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A tribo e a multidão não são cidadania, nem comunidade
O Ocidente nasceu da palavra e do pensamento.
Pela palavra e pelo pensamento, sempre nos prometeu a unidade, por estarmos estruturalmente dispersos, sermos múltiplos e divididos.
O Ocidente funda-se, pois, no regime da analogia, com todas as coisas a remeterem para um outro que as explique, nada subsistindo por si.
Este regime, que é literário, está, todavia, a ser substituído pelo regime tecnológico, do computador, da Internet e do digital, que se apoia no número e na medida.
Com a velocidade, a aceleração da vida e a mobilização do humano para as urgências da presente, todas as instituições de promessa entraram em crise: palavra, pensamento, sistema democrático, separação dos poderes de soberania, média, Universidades.
Mas apenas pela palavra podemos prometer.
E recordo, a propósito, Jorge Luís Borges, no poema Unending Gift (dom imperdível): na promessa há algo imortal, porque nela alguma coisa vive para sempre.
A nova ordem produz tribos e multidão; não produz cidadania, nem comunidade.
Quero crer, no entanto, em Friedrich Hölderlin: “lá onde está o perigo também cresce o que salva”.
Nas condições tecnológicas do presente, tenho esperança de virmos a encontrar as soluções para os perigos que temos que enfrentar e para os riscos que estamos a correr.
É este o tema da minha crónica de hoje, no Correio do Minho.
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