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Nem sei por onde começar, pois são cada vez mais os disparates que vamos assistindo nesta governação, completamente desorientada, cheia de capelinhas e, à imagem e semelhança do governo anterior (que tanto criticavam), cometem os mesmos erros estratégicos, com forte aposta no monstro público e ingerência na gestão das empresas públicas.
O que estamos a assistir, nas últimas semanas, com sucessivos anúncios da SATA na criação de rotas completamente estapafúrdias, só podem resultar de ingerências políticas e lobbies de ilha, num retrato já visto na governação anterior e que resultou no afundanço da companhia.
O que se está a fazer, irresponsavelmente, é dar argumentos a Bruxelas para forçar a SATA a um aperto extremo na sua reestruturação.
Como é que se explica a Bruxelas que as rotas agora anunciadas têm viabilidade económica?
Estamos a voltar, perigosamente, aos tempos antigos da irresponsabilidade política, que nos conduziram ao enorme buraco financeiro em que estamos mergulhados.
Da estratégia para o turismo então nem se fala, porque ela, simplesmente, não existe.
Estamos quase a chegar ao novo Verão IATA e não se conhecem programações, não sabemos que estratégia promocional vai ser feita e aquilo que se vai anunciando é uma dor de alma, porque estamos a regredir anos.
Como é possível o governo e a ATA atribuírem verbas a instituições para campanhas de promoção de uma ilha de forma isolada?
E as outras? Qual é o critério?
Vamos voltar aos tempos antigos em que cada ilha se “desenrasque” na promoção turística, abandonando o destino e a marca Açores no seu todo?
Nunca se viu tanta desorientação.
Vamos ouvir falar, nos próximos dias, de outros disparates, entre os quais o da anteproposta do PO 2030, um documento que está em consulta pública até 25 deste mês.
Desconfio que, para além dos parceiros sociais, mais alguém dedique um minuto do seu tempo a ler aquelas 60 páginas ocas, sem estratégia nenhuma e sem um modelo definido de desenvolvimento para os próximos 7 anos.
É um documento, também, a lembrar os velhos tempos, em que a administração pública leva sempre a maior fatia do bolo e as migalhas restantes vão para o sector produtivo desta região.
Como é que se explica que as empresas desta região, o sector que cria riqueza e empregos, tenham um valor atribuído menor do que o programa anterior em quase 100 milhões de euros?
Se a explicação tem a ver com a fraca execução destes últimos anos, como já ouvimos por aí, então é um argumento infantil.
Toda a gente sabe que, nestes últimos anos de pandemia, nenhuma empresa no seu perfeito juízo se aventurou a investimentos, sem saber que cenário vai encontrar nos anos a seguir.
Em vez de reforçar a competitividade das empresas, que bem precisam neste novo arranque económico, o PO 2030 diminui a aposta e reforça – imagine-se! – a “gestão do programa” para 23 milhões de euros, quando antes era de apenas 7 milhões.
É o reforço da monstruosa máquina pública, em detrimento da competitividade da economia transacionável, da inovação e de uma estratégia de desenvolvimento que crie riqueza em vez de engordar uma administração preguiçosa.
Este PO tem que ser alterado, de alto a baixo, esperando-se que as forças políticas e os parceiros sociais, com assento no CESA, obriguem este governo a mudar de agulha, como tinha prometido quando tomou posse, em vez de manter as mesmas políticas ruinosas a que nos conduziu a governação anterior.
A escolha que temos pela frente, nesta nova oportunidade que a União Europeia nos oferece, é simples: ou mantemos o rumo que traçamos até agora, que foi de divergência e mais pobreza, ou mudamos corajosamente de estratégia, apostando naquilo em que somos mais ricos e de onde poderemos retirar as mais valias económicas.
A iniciativa privada deu um grande exemplo de resiliência nestes tempos de pandemia, graças aos apoios públicos disponíveis, é certo, e o melhor resultado que poderiam apresentar está agora à vista, com os últimos números acabados de divulgar pelo SREA, que dizem que as exportações açorianas aumentaram em pleno ano de pandemia.
Isto sim, são boas notícias, a somar ao cenário favorável que se apresenta já este ano para o sector do turismo.
O sucesso deste governo está dependente do resultado como vai aplicar todos estes milhões que vão chegar de Bruxelas.
Se é para fazer como antes, então preparemo-nos para mais pobreza.
Este governo tem falta de punho, deixando-se enrolar pelas capelinhas internas, algumas delas criadas por quem nem tem representatividade popular.
O poder pode ser muito apetecido, mas se não for gerido com inteligência e rigor, pode resultar em oligarquias completamente alheadas da realidade e dos cidadãos.
Ninguém quer isso para os Açores.
(Osvaldo Cabral – Diário dos Açores de 16/02/2022)

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