movimento woke (wokismo) desempregou os sete anões

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Do expresso
Eugénia Galvão Teles
A Branca de Neve e os seis anões desempregados
Trazer a Branca de Neve para a atualidade não está a ser fácil para a Disney. Decidida a dar alguma cor à personagem principal, foi buscar uma atriz latina, Rachel Zegler, que transitou de “West Side Story” para os Irmãos Grimm. Garante que esta nova Branca de Neve vai saber tratar da sua vidinha em vez de ficar à espera do príncipe encantado que não consta sequer do elenco. E não há cá Atchim, Soneca e companhia — os sete anões sumiram do título e do filme, substituídos por uma tribo de criaturas mágicas de todas as cores, géneros e tamanhos. Os defensores da Branca de Neve “como sempre a conhecemos” estão desolados.
Se não há paciência para mais um coro de carpideiras a chorar a morte das memórias da sua infância às mãos das brigadas do politicamente correto, obliterar os sete anões em nome da inclusão é menos óbvio. Aparentemente, a Disney não estava a pensar fazer uma limpeza tão drástica aos amiguinhos da Branca de Neve. Até que o ator Peter Dinklage, mais conhecido como o Tyrion de “A Guerra dos Tronos”, apareceu a denunciar a situação do alto dos seus 132 centímetros por não ver razão para se modernizar tudo e manter os pobres anões enfiados na cave dos estereótipos. A Disney apressou-se a declarar que ia rever a situação; a revisão acabou com a sobrevivência de um único anão. Momento em que se pode duvidar se faz muito sentido invocar o respeito por uma comunidade para fechar seis vagas de emprego que iam ser preenchidas por pessoas que pertencem a essa mesma comunidade.
A ausência de anões a interpretar homens e mulheres comuns com nomes próprios, o que todos são e o que nos une a eles, reforça uma visão redutora do que é viver num mundo feito para pessoas com mais de um metro e meio
Já apareceram vozes a protestar que nem todos os trabalhadores das artes e do espetáculo com nanismo podem, como o Peter Dinklage, dar-se ao luxo de recusar papéis que reforçam a imagem do anãozinho meio tonto a cantarolar numa fila indiana. Qualquer gnomo ou duende é bem-vindo quando necessário para alimentar a família. Com a manipulação digital de imagens, até as colocações no mundo da fantasia começam a escassear — na última recuperação de “Fábrica de Chocolate”, o Hugh Grant foi encolhido para ser o Oompa Loompa de serviço e sabemos que não se identifica como little person. Agradece-se as boas intenções de quem está farto de ver gente pequenina estereotipada, mas há quem não se importe de fazer de pigmeu porque precisa de ganhar a vida.
Não é que os argumentos de Dinklage não façam sentido. É difícil encontrar representações de anões que sejam muito mais do que um habitante de um país imaginário ou um acessório para efeitos cómicos. A ausência de anões a interpretar homens e mulheres comuns com nomes próprios, o que todos são e o que nos une a eles, reforça uma visão redutora do que é viver num mundo feito para pessoas com mais de um metro e meio. Uma personagem como o Tyrion, onde o nanismo é só uma parte da sua história, é demasiado rara. E foi tão bem encarnada que podemos ver hoje o mesmo ator a fazer de Cyrano, cujo maior problema é ter um nariz descomunal.
Podemos exigir que a indústria do cinema não se limite a recuperar o mesmo catálogo de tiques e trejeitos sempre que uma das personagens tem um tamanho muito abaixo da média porque não é isso que a define como pessoa. Só que, entretanto, a realidade ainda é o que é. Se o Peter Dinklage conseguiu fugir da prisão dos anõezinhos sempre alegres ou raivosos, é bom não esquecer que, para lá chegar, ainda contracenou com o Pai Natal num filme chamado “Elfo” e fez um pezinho em “As Crónicas de Nárnia”. Participar numa megaprodução da Disney, mesmo a espirrar ou a resmungar, podia levar um dos anões desaparecidos em combate a ser o próximo Dinklage.
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Vitor Moreira

Em Portugal há um extraordinário actor com nanismo David Almeida de seu nome. Depois há o Opus Pistorum, do Henry Miller que também tem uma passagem com uma mulher anã, mas talvez seja melhor não ir por ai

Sobre CHRYS CHRYSTELLO

Chrys Chrystello jornalista, tradutor e presidente da direção da AICL
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