MIRADOURO DA LAGOA DO FOGO – PARECER

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Luis Filipe Franco shared a post to the group: Açores Global.

O que significa ” identidade em termos da dimensão histórica e cultural” ??

Parecer ao estudo prévio da intervenção no Miradouro da Lagoa do Fogo

Enquanto membro do Conselho Regional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável dos Açores, em base de solicitação de parecer ao estudo prévio da intervenção no Miradouro da Lagoa do Fogo, vêm os Amigos dos Açores – Associação Ecológica emitir parecer.

A nossa associação defende, há vários anos, uma melhor gestão da visitação da zona do miradouro da Lagoa do Fogo, bem como de toda a Reserva Natural da Lagoa do Fogo, tendo intensificado com alertas públicos, por diversas ocasiões, especialmente com a maior procura turística deste tipo de locais desde a liberalização do espaço aéreo da ilha de São Miguel.

Vimos defendendo que que não temos sabido exercer uma distribuição adequada dos visitantes na ilha de São Miguel, prejudicando particularmente os locais de maior concentração como miradouros e áreas protegidas.

Temos defendido que, existindo locais concentradores por natureza em função da respetiva riqueza natural e paisagística, não devem as políticas de gestão territorial reforçar esse efeito concentrador, atribuindo, como tem sido o caso, primazia ao transporte individual em detrimento do transporte coletivo, pedonal ou ciclável.

Observando os últimos cinco anos poderemos identificar que os investimentos realizados na ilha de São Miguel têm tido a visão na concentração dos visitantes (aumento dos parques de estacionamento na Lagoa do Fogo e na Ferraria, “modernização” de miradouros na Barrosa e nas Sete Cidades, entre outros) e pouca atenção nas atividades que poderão dispersar os visitantes de modo disciplinado (como a melhoria da rede de trilhos em termos de coerência qualitativa e quantitativa, criação de pólos de animação turística, entre outros).

Nesta abordagem dos últimos anos, embora em locais ambientalmente menos sensíveis que a Lagoa do Fogo, têm-se verificado intervenções esteticamente válidas, embora muitas vezes possa ser questionada a respetiva identidade em termos da dimensão histórica e cultural de locais tão icónicos como são os principais miradouros da ilha.

É precisamente neste enquadramento que questionamos se a intervenção projetada para o miradouro da Lagoa do Fogo se enquadra na identidade do local aos olhos da população.
Esse deveria ter sido um debate realizado e não circunscrito ao Conselho Regional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável, ao qual foi solicitado um parecer dois dias antes da apresentação “pública” do projeto, sobre a qual não houve nenhuma divulgação, tendo na prática sido o projeto apresentado no contexto da visita estatutária do Governo Regional à ilha de São Miguel.

É com situações como esta que se pretende maior envolvimento dos cidadãos nos desafios ambientais?

O que resta para participação pública mediante projetos já apresentados de forma longínqua ao cidadão comum? Aceitar pequenos aperfeiçoamentos resultantes de sugestões para se criar a ideia de envolvimento?

No que respeita estritamente ao estudo prévio da intervenção no Miradouro da Lagoa do Fogo:

– Embora esteticamente o estudo prévio nos pareça na globalidade integrado visualmente, quase não existe a utilização de materiais endógenos, bem como o respetivo programa tem subjacente uma perspetiva de “modernismo” que ameaça a identidade e tradicionalismo do local, tendo em vista a maximização do número de visitantes do local em simultâneo;

– Questionamos a efetiva necessidade da realização de escavação significativa, com mobilização de solos e rochas, aterros e renaturalização de coberto vegetal, para introdução de elemento subterrâneo de betão, numa área limite entre Reserva Natural e Área Protegida para a Gestão de Habitats ou Espécies, e sujeita ao regime da Reserva Ecológica;

– A continuidade do efeito concentrador num dos pontos mais procurados da ilha, que potenciará a procura do local e a descida à Lagoa, maximizando o tempo de permanência no local, e que levará inevitavelmente à necessidade de ampliação do parque de estacionamento num futuro próximo, para evitar novo condicionamento da estrada.

Julgamos que qualquer intervenção no Miradouro da Lagoa do Fogo desprovida da definição prévia de uma nova política de acesso de transportes ao local não passará de uma visão remediativa, que não combaterá a problemática na sua raiz e, que com a procura turística crescente que possa ser perspetivada, poderá apresentar desafios que os investimentos que atualmente se preconizam poderão não corresponder.

