Macau, filmes e SENNA-FERNANDES

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Amor e Dedinhos de Pé
No jornal Ponto Final de ontem dava-se notícia de que, na Fundação Rui Cunha, teria lugar hoje, dia 16, a primeira exibição de uma série de nove filmes sobre a cidade, com o tema “Macau como inspiração no cinema”. O primeiro seria focado em Henrique de Senna Fernandes e no filme “Amor e Dedinhos de Pé”, baseado no romance homónimo deste autor. O filme, realizado por Luís Filipe Rocha, tem como personagem principal o jovem Francisco Frontaria (interpretado por Joaquim Almeida), um dos últimos representantes de uma família macaense que construiu fortuna e reputação no tráfico de mercadorias e no combate à pirataria nos portos do sul da China. O seu lançamento oficial aconteceu a 20 de março de 1992.
A exibição do filme será precedida de uma apresentação a cargo de Miguel de Senna Fernandes, filho do autor do livro, que ao Ponto Final referiu a sua satisfação com o evento, por ser uma homenagem a seu pai, já que o filme faz jus à sua obra, na qual se baseia e que “é uma pintura sobre uma Macau nos finais do século XIX e no limiar do século XX, […] uma descrição única sobre esta Macau”.
Pois, isto é o que vai acontecer hoje, ao final do dia, em Macau, numa homenagem merecida a Herique de Senna Fernandes, advogado, escritor e grande contador de histórias, que eu conheci e fui amigo. Mas não é disso que me proponho falar daqui para a frente. É dos bastidores desse filme que eu revejo sempre que posso com renovado agrado. Cheguei, inclusivamente, a passá-lo nas minhas aulas, na disciplina “Os Portugueses do Oriente”, que dei durante alguns anos na Universidade Sénior de Almada.
Vivia eu em Macau, quando, num dia como tantos outros, fui contactado por Luís Rocha que, simpaticamente, me convidou a fazer parte de um grupo de figurantes que participaria na rodagem do filme “Amor e Dedinhos de Pé”, do qual ele era o realizador. Para mim foi uma surpresa e, ao mesmo tempo, um desafio. Nunca participara na rodagem de um filme, nem em brincadeira, e por isso, o inusitado da situação atraia-me muito. Para além disso, gostava de dançar e a valsa não me era desconhecida. Por isso, aceitei logo o convite e, durante o mês de outubro de 1990, dancei a valsa como nunca.
No enredo do filme, há um momento importante que é, precisamente, o do baile, do “nosso” baile, no qual o bon vivant do Frontaria ultraja a jovem Vitorina Vidal, tratando-a maldosamente por “Varapau d’Osso”. Este incidente marca toda a trama do filme com o amor/ódio que, a partir daí, se desenvolve entre eles e que acaba, também, por contaminar as respetivas famílias. E foi muito interessante para mim poder apreciar de perto, e por dentro, a rodagem deste filme, sobretudo porque era um filme de época e tinha uma relação estreita com a cidade onde eu vivia e cuja história me apaixonava. E mais, o autor do texto, Henrique de Senna Fernandes, era um dos elementos que integrava o mesmo grupo do baile, sendo assim um dos meus colegas de valsa. A mesma valsa repetia-se horas a fio, enquanto nós nos alagávamos em suor, porque o calor era muito, os nossos fatos quentes e o ar condicionado não podia funcionar porque apagava as velas dos lustres. Sofríamos, mas também sentíamos um grande prazer em participar daquele baile elegante e único, como se tivéssemos conseguido romper a tela do tempo e nos encontrássemos mesmo num salão de baile de Macau antigo. “Varapau d’Osso”, ouvimos de repente. Henrique acena com a cabeça enquanto Vitorina Vidal abandona o salão envergonhada. Francisco Frontaria retira-se com os amigos e o baile acaba. Despimos as roupas e os adereços e vamos até minha casa, no Koutei Vukai. O chá é de jasmim e a música que nos chega é a mesma do filme.
Nota: 1. O Filme, capa de cassete vídeo; 2. Com Joaquim Almeida (Francisco Frontaria) e Henrique Viana (Timóteo); 3. Com outros figurantes; 4. Henrique de Senna Fernandes.
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  • Bem…tenho de verificar se é verdade que tiveste aulas de valsa nos bailes da Chibia. Abraço!
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