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Alberto Pereira is with Luís Filipe Sarmento.
“AO RUBRO” – Luís Filipe Sarmento
Amanhã, 19 de Junho às 16h no Hotel Tivoli em Lisboa será apresentado o livro «Ao Rubro».
Luís Filipe Sarmento foi agraciado recentemente com
o PRÉMIO INTERNACIONAL «BALSA DE PIEDRA» pelo conjunto da sua obra. «Ao Rubro» reúne toda a poesia de 1975 a 2020. Desta obra fazem parte livros icónicos. Sobre um desses livros escrevi em 2019 um texto que intitulei:
UM DISPARO DE PÓLEN NO ALTAR DO PENSAMENTO
“KNK” de Luís Filipe Sarmento entra com ímpeto para o lote dos consagrados ao meu Olimpo literário de 2019.
Kant, Nietzsche e Kafka, se fossem vivos, não poderiam queixar-se de desigualdade perante o autor, porque o mesmo foi rigoroso consagrando 25 textos a cada um.
Filosofia de alto calibre, dividida em três partes: Transcendental (Kant), Morte de deus (Nietzsche), O processo labiríntico (Kafka).
O que Luís Filipe Sarmento consegue com este livro é um disparo de pólen no altar do pensamento. De uma só vez, despe deus, tempo, espaço, corpo, linguagem e silêncio. O que se pretende aqui, é caminhar pela invisível pronuncia da mente e não cair na infinda tabuada dos conceitos.
O autor procura o homem que negoceia o temperamento do granizo e se espiritualiza no frio, porque entende que só pelo ciclone o pensamento consegue entrar numa longa avenida de especiarias.
Da leitura cirúrgica desta obra repleta de chamamentos, podemos discernir: o movimento que renega deus para o interior se poder avolumar. Quem espera pelo Criador para se mover, fica no eterno tráfego do medo. E aguardar que o culto coloque algo em marcha é prender o cometa numa faca; o tempo, habitação na qual a maturidade vai imunizando com janelas a cegueira; o silêncio como única linguagem que faz fotossíntese e nos pode conduzir a uma doutrina não rasurada.
Na cartografia que o autor vai construindo, aprendemos: para atingir a claridade, por vezes, temos de engolir os pontos cardeais dos loucos. Só assim, a mente alcança uma voltagem de árvores que ultrapassa o divino.
Na segunda parte, dedicada a Nietzsche, está patente o fim de deus. E com esse desaparecimento, a aurora boreal deixa de ter cadastro. O prazer dá largas braçadas. O sexo pode entrar pela demência como um animal que se alimenta de harpas. A garganta larga o rapto e ascende como liturgia que não precisa de traficar cotovias nubladas. O que acontece aqui é a extinção do enxoval de salmos bolorentos, deixando a religião numa frequência desértica.
Talvez Cioran se pudesse juntar a esta tríade, não sendo a minha intenção desvirtuar o excelente título “KNK”, deixando-o um pouco mais obeso, “CKNK”. Mas, na verdade, Cioran insere-se perfeitamente nesta linha de pensamento, ao afirmar: “Desde o princípio dos tempos, Deus tudo escolheu para nós, até as nossas gravatas”.
A projecção filosófica de “KNK” insinua que temos de escolher a indumentária para o pensamento. Saber que na ascensão ou na ruína, a paisagem deve ter o nosso autógrafo.
Na última parte consagrada a Kafka, entramos na linguagem sem celibato. Textos que se podem lançar do onírico trapézio de Samsa ou K., fazendo longas piruetas na clorofila dos vocábulos.
Em suma, estamos perante um livro de uma verticalidade tremenda, onde Luís Filipe Sarmento deixa um alerta: temos vírgulas em todos os vocábulos com medo que a sociedade solte os cães sobre o nosso poema. Mas afinal, somos nós que mordemos as vértebras à claridade.
Uma obra sublime.
O mesmo digo sobre este “Ao Rubro” que nos faz viajar numa voz que sempre derrubou dogmas.
Luís Filipe Sarmento é um escritor magnífico e intemporal.
Não percam a oportunidade de marcar presença nesta festa literária.
Alberto Pereira
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