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MANUEL VICENTE E OS CORRUPTOS ASSINTOMÁTICOS.
A corrupção, em Angola é tão perigosa e silenciosa que se parece à COVID-19. Alguns já morreram por causa dela. Ninguém ainda foi à cadeia por ela e os que estão a combater a corrupção, fazem-no por serem corruptos assintomáticos. A corrupção é tão veloz e tão difícil de conter que, já não se consegue identificar o foco de crescimento e ou propagação. Os que deveriam estar na linha da frente nesse combate, parece-me que são eles os mais infetados. Não me estou a referir aos afetados(povo). Embora estes últimos, também corram riscos de se infetarem algum dia (não há corruptos sem corruptores), por causa das políticas públicas que não são tão fortes de modos a funcionarem como uma barreira ou como máscaras de proteção anticorrupção.
Recentemente, foi aprovado/ revisto o Orçamento Geral de Estado (OGE) e, como tem sido habitual e “normal” anormal, os famintos aproveitaram o ensejo para aprovarem a construção de uma clínica dentária para eles, que os pudesse tratar dos dentes depois de algum resquício de carne ou bacalhau lhes atravessar os dentes. Afinal, para eles nem mesmo o fio dental resolveria um pequeno desconforto dental. Onde é que o povo fica? Ou seja: tudo o que se faz de bom tem sido apenas para os deputados. Nunca é para o bem comum! Tudo isso, é fruto de uma falta de ética desmedida e de desinteresse completo na construção de ideias que sejam efetivamente benéficas para todos. O Reflectir África entende que nenhum país está imune à corrupção. Porém, o abuso dos cargos públicos para ganho pessoal, o desvio de fundos públicos que serviriam, por exemplo para construção de hospitais, estradas ou escolas com apetrechamento digno, seja em termos de Recursos Humanos, seja com estruturas físicas no sentido arquitectónico ou da engenharia da construção civil e a falta de patriotismo dos governantes deteriora a confiança das pessoas no governo e nas instituições, reduz a eficácia e a justiça das políticas. Depois, ainda se admiram como é que a juventude começa a achar que afinal não é assim “tão especial”.
Seria bom que se entendesse que a corrupção afeta gravemente a capacidade do governo de ajudar a economia a crescer de modo a beneficiar todos os cidadãos.
No dia em que os nossos políticos ganharem consciência de que a vontade política é mais importante no combate a corrupção do que mostrar a comunidade internacional de que, de facto se está a combater a corrupção, então teremos dado início à construção de uma autoestrada que nos conduzirá ao combate sério contra a corrupção. Numa altura em que MV comprou, supostamente, uma mansão, no Dubai, no valor de 16 milhões de dólares – perto de 9 bilhões de kwanzas, vem a novidade do OGE onde os deputados, efusivamente e talvez sem fusíveis, votaram a favor, aprovando assim a construção de uma clínica dentária para os imaculados servidores públicos – Lamentável!
Há vozes que afirmam, já não acreditar nas vãs e falsas corridas contra a corrupção que se iniciou há muito tempo em Angola, mas que em 2017 viriam a ganhar outro tom. Alguns afirmam que esse combate precisava de um “vídeo árbitro diferente e neutro”. Um árbitro que não seja também ele um dos rostos da corrupção (talvez fosse/seja necessário fazer uma reforma intensa e contundente à nossa Justiça). Pois, acredita-se que existam dois pesos e duas medidas. O que atropela o principio da proporcionalidade e da igualdade. A tramitação processual do caso MV parece estar a pesar pluma nos ombros do general. Afirmam vozes que nos trazem os ventos do sul. Onde anda o dossier de Manuel Vicente que se pediu de Portugal para que ele fosse investigado e julgado por Angola e em Angola? Será que nos podemos atrever a dizer que quando se fala de MV se está a falar de um tubarão da corrupção? Já não se fala dele porque a fazerem corre-se o risco de desativar a teia da corrupção? Porque é que se santificam demónios quando já tínhamos santos há mais, seja no fundo Soberano, na Sonangol ou na Presidência da República e mesmo assim, fomos engolidos e até, nem mesmo uma oração nos conseguiu livrar de tantas façanhas? Tanto os Santos como os “São Vicente de fora”, desgraçaram os anjos e arcanjos da nossa cidade e, hoje, nem nos podemos comparar a Botswana, Ilhas Seicheles, Cabo-Verde ou a outros países africanos que têm combatido a corrupção com inteligência, afinco e, por isso mesmo têm conseguido ter algum crescimento humano e devolvido o respeito às instituições do Estado. A nós, falta-nos ética e moral! Por isso é que ainda vemos deputados a aprovarem a construção de clínica dentária para eles ao invés de resolverem os problemas do povo, defendendo políticas que tenham como denominador comum a paz e a justiça social.
RÁF.
