É comum vermos os nossos idosos, sobretudo nestes dias, mascarados em desfiles carnavalescos. Surge-me de imediato a dúvida se estão todos ali por gostarem muito do Carnaval ou se vão, independentemente da sua real vontade, a cumprirem o estabelecido no Plano Anual de Atividades da instituição.
Sei que é lúdico e que a alegria é um estado psíquico que devemos proporcionar a todos os indivíduos, mas a verdade é que essa atitude tem que vir também de dentro, não chega só o que recebe do exterior. Neste caso, penso eu e por mim falo, tem que fazer parte da história cultural e pessoal de cada um. O respeito à dignidade é fundamental. Não me parece que a minha mãe que nunca gostou de Carnaval, agora aos 80 anos e se estivesse num Lar ou associação, fosse “obrigada”, a participar num desfile, pelas ruas da cidade, o fizesse.
Eu nem o permitiria, estando na posse de todas as minhas faculdades mentais.
Passei por um destes desfiles e falando com algumas pessoas adivinhei-lhes uma tristeza silenciosa que nada condiz com o Carnaval, dedicado à folia.
São estas as contradições da vida. A mesma vida que põe a nu, tantas vezes o ridículo de sermos considerados um rebanho…
E isto vem a propósito do que vejo nas nossas instituições: lares, juntas de freguesias e/ou outras associações que acolhem os nossos idosos.
Bem sei que a sociedade está em processo de envelhecimento e que continuará a ser necessário uma reorganização da mesma e o empenhamento de todos, repondo a dignidade – às vezes pouco levada a sério, como forma de defesa dos direitos usurpados a quem deu tudo.
É essencial investir na família e instituições, no fundo, amparar os nossos idosos e proporcionar-lhes o direito à vida e bem-estar, aos afetos que deverão ser imutáveis, constantes. Mas vamos ser mais sensatos. Os nossos pais e avós não são para exibir no Carnaval. Salvo se gostarem e o quiserem, claro!
Acredito, contudo, nas instituições e no seu papel social e cultural, numa sociedade de oportunidades e mais justa.