natal negro dos refugiados

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Este ano, ofereço-vos este postal desconcertante. Mas é como me sinto. Desconcertada por dentro, porque os sentimentos não se apaziguam com a realidade, como dizia José Gomes Ferreira, “Porque é que este sonho absurdo/a que chamam realidade/ não me obedece como os outros/que trago na cabeça?”.
Queria desejar-vos um Natal muito feliz e com muita esperança, a palavra-chave para estes dias. A chave para encontrarmos a harmonia possível dentro de cada um de nós, nas escolhas que fazemos, nos gestos que decidimos, nas razões que defendemos, nas responsabilidades que assumimos, na tolerância que podemos ter, no perdão que sabemos dar, no altruísmo que podemos oferecer, na fraternidade que nos irmana incondicionalmente nas condições mais adversas, na confiança que podemos esperar no outro. Queria que assim fosse e que vivêssemos este espírito sem que fosse preciso ser Natal, sem que fosse preciso acreditar que existe um Deus que ditou mandamentos. A humanidade é, por si só, um milagre de dádiva, de fé no inexplicável. Somos certamente o sonho de algum Criador ou o resultado de um prodígio da natureza. Seja como for, haverá dignidade no que nos revelamos? Nem a um nem a outro, prestamos contas da gratidão devida.
Em vez disso, somos a contradição viva deste suposto sonho e estabelecemos fronteiras de toda a espécie.
Mas as estrelas continuam a brilhar para todos nós, sem muros ou ridículos arames farpados. Mesmo depois de mortas, o seu brilho permanece e atravessa o universo infinito, lembrando que também nós o podemos ser. Infinitos e eternos no amor.
(Foto retirada do mural de Belinha Viegas)
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