mais uma crónica do Francisco Madruga

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“Luís Maria Madruga – um militar do mês da Liberdade”
O Ti Cubeiro de Sendim
Conheci esta personalidade de Sendim há algumas décadas. Ele e Luís Maria Madruga foram camaradas na Guarda Fiscal. Encontraram-se algures entre Miranda do Douro, Bemposta ou Mogadouro. Cada vez que Luís Maria Madruga era promovido, era obrigado a concorrer para outro sítio. Ti Cubeiro, fazia todos os possíveis para o acompanhar. Quando se encontraram no Comando, no Porto, ti Cubeiro era o motorista. Voltaram a encontrar-se por Terra de Miranda quando Luís Maria Madruga atingiu o topo da carreira e querendo voltar a Mogadouro, concorreu sucessivamente para Miranda, Bragança e finalmente para Mogadouro, onde veio a falecer a 3 de junho de 1981.
Certa noite, altas horas da madrugada, quando todos dormiam, acordou estremunhado. Tinha ouvido a voz do de seu parceiro, do Cubeiro de Sendim.
– Ó Madruga, ó Madruga, ó Madruga…
– Florinda, tu não ouves a chamar por mim?
– Dorme homem. Estavas a sonhar!
– Parecia-me a voz do Cubeiro.
– Ó Madruga.
– É ele, eu não te dizia.
Levantou-se, abriu a janela e lá estava ele, com o saco na mão e uma vontade enorme que o amigo lhe abrisse a porta.
Não sei como correu a noite. Isso não me contaram, mas sei de outros episódios entre os dois. Quando da última promoção, juntou as guarnições de Bragança, Miranda e Mogadouro e fizeram um convívio em Fonte d’Aldeia. Convocou o motorista, o Cândido da Castanheira, andaram com o Jipe a correr as capelinhas das tias para recolher salpicões, chouriças, pão e vinho. Foram à Castanheira à tia Prazeres, a Santiago à tia Regina e a Peredo de Bemposta à tia Bárbara. Apresentou-se a Companhia de Mogadouro com as melhores iguarias gastronómicas.
Não se pode, nesta história, contar todas as peripécias em Fonte d’Aldeia, sabemos, no entanto, que foi muito divertido este convívio entre praças, cabos, sargentos e oficiais.
Estive com o Ti Cubeiro, num Intercéltico em Sendim, procurei por ele a Amadeu Ferreira.
– Francisco, tu conheces o Ti Cubeiro?
– Sim, há muitos anos.
– Inda à cachito estava ali nas escaleiras à beira da Gabriela. Olha, inda lá está.
– Ti Cubeiro, não sabe quem eu sou?
– Eu não!
– Sou filho do Madruga.
– Car@lho, quem esperava aqui por ti? Vamos a minha casa comer e beber um caxito e conversar.
– Não dá, tenho aí uns amigos. Amanhã temos que nos levantar cedo para ir à missa. A Dra. Ilda Figueiredo quer assistir. Nunca participou numa missa com acompanhamento dos Gaiteiros.
– Dá lá cumprimentos à tua mãe.
– Serão dados.
Voltei a vê-lo no Verão passado em casa da filha. Dia de festa em Sendim. Recebido por um canicho que me tentou morder as canelas. Já não me reconheceu nem pelo nome. Eram assim os amigos do meu pai. Voltei a passar à porta da casa do Ilídio Cordeiro, da Conceição e das filhas Paula e Cristina. Era a nossa segunda morada. Depois da morte de Luís Maria Madruga, a ida era para Sendim antes de rumarmos a Vale da Madre. Não sei porquê, mas Sendim parecia mais perto depois da rotunda da Senhora do Caminho. Coisas inexplicáveis, talvez. Saúde e Amizade a todos os amigos do meu pai.
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