norberto ávila FURNA DO ENXOFRE

Bem a propósito do XXXII Colóquio da Lusofonia, que se realizou no início deste mês em Santa da Cruz da Graciosa, e no qual tive o privilégio de participar, recordo aqui o poema “Furna do Enxofre”, incluído no livro “Percurso de Poeta” (Prémio Natália Correia, 1999).

FURNA DO ENXOFRE

Cem anos haverá que Alberto,
o tão famoso Príncipe de Mónaco,
– inquiridor de oceânicos mistérios – ,
bem seguro por cordas,
foi descendo o abismo,
susto a susto,
até ter pé
no solo aspérrimo
da catedral vulcânica,
até soltar a exclamação do assombro.

Bem mais feliz fui eu,
homem moderno e tanto mais seguro,
descendo passo a passo
a longa escada
em caracol
(uns duzentos degraus, ou pouco menos).

Houve um rio de lava tormentoso.
Há um pequeno lago sossegado.

E lá do alto,
por uma clarabóia,
de natural, espontânea construção,
desprende-de uma luz inebriante,
para bem descrever:
indescritível.

E, agora, a tradução inglesa do poema realizada por Katharine F. Baker (Universidade de Pittsburgh, EUA) e Emanuel Melo (Universidade de Toronto, Canadá):

SULPHUR CAVERN

Many years ago Albert,
the extremely famous Prince of Monaco
– investigator of oceanic mysteries –
tightly secured by ropes,
went rappeling down into the abyss
thud by thud,
until he set foot
on the rugged terrain
of the volcanic cathedral,
and emitted his exclamation of awe.
It went much better for me,
a modern and far safer man,
descending step by step
down the long spiral
staircase
(some two hundred steps, or slightly fewer).
Where once had been a river of twisted lava.
there is now a small placid lake.
And from above,
through a skylight
of natural and spontaneous creation,
an intoxicating light shines,
best described as:
indescribable.

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