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É possível acabar com os chumbos?
“Só a partir de uma pedagogia diferenciada centrada na cooperação entre professor e os alunos e destes entre si se poderão por em prática os princípios da inclusão, da integração e da participação democrática, isto é, os Direitos da Criança” Sérgio Niza.
Um amigo meu sempre aberto a todas as inovações, não discordando com o governo que acha que não deve haver retenções, decidiu este ano letivo (quase) acabar com as aulas meramente expositivas e introduzir algumas novidades não só na lecionação, mas também na avaliação.
Assim, organizou a atividade letiva de modo a que todos os alunos pudessem aprender não só com ele, mas também em cooperação com os colegas, através:
– De um Plano Individual de Trabalho (PIT), onde pudessem com autonomia não só adquirir, mas também aprofundar os seus conhecimentos;
– De um Tempo de Estudo Autónomo onde pudessem concretizar os trabalhos previstos nos seus PIT, quer os de treino quer os de investigação ou aprofundamento de conhecimentos. Este foi o tempo mais adequado para poder apoiar os alunos com mais dificuldades;
– De um tempo dedicado a conversar sobre o decorrer das aulas, em termos de cumprimento das regras, planificação dos trabalhos, orientação das aprendizagens e avaliação das mesmas;
– Da realização de Trabalhos de Projeto, onde pudessem ter a possibilidade de escolher os colegas de grupo e os temas a tratar e onde os processos e os produtos de cada projeto fossem objeto de comunicação à turma;
– De uma Lista de Verificação, distribuída a todos, onde constassem todos os conteúdos a lecionar, selecionados de acordo com as aprendizagens essenciais.
A avaliação dos alunos deixou de ser baseada apenas em testes escritos e passou a ter em conta a assiduidade, a pontualidade, o trazer o material necessário para a aula, a participação oral, a realização de tarefas de forma adequada, o cumprimento de regras de trabalho e convivência e a autonomia, a aquisição de conhecimentos e competências transversais, como, por exemplo, selecionar e organizar informação, construir explicações científicas baseadas em conceitos, desenvolver ou aplicar competências em novos contextos.
Ao terminar o primeiro período, o meu amigo, apesar de não ter obtido resultados muito negativos nas suas turmas, ficou um pouco desiludido, pois pensava que havia criado condições para que todos os seus alunos tivessem sucesso.
O que terá falhado?
Segundo ele, as principais causas de não conseguir o sucesso pleno foram.
– O absentismo escolar- há alunos com 12 ou 13 anos que estão matriculados, mas que nunca vão à escola, outros que aparecem na escola e não vão às aulas;
– O desinteresse total- há alunos que estão nas aulas e recusam-se a trabalhar, mesmo quando têm a possibilidade de tratar um tema à sua escolha;
– O desrespeito pelas regras de convivência – há alunos que depois de seis anos de escolaridade ainda não sabem distinguir uma aula de um recreio. Com efeito, nas aulas falam alto uns com os outros, levantam-se do seu lugar para irem falar com um colega sobre assuntos pessoais, interrompem o professor para fazerem perguntas não relacionadas com os temas que aquele está a tratar, etc.;
– A ausência de hábitos de estudo – embora os testes escritos não tenham o peso que tiveram outrora, a maioria dos alunos não estuda em casa, nem no dia-a-dia nem mesmo na véspera dos mesmos.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 32029, 15 de janeiro de 2020, p.16)