Comments
  • Nuno Barata Almeida Sousa É a gente gostar do que lá está e não querer que mudem só porque sim. Nessa coisa de intervenções na paisagem eu sou totalmente reaccionário.
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  • Luis Filipe Franco Pedro Gomes A História está associada á Cultura, mas esse facto nada tem a ver com um espaço natural mas sim zonas com intervenção humana – desculpe mas esse argumento é no mínimo ignorante

 

  • Pedro Gomes voce fez a prergunta, eu respondi e eu a minha opinao acerca da construção. Ignorante é aquele que tenta usar o verbo sem fundamento. Admito ser ignorante em termos de contrução, sim. Mas devo dizer que, pelas imagens da potencial contrução, esta contrSee more
  • Luis Filipe Franco Pedro Gomes foi você que veio com a palavra “ignorante”, não eu, de resto a sua resposta ilustra tudo o que referi
  • Pedro Gomes Ser ignorante não pode ser uma ofensa. Eu sou ignorante no que não sei. Qual é o problema em admiti-lo? Considero que usar o argumento “identidade em termos historico e cultural” para justificar este empreendimento (não sei quem nem sei se comentaram iSee more
  • Luis Filipe Franco Pedro Gomes só generalizações fáceis – tudo dito
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  • Miguel Canto Tavares Filipe, não achando particularmente feliz a expressão, também não a acho ininteligível. Afinal, a nossa identidade é moldada pela História e pela cultura em que estamos inseridos (fruto esta, também da História…). Não vejo, no entanto, que o conceitoSee more

 

  • Luis Filipe Franco Eu refiro o disparate da argumentação feita – arranjem outras sff
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  • Luisa Teves Eu acho que se estiverem quietos é uma felicidade para os meus netos.
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  • André Pereira A intervenção parecer estar enquadrada na paisagem. Não vejo porquê tanto drama.
    • Luis Filipe Franco este parecer é um role de asneiras – exceptuando a necessidade de se condicionar o trânsito e de se aumentar pontos de interesse para se visitar, mais nada se aproveita
    • André Pereira Só olhei para o projecto, não li as declarações das várias ONGs. No entanto há de reparar que qualquer investimento/obra anunciada recentemente foi alvo de forte contestação por parte destas organizações. Já não se pode fazer nada.
  • Eduardo Moniz Isto ainda vai custar milhões deixa a natureza estar como sempre teve que é melhor
  • Paula Vasconcelos Machado Será possível a ignorância na percepção de que o ” produto” só agrada e atraí pela sua genuinidade ? Quando e se intervierem, degradam o produto, com perda das qualidades. Falta de visão e futuro mimo às construtoras do regime. Desactualizada, quem são as actuais?
  • Pilar Melo Antunes Oxalá que com a movimentação de terras e o nosso vento encanado, a Lagoa mágica não se transforme em água lamacenta. Lembram-se das derrocadas da praia da Ribeira Quente ou obras na praia de Água de Alto? Tivemos uns aninhos de água barrenta. Esses aninhos agora não dão jeito nenhum, selfies barrentas? Oxalá corra tudo bem.
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  • Eduardo Pereira Os Açores são procurados pela beleza natural e quase intocável. Com a ganancia do turismo e projetos pensados por iluminados dentro de um gabinete, vamos começar o oferecer o quê?! Aberrações em cimento e paisagens descaracterizadas….
    • Luis Filipe Franco “beleza natural e quase intocável”, Deve estar a referir-se às nossas belas pastagens cheias de adubos e cócó ou às invasoras com certeza
    • Eduardo Pereira Não se limite apenas aquilo que vê de carro ou nos miradouros. Experimente sair do conforto do seu sofá e aventure-se por trilhos, mato e paisagens e garanto-lhe que São Miguel é muito mais que aquilo que não consegue ver. E sim, felizmente, ainda existe muita natureza natural e quase intocável, mas esse privilegio é só para quem se atreve a procura-la, e não para quem não sai detrás de um ecrã.
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  • Antonio Manuel Macedo Silva Meu caro Luis Filipe Franco, tenho lido muito sobre esta temática do miradouro da Lagoa do Fogo e tenho procurado não ser interveniente nestas “tertúlias” sobre o mesmo mas penso que é altura de também dar a minha opinião. Ao contrário do que apregoam See more