LUÍS FILIPE SARMENTO · 2º Galope

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2º Galope

Só os apocalipses são transformadores de sentidos na fronteira dos colapsos quando os céus deixam de ser azuis e o intervalo entre as palavras se bebe em taças de carneira com os humores que nos revigoram os corpos e o pensamento como planícies plenas de fogueiras e à boca da madrugada se penetram símbolos como jogos de identidade que sendo transparentes ocultam mais do que mostram ao blindar o espaço da intriga e almejando a essencialidade da mensagem em toda a sua estética estabelecendo correspondências de afectos mas também pontes para o que me é desconhecido e estranho nas exóticas paisagens das diferenças que me atraem até à exaustão da curiosidade e do saber e sentir em todos os poros as trocas de experiências que me alimentam a eternidade do espanto perante o movimento telúrico dos corpos ou da pose misteriosa das esfinges alinhadas num longo túnel de múltiplos arco-íris como um convite estimulante mas que me faz hesitar entrar nessa viagem que não será de regresso e me levará onde eu não sei sem que o destino se exiba majestoso nos oráculos e me surpreenda em cada passo com a alucinação dos inúmeros mediterrâneos que me constitui a ancestralidade que eu desconheço na sua gramática íntima e de multifacetadas divindades que facilitam o poder das metáforas para que entenda a origem deste sangue e a fé na sede dos céus pelo infindável caminho das sugestões que nesse espaço meta onírico há a plenitude do incógnito em toda a sua exuberância substancial na atracção pelo medo do esquecimento quando nada mais importa do que a sensação de cada detalhe da liberdade que este galope me presenteia na consagração do infinito até deixar de ser apenas um ponto no universo na glória dos astros

Luís Filipe Sarmento, «Rouge – galopar»
Foto: Isabel Nolasco

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