lusofonia, tudo por fazer (texto de 2002!!!!

20.2.1. MITOS DA LUSOFONIA

Vivi, convivi e aprendi a coabitar com lusofalantes, dos Orientes exóticos em Timor “Que o Sol em nascendo vê primeiro” que mitos salazarentos criaram, aos levantes menos excêntricos e que a revolução do 25 de abril (1974) esqueceu. Pugno pelos filhos que falam português qualquer que seja o país em que nasceram ou vivem. Encontrei na Austrália mais estrangeiros interessados em apoiar iniciativas de preservação da língua portuguesa do que nativos. Criamos novos mundos e redescobrimos outros, sem jamais identificarmos a mesquinhez desta maneira de ser que nos faz sentir, simultaneamente, grandes e pequenos, talvez até maiores ou menores do que somos, quem sabe? Agora que o grande desafio do séc. XXI nos confronta, maior que um Adamastor, importa afirmar o que imodestamente nunca fizemos, nem mesmo quando o Português era a língua franca dos comércios do mundo. Precisamos de manter viva a língua e vamos precisar de todos, especialmente dos que forem capazes por artes e engenhos, de assumir iniciativas arrojadas: que o façam sem ser em busca de louvaminhas, nem em busca da vã glória e fama fugaz de que se fazem tantas carreiras, nem de usura ou lucro. É preciso gente dedicada, como os trabalhadores que quotidianamente constroem o nosso meio ambiente sem encómios. Não precisamos de iniciativas arrojadas, mas revolucionárias, mesmo que os formatos sejam os tradicionais: simpósios, conferências, seminários, colóquios, ou boletins informativos, capazes de captar ouvintes e leitores com a língua de origem lusófona que adotamos ou queremos como nossa. Mesmo que sejam políticos bem-intencionados, deles não queremos as vãs e bem-soantes palavras eleitoralistas que um qualquer vento dos votos levará, queremos trabalho e o cumprimento de décadas de promessas. Língua é cultura, não tem preço. Queremos uma política da língua, à semelhança doutros países, que permita a sua divulgação ampla como meio fundamental de manter a independência política, cultural e linguística. Só assim manteremos acesa a chama com que comunicamos dos Algarves D’el-rei que já esquecemos, à Índia de Vice-reis que nossas nunca foram, a Timor de quem olvidamos a existência durante cinco séculos, a Goa, Malaca e Macau de que apenas nos lembramos quando nos queremos sentir orgulhosamente beneficiários da herança portuguesa que é a língua. A essência do problema é manter a língua e a cultura vivas, não interessa onde nem como. (in Mitos da Lusofonia Revista Agália 2002)