literaturas em língua portuguesa

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No dia 3 de Julho deste ano, no decorrer da Feira do Livro de Coimbra, assisti a um Encontro com José Carlos Seabra Pereira, cujo tema era “As Literaturas em Língua Portuguesa”, que contou com a moderação do professor, crítico literário e poeta, António Carlos Cortez.
O calor tinha graus a mais nesse domingo e até as moscas voavam baixo e pesadas. Tudo servia para fazer de leque, folhas de papel, uma revista, um desdobrável, ou até mesmo uma ou outra folha de plátano que o vento trouxera. Mesmo com a presença próxima do rio Mondego, o calor não se deixava abrandar. Felizmente corria uma brisa, ou era impressão minha, quando se começou a ouvir falar das literaturas em língua portuguesa. Foi, para mim, um momento alto e fresco naquele dia quente. Não é comum ouvir-se falar, com tanta propriedade, do conjunto das literaturas em língua portuguesa. Seabra Pereira encarregara-se da enormíssima tarefa de escrever o livro As Literaturas em Língua Portuguesa (Das Origens aos Nossos Dias), numa edição da Gradiva (2019), com o apoio do Instituto Politécnico de Macau. Trata-se, pois, de uma obra que não se limita à literatura portuguesa, antes se alarga às demais literaturas de língua portuguesa. Uma obra acessível, contudo rigorosa, para quem pretende ir mais fundo na sua reflexão e no seu conhecimento sobre esta matéria. Uma obra sobre uma língua de várias culturas que, por sua vez, suportam diversas literaturas. Há variadas culturas e línguas que coabitam e dialogam, se tornam mais fortes sem se evidenciar qualquer tendência uniformizadora ou centrada em hegemonias ou convergências, como acredita o próprio Seabra Pereira, fazendo notar que, é relevante “a referência à língua literária portuguesa com a interferência de variantes idiomáticas, de fenómenos de crioulização, de transvases de outras línguas”. Afinal, trata-se de uma língua falada em todos os continentes, pelo que, naturalmente, a consequência não seja a uniformização, mas sim a diversidade. Mas, eu próprio não quis deixar passar a oportunidade de pedir ao autor que nos falasse sobre O Delta Literário de Macau (IPM, 2015), livro, igualmente, de sua autoria e que trata a literatura portuguesa em Macau e a presença desta na literatura portuguesa. O autor pretendeu com esta obra valorizar os diálogos com muitos outros escritores portugueses que chegaram ao Oriente, alguns a Macau, e que nos legaram pedaços de literatura, uns mais marcados de exotismo orientalista, outros mais distantes dessa “cilada” da escrita. De Camões e Fernão Mendes Pinto até Ruy Cinatti e Maria Ondina Braga, passando por Bocage e Tomás Ribeiro, por Camilo Pessanha e Wenceslau de Moraes, por Alberto Osório de Castro e António Patrício, nenhum escapou à atenta análise de Seabra Pereira. Estes e muitos outros que tiveram Macau por sua terra natal ou por sua terra adoptiva, até aos que ainda hoje escrevem com o delta do rio das pérolas no coração.
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