nasceu antero nesta data

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Nasceu, Antero de Quental, a 18 de Abril de 1842 na cidade de Ponta Delgada e na mesma capital da ilha de S. Miguel faleceu a 11 de Setembro de 1891, suicidando-se com dois tiros de revólver, sentado num banco, próximo do muro do convento do Senhor Santo Cristo dos Milagres, acima do qual, gravada, se encontrava, e ainda lá está, uma âncora atravessada pela palavra Esperança.
O simbolismo de tudo isto!
Observe-se, outrossim, que Antero veio ao mundo entre duas revoluções francesas, a de Julho de 1830 e a de Fevereiro de 1848, revoluções essas de repercussão europeia, pois que a primeira apressou a queda das monarquias absolutas, e a segunda contribuiu para o advento e difusão das doutrinas socialistas. Esta circunstância merece ser aqui registada pela influência que ambas vieram exercer depois no espírito de Antero.
Precoces as tendências literárias no Poeta Ilhéu, improvisando na sua meninice, em descantes e festas campesinas, cantigas de sabor popular. Sobretudo é já em Coimbra, quando estava a frequentar a faculdade de Direito, que o Maior Açoriano começa a dar largas à sua imaginação poética, se deixa conduzir pelas “asas da fantasia”, fazendo e publicando em revistas e jornais, poemas ao gosto da época, que era ainda romântica.
De facto as primícias poéticas de Antero acusam a leitura repetida dos bardos de então; sem dúvida, notória é a influência deles nos termos e na estrutura formal dessas suas primeiras poesias.
Depressa, porém, o lírico neoplatonizante da Beatrice se libertou de tal escola literária, ao momento chefiada pelo velho Castilho e seguida, servilmente, pelos seus sequazes, como Pinheiro Chagas e outros.
Entusiasmo pelas as correntes sócio-políticas que nessa altura começavam a triunfar em quase toda a Europa, Antero decide-se a renunciar a todo o seu passado romanesco e tradicionalista destruindo, em grande parte, os poemas que o reflectiam, e torna-se daí por diante arauto da chamada “Poesia nova”. As Odes Modernas (de 1865 mas prontas a entrar no prelo desde 1863) exemplificação eloquentemente a nova posição poética de Antero.
Abrimos aqui um breve parêntesis: mais tarde, em 1872, como rebate de consciência, reunirá o Poeta micaelense em volume os versos que não destruiu, dando-lhe o título de Primaveras Românticas.
E retomemos o fio interrompido…Atraído pelo Socialismo proudhoniano, embora leitor também de Marx, Antero participa activamente em todas as manifestações operárias, desempenhando em muitas delas o papel principal, além de se arvorar em defensor da criação de uma Federação Ibérica e de uma “Força Democrática”, à semelhança da “Aliança” de Bakounine.
Propriamente, no campo das Letras, insurge,-se contra os processos rotineiros de Castilho (a Questão Coimbrã, 1865); e querendo aproximar Portugal da Europa moderna e progressiva, organiza, em Lisboa, com outros seus companheiros, as “Conferências do Casino” (1871), que foram logo suspensas por ordem governamental.
Entretanto vai poetando e filosofando, ao mesmo tempo que escreve artigos políticos e frequenta o Cenáculo…
Esgotado, adoece gravemente; consulta especialista; viaja; tem crises de pessimismo agónico.
Envelhece, enfim, precocemente: era a consequência fatal de um esforço que ultrapassava as suas forças; por outro lado, provinha de tantas e amargas desilusões, a última das quais derivada do “Ultimato Inglês” (11 de Janeiro de 1890), que o arranca da sua Tebaida de Vila do Conde, e onde o Poeta se havia refugiado desde 1881, preparando aí cuidadosamente a edição definitiva dos seus Sonetos (1886) – essa obra prima da Literatura nacional e europeia, pois que poeta algum até ali tinha conseguido com profunda originalidade e beleza formal intelectualizar as suas emoções e expressar emocionalmente os seus pensamentos filosóficos.
Independente do juízo que porventura possamos formular a respeito do conteúdo desses Sonetos, temos que reconhcer que nunca a viz lírica de um poeta se ergueu tão alta e atingiu acento tão puro como em Antero de Quental.
Escreveu Unamuno: ” En España no tenemos nada que se le parezca…Hay sonetos suyos que vivirán cuanto viva la memória de las gentes, porque habrán de ser traducidos, más tarde o más temprano, a todas las lenguas de hombres atormentados por la mirada de la esfinge)”
Sirva de prova este soneto lapidar:
NOCTURNO
Espírito que passas, quando o vento
Adormece no mar e surge a lua,
Filho esquivo da noite que flutua,
Tu só entendes bem o meu tormento…
Como um canto longínquo – triste e lento –
Que voga e subtilmente se insinua,
Sobre o meu coração, que tumultua,
Tu vertes pouco a pouco o esquecimento…
A ti confio o sonho em que me leva
Um instinto de luz rompendo a treva,
Buscando, entre visões, o eterno Bem.
E tu entendes o meu mal sem nome,
A febre de Ideal, que me consome,
Tu só, Génio da Noite, e mais ninguém!
O prosador, por seu turno, escreverá, páginas admiráveis, e tão magistrais como aquelas que se encontram no seu ensaio Tendências Gerais da Filosofia na segunda metade do século XIX; igualmente o critico literário, o polemista e o epistológrafo.
Acima de tudo, salientaremos o homem, eminentemente superior, o homem moral, coerente sempre, mesmo nas suas próprias contradições; em suma, o homem que soube aliar o pensamento à acção, as suas ideias aos seus actos. Assim o afirma um dos seus íntimos, Luís de Magalhães: “Entre o seu pensamento, as suas palavras e a suas obras, houve sempre a conecção da mais inalterável coerência”.
É este, portanto, o Antero que importa melhor conhecer e amar, agora que os homens se deixam vencer facilmente por um prato de lentilhas…
Ruy Galvão de Carvalho, in Antologia Poética de Antero de Quental
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