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Recebi e divulgo um artigo do deputado regional José Andrade opondo-se à minha proposta de mudança do Hino dos Açores…e pelo pragmatismo da oposição à mudança de um hino carregado de memórias de autonomias falhadas, mantemos o hino formal que cumpre as normas todas acompanhado de um poema (talvez menor) de Natália Correia. A minha proposta visava unir todos os açorianos em torno de uma balada universal, simples, popular e que tão bem retrata o que os açorianos sentem e as brumas que sempre os envolveram. O hino oficial dos Açores que ninguém canta, que ninguém conhece e cuja letra foi imposta à força numa composição antiga continua a preencher os requisitos formais de um Hino sem unir os habitantes das 9 ilhas…A minha proposta obviamente também não captou a adesão popular tendo muito poucas adesões (80) pelo que o melhor é abandonar uma proposta que obviamente falhou e disso dou também conta pública aqui no nosso blogue AICL…
Chrys Chrystello, AICL
Mudar o hino oficial da Região Autónoma dos Açores?
NÃO CONCORDO!
Está a dar que falar, primeiro nas redes sociais e agora também na comunicação social, uma petição pública que visa adotar a canção “Ilhas de Bruma” como hino oficial da Região Autónoma dos Açores em substituição do atual. A iniciativa partiu da “Associação Internacional dos Colóquios da Lusofonia” na sequência do recente falecimento do respetivo compositor Manuel Medeiros Ferreira.
Prezo muito a associação e gosto muito da canção mas não concordo com a petição, por razões que a nossa história justifica, que este artigo procura esclarecer e que o futuro certamente demonstrará.
- 1. A petição
A petição “Mudar o hino oficial dos Açores”, impulsionada pela Associação Internacional dos Colóquios da Lusofonia e dirigida à Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores e ao Governo Regional, parte do seguinte pressuposto:
“Quantos açorianos conhecem o Hino dos Açores e quantos conhecem a Letra que Natália Correia tentou adaptar à melodia? Julgamos que poucos, mas muitos não só conhecem como gostam e trauteiam as “Ilhas de Bruma” de Manuel Medeiros Ferreira, falecido a 3 de janeiro de 2014. Quer a melodia quer a letra retratam com fidelidade as nove ilhas do arquipélago e, no momento do padecimento do autor das Ilhas de Bruma, a melhor homenagem que lhe podemos prestar é propor que a sua criação musical e literária seja assumida como Hino dos Açores”.
Considerando que esta canção “não é uma marcha militar como aquele que ficou como hino oficial com um poema forçado da Natália Correia”, a petição conclui sugerindo “a quem de direito a coragem de assumir o verdadeiro hino dos Açores em substituição do hino oficial que nada nem ninguém representa”.
- 2. As “Ilhas de Bruma”
No Voto de Pesar pelo falecimento do compositor das “Ilhas de Bruma” que apresentei esta semana (e foi aprovado por unanimidade) no Parlamento dos Açores, expressei a minha admiração pessoal pela canção “que marcou a vida pessoal de Manuel Medeiros Ferreira e que sintetiza a vida coletiva do Povo Açoriano”:
“Composta ‘num dia de bruma’ de 1983, a obra depressa se instalou no cancioneiro regional açoriano, entre a “Lira” e os “Olhos Negros”, e é hoje parte integrante do repertório obrigatório de quase todos os coros dos Açores e da Diáspora. E, mais ainda, é cantada – ou, pelo menos, reconhecida – por cada um de nós”.
Recordando que “Manuel Medeiros Ferreira, quando recentemente homenageado na Casa dos Açores da Nova Inglaterra, disse que a melhor homenagem que lhe podiam prestar era continuar a cantar a sua música”, concluí que “com essa homenagem bem pode contar, porque todos somos das Ilhas de Bruma ‘onde as gaivotas vão beijar a terra’…”.
- 3. O Hino dos Açores
A música oficial do Hino dos Açores não tem três décadas. Tem 120 anos. Foi composta pelo regente de filarmónica Joaquim Lima e primeiro executada pela Filarmónica Progresso do Norte, da freguesia micaelense de Rabo de Peixe, a 3 de fevereiro de 1894. Intitulava-se então “Hino Popular da Autonomia dos Açores”.
Logo a 14 de abril de 1894, dia das eleições gerais em que foram eleitos os deputados autonomistas Gil Mont’Alverne de Sequeira, Pereira Ataíde e Duarte de Andrade Albuquerque, realizou-se um cortejo pelas ruas de Ponta Delgada integrando filarmónicas que tocavam este Hino da Autonomia.
No ano seguinte, o mesmo hino foi também festivamente executado, por filarmónicas micaelenses concentradas na Praça do Município de Ponta Delgada, para comemorar a promulgação do decreto autonomista de 2 de março de 1895.
Este hino terá tido diferentes letras ao longo dos tempos em função da conjuntura política. Com o nacionalismo do Estado Novo, foi votado ao ostracismo. Com a Autonomia Constitucional, foi oficialmente adotado pelos órgãos de governo próprio como Hino Oficial da Região Autónoma dos Açores.
A sua música, com arranjo do maestro Teófilo Frazão sobre o original do compositor Joaquim Lima, foi aprovada em 1979 (Decreto Regulamentar Regional nº13/79/A, de 18 de Maio).
A sua letra, face à inexistência de versão anterior com aceitação generalizada, foi encomendada pelo governo regional a Natália Correia, por muitos considerada a maior poetisa açoriana de todos os tempos. Aprovada oficialmente em 1980 (Decreto Regulamentar Regional nº49/80/A, de 21 de Outubro), foi pela primeira vez cantada em público há 30 anos, a 27 de junho de 1984, pelos alunos do Colégio de São Francisco Xavier, em Ponta Delgada.
- 4. Conclusão
Por muito que considere a Associação Internacional dos Colóquios da Lusofonia e estime o seu presidente Chrys Chrystello, por muito que admire a canção “Ilhas de Bruma” e preze o seu compositor Manuel Medeiros Ferreira, não concordo com a substituição do Hino Oficial da Região Autónoma dos Açores.
Desde logo, porque o nosso Hino Oficial, com a música histórica do Hino da Autonomia e com a letra apologética de Natália Correia, é símbolo heráldico da Região Autónoma dos Açores – ao mesmo nível superior da bandeira azul e branca – e, como tal, merece o máximo respeito do Povo Açoriano.
Mas também porque a canção “Ilhas de Bruma”, até pela sua estrutura formal, merece continuar a ser o que é: uma das melodias mais bonitas e uma das letras mais inspiradas do cancioneiro regional açoriano.
…E não consta que alguém algum dia se tenha lembrado de substituir, por exemplo, o Hino Nacional por “Uma Casa Portuguesa” de Amália Rodrigues, o Hino de França por “La Vie en Rose” de Edith Piaf ou o Hino de Inglaterra pelo “Imagine” dos Beatles.
Tudo tem um lugar próprio.
JOSÉ ANDRADE
Deputado do PSD no Parlamento dos Açores
janeiro 2014