morreu o brasileiro mais antigo de timor

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BRASILEIRO MAIS ANTIGO EM TIMOR-LESTE MORRE VÍTIMA DA COVID-19.
Marcos Tadeu Clemente, 64 anos, funcionário do STAE – Secretariado Técnico de Administração Eleitoral, faleceu na manhã da quinta-feira (16) no Hospital de Lahane.
Muito conhecido em Díli, “Tadeu Bonito”, como era carinhosamente chamado pelos amigos, deixou a viúva timorense, Sônia e uma filha de 5 anos. Marcos Tadeu que foi sepultado nesta sexta-feira (17) no Cemitério de Bekusi, era o mais antigo cidadão brasileiro em Timor-Leste, onde fez história trabalhando em todas as eleições do país – da consulta popular de 1999 até a eleição parlamentar antecipada de 2018 – como conta na reportagem a seguir o correspondente da Agência LUSA em Timor-Leste, Antonio Sampaio.
“Os dois veteranos eleitorais que não votam há décadas.”
“Dois dos maiores ‘veteranos’ da história eleitoral de Timor-Leste – um brasileiro e um mexicano que estão no país desde o referendo de 1999 em que os timorenses escolheram a independência – já não votam, eles próprios, há décadas.
Lusa – 21 Abril 2018 — 09:25
Marcos Tadeu Clemente, brasileiro com 60 anos e atualmente oficial de logística e operações do Secretariado Técnico da Administração Eleitoral (STAE) e Andrés Del Castillo, mexicano, 52 anos, atual chefe do projeto eleitoral da ONU em Timor-Leste, são dos estrangeiros há mais tempo em Timor-Leste.
Os dois, então elementos do programa de Voluntários das Nações Unidas, chegaram a Díli no mesmo dia em finais de junho de 1999, no primeiro grupo de funcionários eleitorais que estiveram destacados em todo o país para o referendo de 30 de agosto desse ano. “Chegámos no mesmo dia”, recorda Andrés.
O trabalho de ambos nos últimos 18 anos tem estado, em grande parte, marcado por processos eleitorais: apoiaram, de uma forma ou de outra, todas as votações em Timor-Leste, desde a consulta de 1999 às eleições legislativas antecipadas, atualmente em curso.
Marcos nunca saiu de Timor-Leste, Andres esteve algum tempo fora, no Nepal, mas voltava regularmente a Díli onde vivia – e ainda vive – com o marido. Uma longa ligação que impediu, nos dois casos, que pudessem eles próprios votar.
“No Brasil é obrigatório votar e o título de eleitor tem que estar sempre válido. Aqui, em 18 anos, já fiz vários passaportes e quando vão ao sistema o meu título de eleitor foi cancelado. Os brasileiros podem votar fora nas embaixadas. Mas confesso que nem isso me interessa mais. Esqueci o caminho de casa”, confessa Marcos.
“Votar a partir de Timor-Leste é impossível. Primeiro porque é recente o poder votar no estrangeiro. E os correios não funcionam bem aqui e isso torna o voto complicado. E nunca coincidiu nenhuma visita minha ao México em período eleitoral”, explica Andres.
Lá em casa a votar só mesmo o seu marido, Ivanildo Do Nascimento, um brasileiro que está em Timor-Leste desde 2002 e que é empresário e atual cônsul do México em Díli. “Até já fui funcionário eleitoral na mesa na embaixada brasileira aqui em Díli”, explica à Lusa.
A conversa a quatro decorre num restaurante em Díli num momento em que as atenções em Timor-Leste estão voltadas para mais um processo eleitoral: desde novembro de 2016 é o quarto. Primeiro eleições locais, depois em 2017 presidenciais e legislativas e agora, a 12 de maio, legislativas antecipadas.
Quase 20 anos depois, recordam as emoções do primeiro processo eleitoral, a consulta popular de 30 de agosto, em que a pressão das forças indonésias e das milícias pró-integracionistas deixava muitos na ONU com receio de uma fraca participação.
“Havia muita tensão e muita pressão, muita gente tinha fugido para as montanhas e não havia ninguém nas vilas. No dia do voto eu saí de Maliana para Balibo às cinco da manhã e a primeira grande emoção foi ver toda a gente descer da montanha e alinhar-se para votar quando os centros de votação só abriam às sete”, conta Andres.
E olham para o presente e para os avanços desde aí. Destacam a força das instituições eleitorais que demonstraram conseguir organizar sozinhas, praticamente sem apoio internacional, todos os atos eleitorais.
“Os timorenses têm aprendido muito rápido. Nas primeiras eleições praticamente não havia timorenses em cargos técnicos. Agora é o contrário. Os timorenses estão bastante orgulhosos por conseguirem organizar todo o processo”, confirma Marcos.
Um dos avanços tem sido o processo de recenseamento que em Timor-Leste é feito, há 10 anos, de forma biométrica, o que “ajuda a dar mais credibilidade ao processo”.
Mais rudimentar continua a ser o uso de um prego para votar, uma herança do período da ocupação indonésia mas uma ‘ajuda’ aos muitos em Timor-Leste que ainda não sabem ler ou escrever.
“Alguns dos não letrados sentiam-se inseguros com a caneta. Houve um período que aboliram mesmo a caneta e o lápis. Agora é o inverso. Os letrados perguntam porque têm que usar o prego e por isso nas cabines temos prego e caneta”, explica Marcos.
“Temos que ter dúzias de canetas por cada estação de voto. E pregos também. Eram de sete centímetros e não conseguem segurar o prego, agora é de 10”, refere.
Igualmente presença habitual é a tinta indelével com que o indicador de cada eleitor é marcado depois de votar. Uma garantia adicional de quem ninguém poder votar duas vezes.
No referendo, e para evitar represálias das milícias, a tinta era transparente e só se conseguia ver com luz preta. Agora é o tradicional roxo que, a 12 de maio, os timorenses vão mostrar nos seus indicadores, na sua quarta ida ás urnas em 18 meses.”
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