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MÁRIO MESQUITA – UM ILHÉU MUITO À FRENTE, DO PAÍS…
No dia em que a RDP Açores faz 81 anos de vida, não me apetece escrever nada. São tantas as memórias e as perdas, que sinto uma nostalgia sem retorno. Nem a casa do velho Emissor Regional dos Açores, símbolo de uma cidade de 2ª Guerra Mundial, conseguiu resistir. Nem Gaspar Fructuoso, nome da rua, Historiador-Mor,- 500 anos depois do seu nascimento – conseguiu sensibilizar quem quer que seja…Da minha janela há hoje uma cidade cinzenta, chuvosa e triste. Há dias assim…
A morte abrupta, repentina, inesperada, de Mário Mesquita, deixa-me num vazio imenso. Revejo o que lhe escrevi há poucos dias: “ Caro Amigo, Mário Mesquita. Tarde é o que nunca chega e eu chego em cima data limite do prazo. As minhas desculpas… Aqui lhe deixo o meu olhar impressionista sobre Manuel Ferreira com a gratidão de tão honroso convite”. Mário Mesquita tinha convidado por telefone e depois por escrito, para com Ele, Ernesto Resendes,e Santos Narciso, ajudar a coordenar um livro de “ estudos e testemunhos” sobre o escritor e jornalista Manuel Ferreira, pois segundo M.M. “dez anos decorridos após o desaparecimento de Manuel Ferreira, é ocasião de lembrar a sua personalidade singular e o seu papel na literatura e na imprensa açoriana”
Foi a última vez que conversei ao telefone com Mário Mesquita. Ele por causa de Manuel Ferreira e eu, para falar do meu reconhecimento pela sua obra notável, exemplar, superior. Para lembrar o pai, Higino Mesquita, com quem passei grandes momentos à conversa junto à Palmeira do Largo de Camões, sempre na busca de um mexerico de bastidor quando o seu filho Mário era o brilhante e interventivo Director do Diário de Noticias de Lisboa; para falar destas coisas corriqueiras do ser-se avô…Dias antes da apresentação do livro sobre a sua obra, o correio trouxe-me, enviado pela editora, o livro sobre a sua obra” A Liberdade por Princípio, Estudos Testemunhos em homenagem a Mário Mesquita” com uma tocante dedicatória:” Para o Sidónio Bettencourt com a amizade e o apreço profissional do Mário Mesquita”. Em 1989, brindou-me no Diário de Lisboa, que então dirigia, com um texto de reconhecimento e incentivo, sobre o meu modesto contributo ao jornalismo radiofónico, com a reportagem “ Vestígios Açorianos no Desterro Brasileiro”. Não tendo sido académico e muito menos seu aluno, bebi tudo que escrevia, quer nos jornais, nos livros, nas revistas da especialidade como a “ Comunicação e Linguagens” da Universidade Nova de Lisboa; quer sobre os Açores e toda a temática sobre a História e em particular nas relações com os E.U.A. Tenho à cabeceira o “ “Mini-Dicionário da Autonomia dos Açores” que passa por conceitos tão detalhados como “ açorianidade, autonomia, nacionalismo, continente, iberismo, separatismo, consciência regional” e tantos outros de plena actualidade…
A sua dimensão é imensa, inovadora e multidisciplinar, de grande qualidade, académica, jornalística, literária. Um pensamento de luta e de lucidez. Um grande intelectual que orgulha a sua terra, os Açores; a sua Ilha, São Miguel, o seu país, Portugal. Mário Mesquita é um Ilhéu, muito à frente, do seu País.
Mário Mesquita vai para Ficar, cada vez, mais Presente. O Tempo vai dizer-nos do tamanho do seu Exemplo, e da sua Obra.
Há dias ao telefone uma última frase em jeito de despedida: “ a sua neta, é toda, o seu avô. Nunca me engano nas feições”. Ele sorriu… Para sempre. S. B.
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