mais uma crise OSVALDO CABRAL

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Já tínhamos a pandemia.
Os políticos irresponsáveis acrescentam-lhe, agora, uma crise política.
E, como se não bastasse, começam a surgir sinais sombrios na economia.
Só faltava, neste caldeirão, uma crise política regional.
Longe destes sinais, geograficamente, pensamos que as consequências do que se passa no mundo ou nos mercados mais próximos não chegam cá.
Também pensávamos que a pandemia não chegava e até queríamos fechar aeroportos…
O que vem aí não parece nada de bom e se falarem com alguns empresários ficarão a saber que, também entre nós, já se começam a sentir dificuldades nas encomendas de alguma matéria prima, produtos importados para o natal e escassez de materiais essenciais, sobretudo na área da construção civil, com uma subida imparável de preços.
O petróleo disparou, a electricidade cavalgou, os fretes de contentores não param de subir, há filas enormes nos portos, a inflação agrava-se, o abastecimento de cereais escasseia, já há países a queixarem-se de alimentos básicos e até já vemos alguns deles, como a China, a aconselhar a população a armazenar stocks de produtos.
Sabendo da nossa fragilidade ao exterior e da fraqueza do nosso sistema de produção, oxalá que não tenhamos de enfrentar uma tempestade perfeita.
Portugal já está a ser confrontado com taxas de juro mais altas para o seu refinanciamento, o que quer dizer que a Região, pronta a endividar-se mais uma vez, vai encontrar taxas de juro de referência muito mais altas.
O período das moratórias terminou e as notícias não são boas, para particulares e para empresas, onde o risco de incumprimento é bastante elevado.
O crédito concedido pela banca é um bom barómetro sobre famílias e empresas, pelo que basta ir à procura dos números para perceber como é bastante óbvio que estamos todos a viver, aqui nos Açores, numa espécie de bolha artificial, muito acima da riqueza que criamos.
Só um exemplo: até Setembro deste ano as famílias açorianas já tinham recorrido à banca em mais de 861 milhões de euros, apenas para crédito ao consumo, mais do que os 780 milhões do mesmo período do ano passado e um recorde este ano.
Se juntarmos às famílias as instituições sem fim lucrativo ao serviço das famílias, o crédito sobe para mais de 3 mil milhões, outro recorde este ano.
O crédito concedido para habitação também sobe e apenas as empresas se têm retraído no acesso ao crédito, até porque muitas delas recorreram às moratórias e aos apoios oficiais por causa da pandemia.
A nível nacional a capacidade de financiamento das famílias situou-se em 5,2% do PIB no ano acabado no 2º trimestre de 2021, menos 2,3 p.p. que no trimestre anterior, refletindo sobretudo a diminuição da poupança bruta em 18,1%.
Ou seja, a taxa de poupança das famílias atingiu 11,5% do rendimento disponível, o que correspondeu a uma redução de 2,7 p.p. relativamente ao trimestre anterior.
Tudo isto são apenas sinais, mas as crises começam assim, com sinais de comportamentos não muito animadores.
A juntar a tudo isso temos os resultados do poder de compra, que ainda agora foram publicados pelo INE, onde são patentes as desigualdades nas nossas ilhas, mas com forte destaque para os concelhos micaelenses de Nordeste, Vila Franca e Povoação, o que pode ser esclarecedor para muitos açorianos de outras ilhas.
Perante estes cenários, não podemos hesitar em tentar, pelo menos, contrariar o pior, recorrendo a políticas públicas que tornem o caminho menos penoso.
É por isso que o próximo orçamento regional é importante, alavancado pela oportunidade da bazuca e do novo quadro comunitário de apoio.
Para tal, precisamos de dinheiro para investir com a comparticipação europeia.
E o que produzimos, infelizmente, não é suficiente. Pois é, resta-nos o endividamento, o tal “monstro” de que todos gostariam de fugir mas não conseguem.
Em resumo, com estes sinais, se pomos em cima mais uma crise política – ou um agravamento da pandemia -, então só nos resta rezar ao Senhor Santo Cristo.
*****
FINALMENTE! – Há coisas que não se compreende neste governo.
Ao tempo que já podiam ter resolvido a hesitação, incompreensível, da ampliação da pista da ilha do Pico. Os estudos estão mais do que feitos.
Hesitaram, esconderam, ignoraram, para, agora, finalmente, assumirem o óbvio.
Trata-se de uma aposta estratégica para o Triângulo que vai alavancar todo o potencial económico que está naquele grupo de ilhas.
Ainda bem que Bolieiro se decidiu, em detrimento das hesitações dos técnicos da Direcção Regional de Transportes.
Esta é uma aposta estratégica política, em prol do desenvolvimento de um grupo de ilhas, que não se compadece com as contas de gabinetes e dos burocratas do costume.
É uma opção política que merece todo o apoio e que já devia ter sido desenhada pelos governos anteriores.
Agora é arregaçar as mangas e ter em atenção que não se pode apostar no mal menor, ou seja, numa ampliação mínima para algumas aeronaves.
Ter visão no futuro é apostar nos tais 700m de ampliação para permitir a operação do A321 sem limitações.
Ao que parece a SATA quer livrar-se dos A320 e ficar só com os A321neo e A321LR, mas para isso a pista do Pico tem de crescer.
E a da Horta também, mas à custa da República.
(Osvaldo Cabral – Diário dos Açores de 10/11/2021)
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  • Antonio Hermínio Botelho

    A falta de produtos, de matérias primas e os aumentos de preços anda a passar um pouco ao lado do comum cidadão, nos bens supérfluos suporta-se, mas quando chegar aos essenciais vai ser grave, as empresas para subsistirem tem que produzir e vender, se não tiverem os meios para isto ou forma de darem a volta simplesmente acabam.
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