LUIS FILIPE SARMENTO, ÁCIDO 2022

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Boa noitinha.
O que não muda é número. Vamos a isto que a hora psicadélica já entornou a noite. Dizes bem. Um copo sintético à deriva dos costumes cristãos. Os muçulmanos adoram chocolate. Ai, se adoram! E comem-se uns aos outros. É proibido. E tanto faz. Muitos fazem e são maioria. Vê-los é um prazer no grande carrossel. Vou à pesquisa. Tenho a dúvida cheia de tormentas. Apocalipses na investigação da euforia. Faz parte do processo festivo. Um casaco ao contrário. A gravata às costas. O boné na nuca. Olha bem: o homem mistério revela-se na incógnita. Talvez o enigma esconda a teoria fabricada do oculto. Sem fantasmas, é claro. Já são desnecessários. É vê-los nos palcos das tribunas legais. E como são espectros vivem de ilegalidades. É um espectáculo de um circo lunar. Como lobos a uivarem nos funerais dos seus inimigos e aliados. O paradoxo sempre os uniu. Era tudo a fingir. Mas a fugir era a sério. Milhões serão sempre milhões em qualquer época. O que não muda é o número. Mas a grandeza do bolso abissal. Este ácido é tão transparente. E ainda que respire no pulmão da floresta, o oxigénio como aliado da visibilidade clara, a bad trip resulta da mixórdia em cozinhado de gala nos salões palacianos. Ácido, deixa-me tripar na consciência do sonho como nos anos 70. Uma boa trip à maneira do make love not war. Estás a ver? Ácido, o que vejo são as intermitências de lucidez cada vez mais diminutas nos cérebros destes humanoides vestidos de seda, como nas ilustrações antigas têm focinhos suínos e colares de pérolas descontados à avalanche de desempregados e famintos da democracia transmutada em verme chique, de salto alto. É uma ofensa aos drag queens. Estes são autênticos nas veias do espectáculo.
Vamos ao número que a notícia é de encher as más-línguas ao rubro da inveja. Na próxima esquina já serão notícia do seu veneno. Em comparação, o meu ácido é um mundo infantil abandonado à porta fechada do Toys“R”Us. O que me divirto na lonjura das montras. A alquimia do ácido transmuta o nojo daqueles néones em filigranas cósmicas como se fossem príncipes sem reino no caos colorido dos buracos negros. Um isqueiro e pum! Atentado ao negócio dos psicopatas em formato plástico aderente às mioleiras dos habitantes de berços dourados. E o pior desta bad trip é que as academias aplaudem e premeiam a vulgaridade mais vil da condição pós-humana. Certinho, certinho, é a cremação carnavalesca desta hediondez que se resume à sua última descoberta: o banho-maria para todos os desaguisados onde se digladiam até à peçonha do verme que neles habita desde a proto-história do insulto.
No meu ácido é a consciência da humanidade que resiste em minúsculos turbilhões de incendiários na raiz poética da existência elevada ao futuro magnífico de uma opera pacificae. And rol. And rol. And rol. A tua língua no meu idioma. Despindo um soneto de fraques e casacas. E no seu corpo nu o verso livre da Liberdade.
Insistes e perguntas com altivez: o que é isto?
É a trombose do teu umbigo mascarado de cifrões fora de circulação.
Eu? Em busca de um patchwork para um biombo sem fronteiras. Nesta agitação da latência dilatam-se pupilas no universo espacial do gosto.
O contrário seria deplorável.
Luís Filipe Sarmento, «ÁCIDO» 2022
Pode ser um grande plano de 1 pessoa
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