MELO BENTO ESCREVE SOBRE DANIEL DE SÁ

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    A morte de Daniel de Sá foi um duro golpe nas letras açorianas. Secou a fonte genial de que jorraram as mais lindas e perfeitas expressões do pensamento e da imaginação que a segunda metade do século XX e este princípio do XXI açoriano geraram. A delícia que era lê-lo, agora, só poderá renascer de o reler que a sua criação acabou. No Pastor das Casas Mortas adivinhava-se uma tristeza infinita que os escritores são profetas e por vezes não escapam às suas próprias profecias. Que mágoa tão grande Santo Deus. Não era fácil perceber o pensamento e o coração desse grande vulto da açorianidade. Porque ele queria sair do ninho e pairar nas alturas, planando por sentimentos e deduções sem admitir as raízes de que não podia fugir, mesmo querendo. Antero não teve de enfrentar o dilema, mas os tempos eram outros pois Nemésio ainda não tinha proclamado o nascimento da açorianidade. Natália vivia na açorianidade e esgaçava as fronteiras porque não distinguia as raízes do tronco nem do ramo nem das folhas, nem das flores nem dos frutos. Tudo nela era Ilha. Daniel não queria aceitar fazer parte da nossa floresta, sendo ele a árvore mais frondosa e de frutos mais irresistíveis dela. Levou à letra a exclamação de Cristo de que ninguém é profeta em sua terra. Mas se lermos o Pastor das Casas Mortas veremos que os escritores também se enganam. Não há ali uma vírgula que não seja nossa. João de Melo? Está bem. Martins Garcia? Pois sim. Daniel de Sá trabalhava a palavra como o ourives o ouro e não havia ouro mais fino que as palavras de Daniel de Sá. Naquele pastor adivinha-se uma tristeza tão profunda que não cabe nem nas casas vazias e mortas. Prenúncio deste desaparecimento prematuro e imerecido? Talvez, que só os deuses podem responder às questões dos imortais. Cérebro, coração e génio casaram-se ali numa escrita que alegra o mais fundo da alma. Nosso. Muito nosso!

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