Pelo fim da opressão sistémica”, “O racismo mata. Negar o racismo é racismo”, “Não é só nos EUA. Black lives mater”, “Eu não sou racista, mas…” ou “O Bruno Candé tem três filhos. Vamos construir um Portugal mais justo para eles” eram algumas das frases escritas nos cartazes que os manifestantes pacifistas traziam nas mãos para participar na ação de protesto. A Maria Luís, 19 anos e futura estudante universitária que acabou de entrar Microbiologia na Universidade Católica, explicou à Lusa que decidiu participar nesta manifestação porque “é a coisa certa a fazer”. “Nós temos todos uma parte a lutar pela justiça e eu quero fazer a minha parte e protestar é uma dessas coisas que eu posso fazer”, disse, considerando que em Portugal “há racismo sim senhora” e que “é uma realidade que as pessoas têm vindo a ignorar e cada vez mais está a ser exposta com a ajuda das redes sociais”. Bruno Candé iniciou o seu percurso no grupo de teatro da Casa Pia, ainda na adolescência, tendo posteriormente frequentado o curso de formação teatral do Chapitô, onde chegou em 1995 e participou em vários espetáculos, dirigidos pelo encenador Bruno Schiappa. O suspeito do homicídio vai aguardar julgamento em prisão preventiva. Para o SOS Racismo, o caso da morte de Bruno Candé Marques, cidadão português negro, ter sido “assassinado com quatro tiros à queima roupa em Moscavide é “um crime com motivações de ódio racial”, refere um comunicado divulgado a 25 de julho. Notícias ao Minuto | Lusa |
Portugal | Negociações entre Chega e PSD? “Uma rutura com cultura social-democrata” Posted: 01 Aug 2020 12:14 PM PDT OPS considerou hoje que eventuais negociações entre o PSD e o Chega significariam uma rutura dos sociais-democratas com a sua cultura, acusando Rui Rio de ter uma atitude de “condução política em contramão”. Só uma atitude de “condução política em contramão no percurso da inovação social e económica pode justificar que o PSD esteja hoje já em fase de admitir poder vir a negociar com Chega. O que, a acontecer, significaria uma rutura do PSD com a sua cultura social-democrata”, acusa o secretário-geral adjunto do PS, numa nota divulgada no final de uma visita ao mercado municipal de Leiria e futuro centro de incubação de empresas. “Caso Rui Rio opte pela experiência de condução em contramão corre sério risco de colisão com a sua base eleitoral social-democrata”, acrescenta José Luís Carneiro. Na quinta-feira, o presidente do PSD admitiu conversações com o Chega com vista a entendimentos eleitorais apenas se o partido evoluir “para uma posição mais moderada”, dizendo descartar essa possibilidade se esta força política “continuar numa linha de demagogia e populismo”. “Não depende do PSD, depende do Chega. Se o Chega evoluir de uma tal maneira que – embora seja um partido marcadamente de direita, em muitos casos de extrema-direita, muito longe de nós que estamos ao centro -, se o Chega evoluir para uma posição mais moderada, eu penso que as coisas se podem entender”, afirmou Rui Rio, em entrevista à RTP3. Posteriormente, em comunicado, o líder do Chega, André Ventura, respondeu ao presidente do PSD afirmando que só aceita conversações com os sociais-democratas se Rui Rio fizer oposição “à séria” e deixar de ser “a dama de honor do Governo socialista”. Na nota do PS divulgada hoje, José Luís Carneiro acusa ainda o PSD de ter um “comportamento retrógrado”, que contrasta com a “visão empreendedora” dos socialistas e do Governo, considerando que os sociais-democratas têm chegado “atrasados e a más horas ao encontro com os ventos da História”. Numa alusão às críticas do líder do PSD à estratégia do Governo para o hidrogénio, José Luís Carneiro acrescenta que, num momento em que o Portugal “está na dianteira do grupo dos países que apostam no hidrogénio para efeitos de descarbonização, num projeto essencialmente financiado por fundos comunitários”, os sociais-democratas voltam a chegar “tarde, a más horas e em contramão com o progresso”. No debate do Estado da Nação, em 24 de julho, Rui Rio classificou o investimento na produção de hidrogénio como “projeto extremamente perigoso”, considerando que o país não tem “condições para aventuras nem para ideias megalómanas”. Notícias ao Minuto | Lusa | Imagem: © Global Imagens |
