luis filipe sarmento 5º galope

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5º Galope

Dispo-te de todos os palimpsestos do traje que é em si a linguagem do desejo que expõe a nudez às línguas e às respirações pontuadas pelo silêncio e à contemplação da orografia da pele em toda a sua extensão secreta e húmida e deixo-me prender pelos dedos que sublinham a verticalidade viril dessa fragilidade que se perde nas furnas vulcânicas onde me retempero até à exaustão da falta de ar que autentifica o meu corpo fora da morte enquanto sou encostado às grades brancas que me suspendem no abismo do que há-de vir com o grito sufocado sob as almofadas musculadas dos teus veludos sensuais como mármores escaldantes e fontes insustentáveis de néctares orientais que me banham nas praias a sul do teu corpo onde articulas os teus membros como marés que me suspendem à superfície ou me mergulham nas profundezas onde borbulham os aromas mágicos que alquimizam o cansaço em energia cósmica para que a ressurreição te eternize no ápice do deleite até que os nossos céus ribombem como anúncio íntimo do apogeu harmónico desta sinfonia de sentidos desconhecidos e abstractos que vibram como cordas de violinos que vaticinam a proximidade da cavalgada final na paisagem universal das espirais que nos fazem elevar à explicação das galáxias durante o bigbang e que se expandiram até à existência da pele agora submersa por todos os oceanos de humores em marés vivas como se reinventássemos em cada grito de meteoritos o planeta que somos no caos universal do prazer que herdámos do vazio inicial tão escaldante como as estrelas que contemplamos neste momento único e irrepetível da arte que nos assina a plenitude

Luís Filipe Sarmento, «Rouge – Galopar», 2020
Foto: Isabel Nolasco

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