Lisboa quinhentista 2

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Nova Portugalidade
17 mins ·

LISBOA QUINHENTISTA – 2
Os exóticos visitantes
Sabe-se da presença na Lisboa quinhentista de um xeque, feito prisioneiro em Dalaca, no Mar Vermelho, para dar notícias sobre as terras do Preste João, e de vários pilotos árabes do estreito de Bab-el-Mandeb, tendo um deles sido definido por Afonso de Albuquerque, que o capturara, como “um homem maravilhoso”. Para além de voluntários à força e de reféns, retidos muitas das vezes sob o disfarce de ilustres convidados, abundavam presos políticos, considerados pelos vice-reis, governadores e capitães de fortaleza, como um entrave à segurança dos novas possessões. Entre eles saliente-se Raix Xarafo, guazil de Ormuz. Apesar dos crimes cometidos no sua terra de origem viveu em Lisboa uma vida requintada sem nunca se dar ao trabalho de aprender português, porque, dizia ele, “homem de honra nunca troca sua língua pela a alheia”.
Dos espíritos aventureiros, sedentos de conhecer a faustosa corte de que todo o mundo falava, há que dar especial destaque a um chinês que em 1512 viajou até Malaca com o intuito, como escreve o cronista, de “ir ver El-Rei nosso Senhor”. Dele, sabe-se apenas que aguardou durante vários meses embarque para o Reino em Cochim e nesse compasso espera “foi contemplado com duas camisas de algodão para se vestir e 1500 reais para a ajuda das despesas de viagem”, como nota a inglesa Elaine Sanceau, apaixonada pela história da Expansão, que deste e outros curiosos factos dá notícia num pequeno livro da velhinha Livraria Civilização que em tempos encontrei num alfarrabista.
No rol de visitantes constavam vários convertidos, entre os quais o embaixador do rei de Ormuz chegado a Portugal em 1513 e que trazia como presente para D. Manuel duas onças caçadoras. Não só se converteu, “a pedido do rei”, como se fez cidadão nacional e foi como tal que regressou ao Golfo Pérsico. Ao relatar tudo o que vira no reino ocidental causou bastante espanto e maior incredulidade, não faltando quem dissesse que “lhe tinham dado beberagem com que visse aquelas cousas” e que mentia simplesmente “porque se tornara cafre cristão”.
Infelizmente não chegou até nós qualquer livro de impressões destes exóticos viajantes. Que interessante seria saber o que sentiram eles durante a sua estada em solo chão lusitano.
Joaquim Magalhães de Castro