Portugal | Desgraças e cheques em banco Posted: 01 Aug 2020 11:40 AM PDT Manuel Carvalho Da Silva* | Jornal de Notícias | opinião Nunca perderei a esperança de que é possível e vale a pena lutar por um Mundo melhor na certeza de se poderem, sempre, encontrar dimensões novas para a realização do ser humano. Contudo, evidenciam-se hoje demasiadas negações coletivas geradoras de medos. O assassinato a sangue-frio do ator Bruno Candé e os escabrosos comentários justificativos desse ato hediondo mostram-nos racismo inculcado na sociedade portuguesa. Ora, o racismo e outras manifestações de intolerância e violência estão a armadilhar a vivência democrática das sociedades e o alarme tem de disparar quando, poucos dias depois, Rui Rio admite que se o Chega mudar de discurso (lavar a cara) até pode entrar no diálogo para um projeto de Oposição ou governação do país. A desgraça maior é observarmos, simultaneamente: i) o poder desmedido e opaco com que os potentados tecnológicos Amazon, Apple, Facebook e Google se apresentaram ao Senado Americano; ii) a especulação financeira desencadeada pela “corrida às vacinas” contra a covid-19; iii) a invocação do combate à pandemia para se coartarem liberdades; iv) a forma indecorosa como certos países europeus se tornam frugais e credibilizam as casas de receção do roubo que são os offshore; v) a mais que suspeita gestão fraudulenta do Novo Banco, que infelizmente não é uma situação excecional – nem interna nem externa – mas sim o espelho do que se passa com o poder do setor financeiro e o uso subversivo de tecnologias; vi) a brutal queda do PIB (Produto Interno Bruto) e tantas empresas em coma. Cheira forte a um “novo” normal duro e perigoso, carregado de desemprego, de exploração e desigualdades, de pobreza, de profundos problemas sociais. É difícil acreditar na legalidade das transações do Novo Banco quando a principal figura do fundo abutre que comprou as 13 mil casas, terrenos e outros bens imobiliários envolvidos no negócio veio da Lone Star. E o que é a legalidade? Como há muitos anos digo, o roubo “legal” é, nas sociedades atuais, incomensuravelmente maior que o roubo na plena acessão da palavra. Entretanto, quando se constata que negócios deste tipo são “legais”, o problema em vez de se atenuar, agrava-se. Fazem falta regulação e fiscalização sérias, mas os sistemas montados são autênticas fraudes. Como é possível, depois de tantos negócios ruinosos, compadrio e corrupção a marcarem o caminho da Banca, ter acontecido a privatização deste banco e ter sido assinado um contrato que permite ao comprador assaltá-lo por dentro e remeter a fatura das perdas para os bolsos dos portugueses? O que é isto? Talvez uma mistura de cegueira política, imprudência, impunidade e estupidez geradas pela “moderação” que marca o comportamento dos autointitulados cidadãos honrados que gerem os diversos poderes instalados. A 3 de fevereiro de 2017 aAssembleia da República rejeitou, com votos contra do CDS, do PSD e do PS, projetos de resolução do BE e do PCP que se opunham à venda do banco à Lone Star e propunham a sua nacionalização. Muitos dos agora surpreendidos e indignados estão apenas a colher o que semearam. E o presidente da República, ou o primeiro-ministro não podem falar do assunto como se dispusessem apenas da informação do comum dos cidadãos. Não lhes podemos admitir hipocrisia política ou desresponsabilização. * Investigador e professor universitário |
Portugal | PSD, CDS E CHEGA ALIADOS? CHEGA, É DEMAIS! Posted: 01 Aug 2020 11:27 AM PDT Rui Rio, do PSD, abre a porta a um nazi mascarado de democrata, Ventura/Chega, e perspetiva que aceita ombrear com ele na falsa crença, doentia e salazarista, de que Portugal não é racista. Evidentemente que existe muito racismo em Portugal. Existem imensos portugueses racistas que afirmam e até se julgam não racistas, mas o que é certo e constatável é que não são antirracistas. Consideram mesmo que os negros, amarelos, ciganos e de outras etnias e tons de pele devem ficar à parte, “nada de misturas”, dizem. E é essa a sua postura ao longo da vida. E não são racistas? Evidentemente que são. Mas não é só por isso que Portugal é constatavelmente racista, é notório no quotidiano. Dessa opinião, dessa constatação, ao que parece, não comunga Rui Rio, sendo que é natural a um racista não reconhecer publicamente que afinal até é racista, como convém no momento atual a Ventura do Chega. Além disso pode-se colocar a seguinte questão: desde quando um nazi (alguém que descaradamente faz a saudação nazi, ladeado pelos seus sequazes nazis) não é racista, não é xenófobo, não é fascista e não é antidemocrático? Ventura faz parte do avanço organizado do