Lisboa quinhentista1

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nova portugalidade
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LISBOA QUINHENTISTA – 1
A capital da novidade

A Lisboa de hoje, que se começa a afirmar como cidade de tradição cosmopolita, dá-nos apenas uma ténue ideia do ambiente que ali se vivia no auge da Expansão, em pleno reinado de D. Manuel I. Basta olhar o esvaziado Tejo e imaginá-lo coalhado de centenas de velas das mais diversas feituras e tamanhos, para perceber o quanto perdemos em não lhe devolver a vida que merece.
A Lisboa de Quinhentos, com as limitações da época, apresentava uma síntese do mundo, ali representada nas suas vertentes antropológica, botânica e zoológica. Era então a capital da novidade. Não só aqui chegavam os mais estranhos produtos do reino mineral e vegetal, “tesouros das entranhas da terra”, como espécies animais nunca vistas e raças e culturas humanas das quais só muito remotamente se ouvira falar.
Sentados nos seus tronos, os reis da nova dinastia gostavam de se rodear por estrangeiros que tinham preciosos conhecimentos a transmitir-nos. Começaram por vir da vizinha Europa, mas bem cedo eram já de um continente recentemente descoberto e de um Oriente até então quase inacessível.
Remessas de escravos à parte, que isso obrigaria a uma outra abordagem, arribariam “ranchos de negros”, desde prelados abissínios a filhos de reis e caciques do Senegal e da Guiné, “enviados para aprender os usos dos portugueses”. O viajante alemão Sebastian Munster menciona-os no seu relato de viagem, dizendo que alguns deles “se baptizaram e foram estudar para padre”. As conversões eram então a obsessão da época. E apesar de difíceis de obter entre “o gentio da Índia”, arreigado que estava a uma inabalável cultura, documentos coevos referem “um indiano recém baptizado com o nome António da Costa, o qual, dois anos após a conversão, mostrou tais disposições, que Afonso Albuquerque enviou ao reino”. Sabe-se que desembarcou são e salvo em Lisboa, visto que, em 1514, o rei ordenou que lhe fizessem “um capuz pelote, de preço de 250 reais o covado e umas calças de gardalete”.
Joaquim Magalhães de Castro