mais um poema covid – Ah! Esta solidão mascarada que asfixia

Views: 0

 

719 ESTA SOLIDÃO MASCARADA QUE ASFIXIA 5.2.2021

 

Ah! Esta solidão mascarada que asfixia

Este isolamento involuntário a que nos obrigam

Esta segregação imensa que nos anquilosa

Este drenar cerebral que nos impede de ler livros

Ah! Esta solidão mascarada que asfixia

Esta lavagem covidesca ao cérebro

Como se não houvesse mais doenças

As restrições e as proibições e as negações

Ah! Esta solidão mascarada que asfixia

As vacinas, os entubamentos

Os mortos diários como folhas que caem das árvores

Os internados, os positivos, os recuperados

Os contaminados por esta lepra do séc. XXI

Ah! Esta solidão mascarada que asfixia

A economia morta, as famílias moribundas

O ensino de rastos, e a proibição de comprar livros

As igrejas abertas, ginásios fechados

Ah! Esta solidão mascarada que asfixia

As revistas não propagam o vírus porque entorpecem

Os livros são perigosos porque abrem janelas

E proibições atrás de proibições

Neste país de saudades salazarentas

De denúncias pidescas, de invejas mesquinhas

De pânico e medo que nos metralham

A toda a hora nos jornais, telejornais

Ah! Esta solidão mascarada que asfixia

Neste carnaval em que não podemos despir a máscara

O humor ainda não foi vetado mas não é apreciado

Ah! Esta solidão mascarada que asfixia

E o vírus que me matou a mãe, primos e amigos

Ainda não me matou a alma nem a poesia

Nem a utopia e sonhos

Nem a vontade de ser livre

Nem me silenciou

Nem me condenou ao cadafalso

Ah! Esta solidão mascarada que asfixia

E não há ventilador que nos salve

desta solidão mascarada que asfixia

 

inédito vol 6 de crónica do quotidiano inútil