fascismo em Portugal, como se vê também por toda a Europa, por quase todo o mundo. Utiliza a democracia vigente para avançar e atingir posição predominante… Depois, adeus democracia, adeus liberdades, adeus direitos democráticos… Olá ditadura. Se Rui Rio está na disposição de dar as mãos a um nazi-fascista-racista-xenófobo é lá com ele. Mal para o PSD, mal para todos os portugueses que prezam a democracia, a liberdade, os direitos e garantias democráticas consignadas na Constituição da República Portuguesa. Do Expresso, a seguir, deixamos o rol/notícia sobre o tema e sobre a informação de Ventura acerca de “Rui Rio que admitia conversar para futuras pontes”. Fazer pontes com fascistas, com quem publicamente tem garbo em fazer a saudação nazi, tal qual Hitler ou Salazar? Amanhã, domingo (2), se saberá (ou não) sobre a nova postura de Rio e do PSD… E do blá-blá a justificar essa postura de acerto e conluio com Ventura, com o nazi-fascismo, por conseguinte com o racismo, entre outras “particularidades hitlerianas” contidas na ideologia, declarações e práticas do Ventura do Chega. Se o PSD se ficar porVentura, o CDS também vai embarcar no mesmo “embrulho”? Se assim acontecer, a uns e outros, para a democracia chega o momento da clarificação sobre quem é quem. A barricada deverá será erguida com o mais que justificável motivo de defender a democracia, a justiça social, os valores democráticos e conter os seus inimigos. Da Lusa, no Expresso, leia a seguir. Redação PG Rio disse que “não há racismo na sociedade portuguesa” e Ventura convida-o para manif que quer proclamar isso mesmo “Disse o dr. Rui Rio que admitia conversar para futuras pontes. Domingo é o dia para concretizar esses passos” O deputado único do Chega, André Ventura, disse esta sexta-feira que convidou o presidente do PSD, Rui Rio, a participar na “contramanifestação” de direita que convocou para domingo na baixa lisboeta a partir das 17h30. “Disse o dr. Rui Rio que admitia conversar para futuras pontes. Domingo é o dia para concretizar esses passos. Poderemos estar juntos na praça do Município e subir juntos a rua do Ouro, sinal de uma nova e revigorada direita que não se vergará aos interesses do sistema”, lê-se na missiva enviada pelo presidente demissionário do Chega ao líder social-democrata, à qual a Agência Lusa teve acesso. André Ventura conclui o texto antecipando que “o futuro entre o Chega e o PSD pode começar no próximo domingo”. A concentração do Chega está marcada para a Praça do Município, seguindo-se uma “marcha lenta pelas ruas da baixa de Lisboa”, com passagem pela praça da Figueira e “término com intervenções públicas”, novamente no largo fronteiro à Câmara Municipal de Lisboa, a fim de haver “maior interação com os cidadãos”. Esta concentração foi convocada depois do anúncio de várias manifestações antirracistas em Lisboa, Porto, Braga e Beja, homenageando o ator português Bruno Candé, assassinado a tiro no sábado passado, em plena rua de Moscavide. Refira-se que Rui Rio disse recentemente em entrevista à TVI 24 que “não há racismo na sociedade portuguesa” (ver AQUI a partir do minuto 1 do vídeo). Quando André Ventura convocou esta manifestação disse que “sempre que a esquerda sair à rua para dizer que Portugal é um país racista, nós sairemos à rua com o dobro da força para mostrar que Portugal não é racista”. “As ruas são da direita desde o aparecimento do Chega. Entretanto, também esta sexta-feira, o Chega solicitou ao presidente do CDS-PP, Francisco Rodrigues dos Santos, um encontro na próxima semana para “discutir eleições presidenciais” [de janeiro de 2021], segundo fonte da direção. Expresso | Lusa |
A naturalização do discurso fascista nas relações sociopolíticas das democracias Posted: 01 Aug 2020 10:03 AM PDT Marcela Uchôa* | Carta Maior Em “Aspetos do Novo Radicalismo de Direita” – publicado recentemente em português pelas edições 70 com tradução de Marian Toldy e Teresa Toldy – Theodor Adorno problematizou como o ressurgimento do nacional-socialismo na democracia é ainda mais perigoso do que a sobrevivência de tendências fascistas contra a democracia. O pathos do nacionalismo, os truques da propaganda subvertidos em discursos supostamente democráticos que engendram nossas estruturas sociais e políticas em pleno século XXI – fazem-nos refletir se fenómenos históricos se repetem… A preocupação em banir termos e símbolos são importantes, mas não só, o cuidado deve se estender à necessidade de superar as ideias