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Não posso perder-te, Europa, nem na emigração dos meus sentidos ainda que a autonomia dos seus povos, de todos os seus povos, seja uma figura desprezada pelos sinistros escravizadores
da moeda-delírio. Renunciar-te para além do território não comportaria nenhum luto opaco nem ígneo lastro de perdição.
Esta sensação sinistra de querer ser metáfora de uma energia
abstrata coloca-me no campo falacioso de um espaço que o tempo não deu lugar à coexistência. A Europa é uma negação do seu mundo, uma estranha imagem destroçada pelos capítulos da história, um delírio caótico de emoções estrangeiras entre si, uma algazarra febril de proxenetas que lançam no caos as utopias culturais de um continente. Ciclos de contratempos lançaram para o olvido o território espiritual sem fronteiras, criando enigmas
sobre a sua existência. Alimentando o mistério de ser europeu.
A Europa está povoada de sombras nas páginas da história, corpos opacos de morte, densos fantasmas da catástrofe, que empunham armas sob um cenário celestial plúmbeo, negoceiam almas corruptas para que a eficácia do desaire seja plena num território de condenados à extinção.
Homens-sombra, equipados com a negrura da fome e do medo,
obliteram povos, massacram-nos à mesa de lautos despojos para que o luto globalizado seja o vício e o jogo que alimenta a banca enfunada de crimes contra a humanidade.
Em cenários de episódios obscuros representa-se a falsidade cruel num confronto de rivais cujo destino é a incógnita da sua existência tenebrosa. A esta Europa dos conflitos e dos déspotas, das
renascenças vilipendiadas pelo capital ignorante e boçal, das cinzas e do lodo, só lhe resta a recuperação dos mares e dos rios, das nascentes misteriosas que, à sua passagem, contra todos os tempos e malefícios, lavem este corpo de chagas de guerras medievas embaladas e vendidas como estupefacientes nos hipermercados de quimeras gelatinosas. O seu nome deverá ser um dia a assinatura colectiva da regeneração salvífica da cultura, do conhecimento, da sabedoria, únicos pilares que nos libertarão da barbárie egocriminosa.

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- César Oliveira MonteiroGrande abraço.Grande texto.
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- ActiveLuís Filipe SarmentoMuito obrigado, César. Um grande abraço
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