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A gratidão é um dos apanágios das gentes corvinas.
Habituados a sofrerem ataques de piratas, de corsários, de intempéries que originam, muitas vezes, destruições, e quase sempre falta de géneros alimentícios e outras adversidades próprias de quem vive em ilhas pequenas e isoladas, souberem, e sabem, sempre, ser gratos, a quem nestes momentos mais aflitivos os auxiliam.
Antigamente, nesta ilha, a junça foi durante muito tempo a base da alimentação deste povo, porque o trigo e o milho eram para pagar os impostos aos governantes.
Nos princípios do século XVIII, cansados de tanta miséria, resolveram protestar.Um grupo de corvinos, liderados por Manuel Tomaz de Avelar deslocou-se à ilha de S.Miguel e pediu ao representante de D. Pedro IV, Mouzinho da Silveira que lhes fosse abolida a pensão de 80 mil réis em dinheiro que todos os anos eram obrigados a pagar.
Manuel Tomaz levava consigo algumas dessas duras bolas feitas de junça e ofereceu-as ao governante que, comovido e impressionado com a nobreza daqueles homens, não se deitou nessa noite, redigindo as leis de extinção de tal bárbaro imposto.
Como forma de agradecimento, os habitantes da ilha organizaram uma expedição de barco, e foram, em grupo, à ilha Terceira, agradecer a dádiva concedida. A partir desta altura, todos os anos, por altura do Natal, passaram a enviar um presente simbólico a Mouzinho da Silveira. Profundamente sensibilizado com este gesto, haveria de deixar expresso, em testamento, a vontade do seu corpo ser enterrado na ilha do Corvo, afirmando: “Gosto da ideia de estar cercado, quando, de gente que na minha vida se atreveu a ser agradecida”.
Infelizmente, apesar dos esforços das autoridades locais, esta sua vontade ainda não foi possível cumprir. Os seus restos mortais continuam sepultados na freguesia da Margem, no Gavião, de onde era natural.