que estruturam esse tipo de ideologia. O nacionalismo – que tem ganhado espaço em debates públicos – sucumbe a forma obtusa como o racismo encontra seu lugar comum nas estruturas sociais que resguardam heranças fascistas. Esse tipo de ordenamento pode ser observado desde a estrutura de algumas instituições públicas até a violência policial como braço do Estado. Mas, as raízes que estruturam o discurso fascista são ainda mais profundas, elas remetem a própria crise do capitalismo e de pouco adianta que tentemos combater o fascismo como expressão formal de um conteúdo de ódio, como é apanágio do discurso liberal, se não combatermos o capitalismo. A alternância entre o bem-estar social e pequenos avanços económicos fazem parte desse processo. São concedidos à uma parcela pequena da população que envolta pela alienação social em vez de lutar pelos seus direitos, fomentam uma competitividade entre a própria classe trabalhadora que fragmentada começa a lutar contra ela mesma, como num processo de autofagia que garante a manutenção do grande capital. É essa a classe trabalhadora que acha que é elite, ou que um dia vai ser. Naturalizam a corrupção, o machismo, o racismo, a xenofobia e se autoflagelam nesse ciclo lancinante em que se autoconsumem, há algumas centenas de anos, em um processo repetitivo e degradante que tem dissipado o nosso próprio sentido de humanidade. Esse processo não seria possível sem a ajuda de partidos, movimentos, que se desenvolvem de forma calculista – com uma estrutura maleável jogam de forma hábil com a inércia e a cumplicidade daqueles que deveriam ser seus opositores. Nessa armadilha os limites democráticos e legais ficam sob a chancela da comunicação social que comummente é gerida e fomentada pelos donos do capital. Para os conformistas é salutar reencontrar Bertold Brecht, quem nos lembra que o fascismo não é uma catástrofe natural. É possível resistir mesmo nas condições mais terríveis, especialmente se compreendermos esses processos como cicatrizes abertas geradas pelo capitalismo, que faz com que agora tenhamos chegado à um momento histórico particular. O surgimento do neoliberalismo e suas condições de regulação tornam o recrudescimento do fascismo muito mais expectável do que noutros períodos históricos do capitalismo. Também essas condições alteram as bases de legitimidade do capitalismo, e ao que parece têm se tornado mais robustas do que nunca… Nesse sentido, quem se diz antifascista, antirracista e não é anticapitalista; não é contra as relações de produção que produzem a barbárie, é apenas contra a barbárie. *Marcela Uchôa é doutoranda em Filosofia Política na Universidade de Coimbra, investigadora no Instituto de Estudos Filosóficos – IEF – UC *Adaptado pela autora a partir de seu artigo publicado em ‘O Público’ Imagem: Ilustração: Lézio Júnior |
O novo velho continente e suas contradições: As monarquias – glamour e decadência Posted: 01 Aug 2020 09:52 AM PDT Existem atualmente doze monarquias na Europa. No princípio do Século XIX, com exceção da França, todos os países europeus eram governados por monarquias. Excluindo as Américas, era também a forma de governo disseminada pelo mundo. Cinquenta anos depois e duas guerras que mudaram a face de todos os continentes, existem menos de 50, das quais dezesseis dirigidas por Elizabeth II da Inglaterra. Uma delas, a do Vaticano, é uma monarquia teocrática Celso Japiassu | Carta Maior A evolução da humanidade não se dá de maneira igual na face do planeta. Tanto que testemunhamos, em qualquer momento da História, a existência de sociedades de civilização contemporânea com outras que ainda vivem na pré-história. Convivem hoje no mundo as experiências interespaciais e da mais avançada ciência com grupamentos que se abrigam nas selvas distantes, bem longe do que se convencionou definir como sociedades civilizadas, que eles desconhecem. Algumas sociedades ainda se encontram na Idade Média. Não surpreende, portanto, a existência em modernos países da Europa de governos que ainda trazem o formato das monarquias geridas por uma classe aristocrática fora do seu tempo. Com hábitos e comportamentos distintos das suas populações e também com a dose periódica de surpreendentes escândalos que pouco se diferenciam dos seus congêneres medievais. Não preciso falar das monarquias absolutas do Médio Oriente com seu rosário de crimes bárbaros pois nosso tema é a Europa. Depois de vários escândalos financeiros, Juan Carlos I, de nome