MIRADOURO DA ponta do escalvado

Views: 9

Tinha escrito, a pedido da minha prima Manuela Pereira, o artigo que se segue e tentei a sua publicação no “Açoriano Oriental”. Honestamente, não sei se alguma vez o mesmo foi publicado. A pedido dela, vou publicá-lo aqui para o tornar acessível a todos quantos tenham curiosidade em saber quem era Manuel Correia dos Reis, entre eles os meus irmãos Lou Cruz, Marta Melo, Natalia Houle, Leonor Melo e Manuel Reis.
Aqui vai ele:
O Miradouro da Ponta do Escalvado
Nos limites Oeste da Ilha de S. Miguel existe um miradouro muito singular que se tornou uma autêntica atração turística: o Miradouro da Ponta do Escalvado. Dali vê-se a Ponta da Ferraria, os Ilhéus dos Mosteiros, a Lomba Grande, a Lomba da Fonte e a localidade da Várzea, nos contrafortes do Vulcão das Sete Cidades, freguesia dos Ginetes, concelho de Ponta Delgada. O lugar, rodeado de pastagens, localiza-se a elevada altitude e tem como principal atividade económica a agricultura.
Este miradoiro foi, em tempos, propriedade do meu avô Manuel Correia dos Reis que o cedeu, de oferta, à Junta de Freguesia dos Ginetes. Em todas as pastagens à volta ele tinha muitas vacas. Era um grande e bom agricultor que merecia o respeito de todos os seus trabalhadores e vizinhos.
Manuel Correia dos Reis, casado com Emília da Glória Pavão e pai de Manuel, João, José, Maria Ascensão e de meu pai Gil de Almeida Correia dos Reis, acabou por adquirir duas casas em Ponta Delgada. Uma delas – que nunca cheguei a identificar – foi vendida aos Cogumbreiros, e a outra, para onde se mudou para ter um melhor acesso ao Hospital, ficava na Rua Teófilo Braga, com frente para a Rua da Alegria. Para isso desfez-se de três moios de terra. (Um moio é igual a 60 alqueires e um alqueire é igual a 1393 metros quadrados). Aí veio a falecer em 1947, um ano antes de eu nascer.
Meu tio José, que faleceu em Santa Maria onde era barbeiro, contou-me uma vez que um dos empregados do meu avô lhe pedira dinheiro emprestado para custear a viagem de emigração para o Novo Mundo. Ter-lhe-á deixado como penhor alguns poucos terrenos que tinha. Meu avô cultivou-os e registou os proveitos auferidos. O que se sabe é que o pagamento do empréstimo nunca ocorreu. Meu avô continuou a amanhar as terras até que o amigo regressou a S. Miguel. A emigração não tinha resultado…. Estava na miséria e pensava que já tinha perdido todas as terras que penhorara a favor de meu avô. Vinha só pedir-lhe a esmola de um emprego! Para sua surpresa e alento, meu avô devolveu-lhe as terras. E ainda algum do dinheiro que sobrara da exploração delas, depois de se fazer pagar do dinheiro emprestado.
Minha avó Emília da Glória Pavão Reis, esposa do meu avô, era uma mulher de armas. Tinha uma costela alemã. Numa obra de Carlos Melo Bento há uma referência aos Pavões de S. Miguel como descendentes de famílias alemãs. Eu tive algumas dúvidas sobre minha avó mas perguntei à minha prima Manuela, que vive nos Estados Unidos há mais de meio século, que confirmou essa informação.
Minha avó tinha jeito para tudo. Na minha casa do aeroporto havia uma mobília de quarto de jantar que foi feita por ela. Só o soube tardiamente, numa altura em que todo o recheio dessa minha casa já tinha sido vendido, aquando da emigração da minha família, por falecimento do meu pai, em 1968. Era uma excelente eletricista, quando grande parte das pessoas nem sequer tinham acesso a esse bem nas suas casas. E também tinha uma padaria, que ficava situada no canto em frente da Rua da Alegria. Faleceu em 1958, tinha eu apenas dez anos. Mas tenho ideias da minha avó Emília quando ia a S. Miguel, embora não sejam as melhores: eu tinha medo dela! Tinha um ar austero, embora fosse uma avó exemplar para a minha prima Manuela, a quem levava muitas vezes a dar um passeio e a um banho no mar, ali próximo, na costa de Santa Clara.
Vem isto tudo a propósito do Miradouro da Ponta do Escalvado. Depois de todas as diligências feitas pela minha prima junto das entidades oficiais, no sentido de ser colocada uma placa no Miradouro do Escalvado onde constasse o nome do doador Manuel Correia dos Reis, finalmente esse pedido surtiu efeito e, ao fim destes anos todos, após cerca de três quartos de século, a justiça fez-se e a placa já lá está afixada. Para isso, contou com a ajuda de uma amiga que vive em S. Miguel, que usando o conhecimento que tem com as entidades oficiais, conseguiu desbloquear o assunto.
Incansável, a minha prima Manuela, já nonagenária e que vive nos Estados Unidos, resolveu vir de propósito a S. Miguel e juntar alguns familiares, entre netos, bisnetos e trinetos do doador Manuel Correia dos Reis, para tirar uma fotografia junto à placa do Miradouro, para memória futura.
Like

Comment
Share

Facebook

Facebook

Facebook

Facebook

Facebook

Facebook

Facebook

Facebook

Facebook

Facebook

Facebook

Facebook

Facebook

Facebook

Facebook

Facebook

Facebook

Facebook

Facebook

Facebook

Facebook

Facebook

Reels and short videos

Sobre CHRYS CHRYSTELLO

Chrys Chrystello jornalista, tradutor e presidente da direção da AICL
Esta entrada foi publicada em Historia religião teologia filosofia. ligação permanente.