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Na Horta não existe a noção do valor histórico da defesa do passado. A toponomástica raramente se relaciona com o pretérito como marco consentâneo com a coordenadas do desenvolvimento da sociedade. Cada geração tem sentido a necessidade de oscular o traseiro da elite do poder, o que demonstra a instabilidade latente da sua identidade. Nisto, os americanos, que os portugueses criticam mais por miopia intelectual do que uma noção informada da realidade cultural, são muito diferentes. Ainda há umas semanas, ouvi num programa da TV os doutores Mota Amaral e Carlos Melo Bento fazendo comentários demonstrativos do que vejo em termos de iliteracia antropológica e sobretudo de uma carência de conhecimento do relativismo cultural no sentido rigoroso da adaptação diferenciada pelo ambiente e tradição científica. Disto isto, convém relembrar que o sítio de Santa Cruz foi sempre o nome do Largo Manuel de Arriaga. Ali, naquele local, como investigou o Padre Júlio da Rosa, ergueu-se a primeira ermida com que os povoadores primogénitos deram graças pela sua segurança e boa viagem. A cruz que ali se levantou, passou depois para o Monte da Guia. Onde hoje está a ermida de Nossa Senhora das Angústias, como farol de fé anunciando ao nauta inseguro a presença de uma comunidade cristã, o lenho do Jesus crucificado abria os braços para o Oriente. Talvez a ilha seja demasiado pequena, e a subserviência dos líderes tão forte, que em cada geração haja o impulso arrogante de apagar as peugadas históricas cunhadas nos padrões socioculturais que se querem imutáveis como as ossadas dos nossos antecessores.
O povo sem identidade não defende o que é seu. Como um barco sem amarras no vórtice de um vendaval.