completo Juan Carlos Alfonso Víctor María de Borbón y Borbón-Dos Sicilias, rei de Espanha, viu-se forçado a abdicar em favor do filho, que assumiu com o nome de Felipe VI. A monarquia espanhola, destituída pela república, foi preservada por Franco desde a guerra civil. O velho ditador, que governou ele mesmo como um monarca absoluto, devolveu o trono à família real pouco antes de morrer e passou a chefia de Estado a Juan Carlos. As cinco mil amantes Entre os crimes do rei aparece o de lavagem de dinheiro e recebimento de comissões ilegais pagas pela Arábia Saudita. Seu próprio filho lhe retirou a subvenção que recebia desde que abdicou e também renunciou publicamente de qualquer herança que poderia vir a receber do soberano emérito, que era o título atribuído a Juan Carlos após a abdicação. Gabriel Rufián, deputado da Esquerda Republicana da Catalunha, disse a propósito da família real que “de uma vez por todas é preciso acabar com a opacidade, e estou a ser generoso, em torno de uma família que, simplesmente pelo seu apelido, cobra oito milhões de dinheiro público e, ainda por cima, faz negócios com os sátrapas da Arábia Saudita”. Para a delícia da plebe espanhola, o coronel Amadeo Martinez Inglés, que sempre trabalhou nos serviços secretos, publicou um livro a que deu o título ‘Juan Carlos I. El rey de las cinco mil amantes ‘. Ele afirma que “segundo relatórios confidenciais dos Serviços Secretos do Exército e da Segurança de Estado, que sempre vigiaram muito o rei, quer na sua vida íntima, quer na profissional – tanto na época do franquismo como depois na chamada transição democrática, o número exato de amantes do rei é de facto 4786 e não 5000 contando o tempo entre 1954 e 2014”. Apesar dos escândalos, Juan Carlos cumpriu bem o seu papel de chefe de estado. Foi aberto ao diálogo, à democracia e à Europa. Reprimiu a tentativa de um golpe fascista. Evitou a ocorrência de conflitos violentos em seu país. Até que sobrevieram os escândalos. Os escândalos sexuais vez por outra também assombram a realeza britânica. Há pouco o Príncipe Andrew, filho da Rainha, foi protagonista de um caso que envolvia proxenetas profissionais e prostitutas menores de idade. A realeza da Inglaterra tem uma história de escândalos que povoam o imaginário dos súditos. No século XIX eles eram constantes até a coroação da Rainha Vitória que, junto com o Príncipe Albert, seu marido, constituiu uma família exemplar e recuperou o prestígio da aristocracia inglesa. Seu filho Alberto Eduardo, que reinou depois dela com o nome de Eduardo VII, não se empenhou em honrar o puritanismo da mãe e ficou na história como “o rei libertino”. Na Noruega, descobriu-se que a família Real, que gosta de exibir uma vida austera, é na verdade bilionária e tem mais de 3 bilhões de euros em paraísos fiscais. O rei Carl XVI Gustav da Suécia teve sua vida posta a nu pelos jornalistas Thomas Sjöberg, Tove Meyer e Deanne Raushcher no livro “O Monarca Relutante”e foi revelada a sua vida de constantes infidelidades, visitas a clubes de stritease e de gastar fortunas com prostitutas e participação em grandes orgias. Existem atualmente doze monarquias na Europa. No princípio do Século XIX, com exceção da França, todos os países europeus eram governados por monarquias. Excluindo as Américas, era também a forma de governo disseminada pelo mundo. Cinquenta anos depois e duas guerras que mudaram a face de todos os continentes, existem menos de 50, das quais dezesseis dirigidas por Elizabeth II da Inglaterra. Uma delas, a do Vaticano, é uma monarquia teocrática. Sem contar o Vaticano, onde o monarca é eleito, as outras são monarquias hereditárias e constitucionais, em que o poder do chefe de estado é limitado pela constituição. Em paralelo à fachada de glamour, pompa e tradição, os novos valores adotados pela classe média e a valorização da meritocracia levam à contestação do estilo de vida das monarquias. E também às críticas ao alto custo que representa a manutenção das famílias reais e seus privilégios numa vida ociosa. Embora não haja nos dias atuais nenhuma grande campanha para abolir as monarquias remanescentes nos países da Europa, muitos apostam que se aproxima o fim de todas elas sem necessidade da aplicação da cruel máxima de Diderot: (https://pt.wikipedia.org/wiki/Denis_Diderot): “O homem só será livre quando o último rei for enforcado nas tripas do último padre”. Imagem: ©Família Real britânica |
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