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No mesmo dia em que António Costa fez uma nova promessa de milhões de euros para o “Cluster do Mar dos Açores”, a Fundação Francisco Manuel dos Santos divulgava um estudo a confirmar que os Açores possuem a maior taxa de pobreza do país.
Ou seja, 40 anos depois da implementação de uma Autonomia que nos trouxe governo e parlamento próprios, continuamos pobres e dependentes dos milhões do exterior.
O cidadão comum e pobre tem razões para se interrogar: para que serve “esta Autonomia”?
Trata-se de uma questão a que os políticos e intelectuais desta terra fogem como o diabo da cruz, pois o processo autonómico foi desenvolvido ao longo destes anos como uma “vaca sagrada”, sem que alguém possa questionar os seus resultados, muito menos os seus fracassos.
Se a nossa Autonomia já tinha sido feita com muita elite partidária e pouco povo, imagine-se agora, ao fim de todos estes anos e de tantos estudos, o que não devem estar a pensar dela as famílias mais pobres desta região.
O fosso das desigualdades que se cavou nestes anos de Autonomia é do tamanho do interesse que a maioria dos cidadãos dedica às questões autonómicas e à política.
Talvez esteja aqui a explicação para a enormidade do fenómeno abstencionista e para o indicador europeu, que diz sermos os piores em participação cívica.
É disto – das causas da pobreza, da profunda desigualdade e de tão elevado número de famílias no RSI – que os doutos políticos deviam falar em tantas Comissões para o Aprofundamento da Autonomia, em que passada tantas legislaturas parlamentares (cada uma delas a custar aos nossos bolsos 12 milhões de euros por ano), ainda não chegaram, escandalosamente, a lado nenhum!
Antes de “aprofundarem a Autonomia”, ou de a enterrarem ainda mais, é preciso saber se é “esta Autonomia” que nos interessa ou se é outra diferente.
Vamos continuar a alimentar um modelo que continua deixar muita gente para trás?
Não se pode questionar a enorme fatia dos nossos recursos dedicada a um monstro administrativo em vez de nos focarmos na economia produtiva?
Queremos uma região recheada de empresas públicas falidas e resguardadas pelas clientelas partidárias ou um sistema que valorize a meritocracia?
É preferível criar riqueza ou uma máquina contínua de criar gente pobre?
Não será a hora de uma “nova Autonomia”?
Comecem por perguntar primeiro às tais famílias “da maior taxa de pobreza do país” e que “esta Autonomia” não conseguiu retirar nestas quatro décadas…
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Agora vamos aos milhões.
Quando estamos em ano eleitoral, é dito e certo: anunciam-se milhões ao desbarato para os Açores.
No ano passado eram os milhões para a Universidade dos Açores, os tais que o ministro da Ciência veio muito cientificamente explicar que se esfumaram na química de um protocolo que nunca foi assinado, depois do festim a que se juntou Vasco Cordeiro e João Luís Gaspar.
Agora são mais 30 milhões para o “Cluster do Mar dos Açores”, esta pomposidade em mais um papel que, provavelmente, não será assinado ou então fingir-se-à como o outro da Universidade.
Para o mar estamos conversados, que os políticos propagandistas gostam é da expansão visionária, com muita água à mistura. Agora falta descobrir o espaço, que o sonho dos políticos é muito mais expansionista, pois pode ir até Marte e, quiçá, até ao infinito.
Pois bem, e não é que o tal ministro das subtilezas volta à carga, desta vez para dizer que o lançamento de foguetões em Santa Maria ou é este ano ou então não haverá mais milhões.
O mesmo ministro que anunciou os milhões para a universidade açoriana e que se perderam pelo mar, é o mesmo que já vai alertando para os milhões que se vão perder pelo espaço!
Mas há mais: é o mesmo ministro que, há quatro anos, anunciou um supercomputador para o Air Center da ilha Terceira, cedido pela Universidade do Texas em Austin, EUA, mas que foi parar… à Universidade do Minho!
O reitor açoriano disse na altura que estava “surpreendido” com esta decisão, pelo que já vai levando duas no capelo do mesmo ministro.
Nós, açorianos, também vamos ficando calejados destas genialidades do governo de Costa.
Pelo que, no meio desta descredibilidade política e de políticos, voltamos ao princípio da crónica: afinal para que serve “esta Autonomia”?

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Osvaldo Cabral

– Diário dos Açores de 14/04/2021)

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  • Uma autonomia preocupada em pintar a folhagem de verde para esconder a podridão das raízes.