matar a galinha dos ovos de ouro . José Gabriel Ávila

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Querem matar a galinha? Crón. Radio Atlântida
Começam a despontar, aqui e ali, dissensões entre instituições representativas do empresariado regional, sobre uma recente atividade económica que teve um crescimento exponencial. Refiro-me ao turismo – setor que nos últimos anos registou passos de gigante no reconhecimento das nossas potencialidades, na procura do destino, acompanhada da construção de unidades hoteleiras de grande dimensão e na oferta de instalações em espaço rural e alojamento local.
Tudo parecia correr bem, quando esta pandemia afetou todos os habituais destinos turísticos.
Já tínhamos ouvido falar das importantes quebras ocorridas nos países do norte de África, em consequência da Primavera árabe, de que os Açores tanto beneficiaram, mas os empresários e investidores estavam bem longe de esperar que uma outra situação, não menos grave que os conflitos no Magrebe, nos pudesse prejudicar e com tamanha gravidade.
Mas é assim: o turismo é uma indústria muito sensível, e de um momento para o outro qualquer situação anómala ou a instabilidade social pode deitar tudo a perder.
Quando ainda não temos um destino estabilizado, conhecido e afirmado, vir questionar a baixa classificação das estruturas e instalações existentes, não parece nem avisado, nem sensato. Não que se reconheça a excelente qualidade da oferta e o profissionalismo da mão de obra. Não. Temos lacunas na prestação do serviço, a todos os níveis.
Mas uma das maiores falhas reside no fato de haver investidores que se lançaram na construção de empreendimentos para que não tinham nem conhecimento nem formação adequada para este negócio. Outros embarcaram no negócio porque, se dá para os outros também dá para mim, mas sem preocupações de pagarem salários dignos. Enriquecer em pouco tempo foi o que muitos dos investidores pensaram.
O público desentendimento entre as Câmaras de Comércio da Horta e Angra, com a de Ponta Delgada, quando os investimentos foram recentemente feitos, não traz nada de bom ao setor.
Os Açores não podem ser geridos como um todo, pois há diferenças significativas na oferta turística. E os visitantes reconhecem-no. Há quem goste de alojar-se nas Flores, na típica e ancestral Aldeia da Cuada, ou na Quinta do Martelo, na Terceira, ou então numa casa rural do Nordeste ou do Pico ou de São Jorge, vivenciando espaços diferentes e assimilando vertentes ambientais e geográficas tipicamente açorianas.
Unidades de 5 e de 6 estrelas, ficam bem em Nova Iorque, em Paris ou noutra mega-cidade, onde os endinheirados tudo exigem e nada perdoam.
É esse o tipo de visitante que queremos? Julgo que não. Na fase em que nos encontramos, temos de dar qualidade ao serviço e ao tipo de instalações hoteleiras construídas e não pensar em megalomanias, porque os dinheiros públicos devem ser orientados para a formação e qualificação profissional, para o bem-estar e saúde dos cada vez menos residentes e para a preservação do nosso frágil património ambiental.
A união de vontades e a inclusão de todos os empresários do setor turístico é a melhor forma de responder à crise. Não é todos pensarem o mesmo, não. É todos pensarem nas melhores soluções para não matar a galinha dos ovos de ouro que tem ainda muito poucos anos de vida.
José Gabriel Ávila
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